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Crítica: Dua Lipa traz um pop impecável e dançante em “Future Nostalgia”

Buscando referências retrô, a artista britânica cria um disco moderno com ares de clássico

Crítica: Dua Lipa traz um pop impecável e dançante em “Future Nostalgia”
4.5

Um dos álbuns mais aguardados de 2020, Future Nostalgia, de Dua Lipa, chegou de maneira não prevista devido a um vazamento integralmente na internet. Diante dessa ação, a cantora resolveu antecipar o lançamento para não sair ainda mais prejudicada em relação ao seu planejamento. O que não se esperava, entretanto, era o sucesso e todo o glamour retrô dessa nostalgia futurística. O disco foi, de longe, o lançamento de maior impacto no pop este ano.

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O novo trabalho de Dua Lipa, que já vinha sendo anunciado por singles promocionais e performances em eventos musicais e programas de televisão, é recheado por um som chiclete e viciante dos anos de 1990 e 2000, afastando-se do trap e de produções pop atuais. Future Nostalgia é, antes de tudo, uma ode à discoteca e anos dourados da música pop. Em meio a um cenário mundial de muita tensão devido à pandemia do novo COVID-19, o álbum serve como uma excelente válvula de escape para dançar em casa e, posteriormente, nas casas noturnas.

Arriscando-se a buscar referências mais nostálgicas, o álbum caiu no gosto popular desde o lançamento de “Don’t Start Now”, com lindos graves e sintetizadores, o que, muitas vezes, nos lembra uma sonoridade estilo Cher. A energia de Dua Lipa, desde a era début, se manteve presente, mas ressignificada, não só no estilo musical, mas em letras profundas. Nesta música, por exemplo, em meio a uma pista de dança, Dua mostra-se plena e uma mulher que não depende de migalhas do amor de nenhum homem, em trechos como estes: “Já estou bem/ Então, sigamos, é assustador/ Eu não estou onde você me deixou, então…”.

Dua Lipa traz oito faixas com um mesmo pano de fundo e as converge em uma celebração àquilo que a inspira desde sempre: um pop cuja proposta conceitual é um olhar emancipatório (tanto na questão de gênero, mas também nos relacionamentos). Ela também utiliza clichês com inteligência e qualidade, como provam suas músicas com o tema “amor”, que ganha uma roupagem dance e atraente, sem deixar o tema “cafona”.

Claro, algumas faixas são cansativas, mas normal para um álbum, que tem altos e baixos – o que não quer dizer que seja ruim. “Cool”, embora traga referência de um electro-pop, soa repetitiva e distante em qualidade do restante do álbum, além de ser uma quebra de clima no meio do álbum para quem esperava se remexer.

“Physical”, outro single acompanho de clipe, começa de forma muito familiar, remetendo a uma sonoridade também explorada por Madonna em Confessions on the Dancefloor, mais especificamente, as músicas “Hung Up” e “Sorry”. A faixa mostra um amadurecimento e estilo que combinam com Dua Lipa e que deixaria muitas cantoras da Era Disco muito orgulhosas, inclusive Olivia Newton-John.

Algumas outras músicas ficam escondidas no álbum, mas também merecem destaque, seja pela produção e composição, como também pelos temas. É o que acontece, por exemplo, com “Levitating”, com várias camadas de vocais, além de ter um pé no estilo R&B, ao som de longas guitarras. Além dela, “Hallucinate” se destaca como uma das melhores faixas deste álbum, com usos dos graves misturados ao autotune.

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“Pretty Please” e “Love Again”, por exemplo, são outras canções mais lentas e sussurradas, que lembram muito os anos 2000 e trilhas de filmes da Disney. A primeira, com batidas mais lentas, nos traz como referência um pop rock a la Prince. A segunda, por exemplo, é uma baladinha mais intimista, estilo Donna Summer, com violinos e notas agudas moderadas. Um estilo de música anos 1970, cuja pessoa ouviria a caminho da balada. “Future Nostalgia”, faixa-título, aclama por um futuro, mas que recorre à referências sonoras do passada para dar certo.

“Good in Bed” é mais melancólico, também numa pegada mais R&B e que, até nos vocais, você consegue relembrar de Amy WineHouse. Mas, sem dúvida, “Break my Heart” é a melhor música do álbum. Um amor que quebrou o coração tornou-se trilha sonora para uma balada viciante e impecável, com ecos oitentistas, capaz de atrair a atenção pelo jeito debochada de Dua Lipa diante todo o clipe e alguns sussurros no pré-refrão.

Com seu pop retrô festivo e moderno, Dua Lipa acabou criando um futuro clássico do pop.

DUA LIPA
Future Noslgia
[Warner, 2020]

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