Cinema Fantasmagórico

narnia

MUY ALÉM DO BEM E DO MAL
Novas obras voltadas ao público infantil evidenciam influências pra lá de assustadoras
Por Raphaella Spencer

O bem, uma figura onipresente que ninguém vê mas todos sentem, prestes a voltar e acabar com o império do mal, instalando em seu lugar a alegria e o bem dos quais são dignos só os mais honrados. Não, esse não é um texto bíblico. Mas sim a premissa dos principais clássicos de literatura fantástica que há tempos conquistou telonas graças a tecnologias e efeitos especiais vem dando caras, nomes e texturas aos seres encantados, antes só existente na imaginação de seus leitores.

As Crônicas de Nárnia: Principe Caspian, segundo filme da série dirigido por Andrew Adamson, a trama se apresenta mais densa, com mais ação e dialoga mais com o público adulto que a exibida em O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa, de 2005. Inspirados na obra do inglês C.S Lewis, autor dos sete livros que formam a coleção, o filme segue o rastro de grandes sucessos anteriores – o principal deles é a trilogia Senhor dos Anéis que chegou às telonas entre 2001 e 2003, foi dirigida por Peter Jackson, os filmes trazem para as telas uma releitura das mais de 1.000 páginas que formam a obra do autor J.R.R. Tolkien. Contemporâneos, ambos os autores ingleses têm uma biografia permeada pela religiosidade e utilizaram a criação de universos fantásticos para disseminar a crença numa postura diante da vida, claro regada de muita fé.

Com um discurso um pouco menos vínculado a religiosidade, mas também muito importantes para um entendimento de como surgiram essas histórais que invadem a tela grande estão os Irmãos Grimm. A obra dos Grimm ganhou uma releitura em 2005, nas mãos de Terry Gilliam (lembrado também pela direção de Brazil, comédia utópica ao som de Aquarela do Brasil). No Will (Matt Damon) e Jake Grimm (Heath Ledger) são golpistas que aproveitam-se da ingênuidade do povo francês para ganhar dinheiro enfrentando monstros e bruxas. Na vida real os Irmãos Grimmn, foram dois importantes pesquisadores alemães que tentaram resgatar a história de seu país através da tradição oral de seu povo. Compilando num livro de contos lendas e folclores. É de responsabilidade dos Grimm algumas dos mais importantes clássicos da literatura infantil, entre eles: Chapéuzinho Vermelho, João e Maria e Rapunzel.

Mas não dá pra fazer um panorama do cinema fantástico sem falar do fenômeno Harry Potter. A série foi criada pela escritora britânica J.K Rowling (mulher mais rica da história da literatura com mais 300 milhões de exemplares vendidos). Desde A Pedra Filosofal, lançado em 1997 e adaptado para o cinema em 2001, foram publicados mais seis livros. O quinto filme da saga será lançado em novembro. Harry Potter e o Enigma do Príncipe traz a história do sexto ano de Harry Potter na escola de magia de Hogwarts. Apesar da adaptação do livro final Harry Potter e as Relíquias da Morte, publicado em 2007, só está prevista para 2010, já dá pra afirmar pela história do livro que o bruxinho que cresceu com seus espectadores terá sim um final feliz.

Mas nem todos os grandes filmes fantásticos são fruto de adaptação de histórias literárias. Em 2006, o diretor Guilherme del Toro, nos brindou com o sombrio Labirinto do Fauno. O filme conta a história da pequena Ofélia (Ivana Baquero), obrigada a viver com seu padastro, o capitão Vidal (Sergi Lopez), membro das forças fascistas do general franco, num acampamento no meio de uma floresta encantada, onde será guiada por um fauno assustador de volta a seu reino, do qual descobrirá que é a princesa perdida há várias gerações. Apesar do enredo mágico, o filme é bem denso com momentos cruéis e traz trechos que discutem assuntos importantes como: as agruras da vida num regime ditatorial e o dilemma entre uma vida difícil ou uma morte libertadora.

Não precisa ir longe para saber que sempre houve e haverá espaço para o cinema do faz de conta. Para os adultos que acham essa uma arte feita para crianças fica um desafio: que tal rever o sempre mágico História Sem Fim, 1984? Mesmo com 25 anos de defasagem tecnologica, continua fascinante somente pela sua história. No enredo, um garoto chamado Bastian rouba um livro chamado História Sem Fim, toda vez que ele revisita a narrativa acaba interferindo no destino de seus personagens, que vão desde Fuchur, o cão alado, passando pelo Dragão do Destino, até o Homem de Pedra, qualquer jovem com seus vinte e poucos anos já quis ser Bastian e não vai poder negar que também se deixou levar pela magia que envolvia a história.

[+] A FUNÇÃO DO MONSTRO NA NARRATIVA