Crítica – Filme: A Teoria de Tudo, de James Marsh

teoria de tudo
Foto: Divulgação.
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Com narrativa quadrada, A Teoria de Tudo revela vida privada do gênio da física Stephen Hawking

A temporada de premiações de 2015 chegou para fazer justiça e celebrar nomes importantes da ciência e tecnologia. Dois longas sobre a vida de cientistas estão entre os principais indicados ao Oscar, O Jogo da Imitação, sobre o matemático Alan Turing e este A Teoria de Tudo, que mostra a vida do físico Stephen Hawking. Em comum, ambos se arriscam pouco na narrativa para trazer histórias bem contadas, mas de baixa complexidade artística.

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A imagem de Eddie Redmayne como o físico inglês Stephen Hawking entrará para a história como uma das interpretações mais memoráveis do cinema. Mas a força de sua atuação está anos-luz de distância do acanhamento estético da direção de James Marsh. Como um telefilme didático e quadrado, o filme falha em problematizar e avaliar a importância do personagem retratado. É um mal de todas as biografias: comprimir décadas de uma vida excepcional e cheia de reviravoltas em pouco mais de duas horas de projeção.

Com isso, apesar de um roteiro que prioriza o relacionamento de Hawking e sua mulher, Jane (Felicity Jones, ótima), A Teoria de Tudo não consegue adentrar o suficiente dentro da mente de Hawking, o que vai criando certa distância do espectador para a história. Baseado no livro da ex-esposa do físico, Jane Wilde, o filme tem como maior objetivo mostrar o lado humano e cheio de superações de um dos maiores físicos teóricos desde Albert Einstein. O diretor consegue revelar uma personalidade que apenas fãs e pessoas mais próximas conheciam: um homem de bom humor, sagacidade e que sabe se divertir apesar da rara doença degenerativa que lhe tirou os movimentos do corpo e a fala.

Real e ficção: filme se destaca pela similaridade. (Divulgação).
Real e ficção: filme se destaca pela similaridade. (Divulgação).

É também um filme sobre Jane, mulher que precisou superar preconceitos e projeções pessimistas para viver um amor dado como natimorto por muitos. Teve três filhos com Hawking em um casamento cheio de privações, mas também ótimos momentos. Ela conheceu o físico em Cambridge, onde estudava literatura, quando ambos tinham apenas 21 anos. Seu apoio foi determinante para criar o ambiente favorável que fez o físico superar barreiras físicas e criar obras importantes como Uma Breve História do Tempo. Pelo retrato humano, frágil, mas também forte, que criou de Jane Wilde a atriz Felicity Jones recebeu sua primeira indicação ao Oscar.

Já Eddie Redmayne, também indicado ao Oscar, tem como maior mérito o uso de uma interpretação sem arroubos e feita sobretudo através de uma linguagem corporal cheia de detalhes. É uma encarnação quase assombrosa de alguém que todos conhecem bem e por isso ele tem feito uma devassa na maioria dos prêmios dessa temporada: venceu o SAG Awards e o Globo de Ouro, só para dizer alguns.

As descobertas científicas ocupam uma parte do filme, mas ficam em segundo plano no plano A do diretor em mostrar um lado privado de Hawking ainda pouco explorado. Pena que a narrativa tenha tornado o filme “fofo”, com uso de pequenos clichês dramáticos e quase nenhuma surpresa. Uma cinebiografia de um gênio como Stephen Hawking talvez pudesse forçar mais as barreiras. Mas, Marsh preferiu não dar bola para variáveis. [Paulo Floro]

teoria de tudoA TEORIA DE TUDO
De James Marsh
[A Theory Of Everything, 2014 / Universal]

7,0