Bloco feminista Essa Fada chega ao terceiro Carnaval no Recife

essafada

essafada

O Carnaval engajado e ativista ganha reforço com mais um desfile do Grêmio Anárquico Feminístico Essa Fada, já em seu terceiro Carnaval. A concentração acontece na Casa Astral, em Casa Forte, nessa quarta (22) com discotecagem de DJ Zenzi e Joana Pires, do #DeixaElaEmPaz. Depois o bloco sai pelas ruas do Poço da Panela, Zona Norte do Recife.

A proposta do Essa Fada é a defesa da liberdade feminina e do fim do julgamento machista do comportamento das mulheres. Este ano vai rolar distribuição gratuita de preservativos femininos. “As mulheres são donas do seu corpo, e livres para assumir todas as escolhas inclusive sexuais, não precisam depender de parceiros para se proteger”, defendem. O grupo ainda endossa a campanha #Aconteceunocarnaval, uma parceria entre a Rede Meu Recife e a organização Mete a Colher que vai reunir denúncias de violência e assédio e propor políticas públicas de enfrentamento.

O Essa Fada está entre os blocos feministas que vão atuar na divulgação da campanha. No desfile do bloco serão distribuídas fitinhas (como a do nosso Senhor do Bonfim) com a tag da campanha, para que as mulheres possam usar essa fita e se identificarem como ajudadoras para alguma outra mulher que tenha sofrido assédio.

No final do ano passado o grupo realizou uma prévia com a participação das ex-comadres fulozinhas Karina Buhr, Isaar e Aishá, uma formação de percussionistas que trazia ainda a cantora Andreza Karla, filha de Aurinha do Côco e Nerisvanda Rodrigues, trombonista da Orquestra 100% Mulher. No Carnaval de 2016, o bloco realizou o lançamento mundial da turnê do Ladama Project, projeto femininos com instrumentistas de diversas partes das Américas. O Ladama, da percussionista pernambucana Lara Klaus, inclusive em segunda turnê nos EUA.

Além da prévia, o grupo desfila na segunda-feira de Carnaval, nas ladeiras de Olinda. Como o desfile na prévia é gratuito, a renda para os custos do bloco é fruto da venda de vestidos (R$45) e camisas (R$30), disponíveis na loja Etiqueta Verde (EV Store), na Rua Conselheiro Portela, no Espinheiro.

Veja o manifesto do grupo:

Manifesto | Essa fada não se importa com o que pensam

O Carnaval é aquela efeméride da catarse coletiva. Estão liberados os prazeres contidos, as personas incautas, o desvario em todos os seus excessos. A carne é de carnaval, o coração é igual. Mas a carne mais barata do mercado é a nossa e, de certo, o coração o mais vagabundo também. E eis aquele paradoxal julgamento social nosso de cada dia: nossos corpos devem ser louváveis, disponíveis como caças, entretanto, nosso comportamento, bem, esse deveria ser irretocável como prezam a moral e os bons costumes.

Entre as fantasias erótico-carnavalescas, há tantas projeções domésticas e servis, sempre hiper sensualizadas, da nossa condição feminina como enfermeiras, empregadas, freiras, colegiais, princesas, camponesas, coelhas, anjos. Nesses papéis, dissimulamos inocências em vestes nada pueris, e mantemos no jogo aquela imagem de perfeição e doçura, mesmo que numa provocação por pura ironia. No fundo, reproduzimos o que esperam que sejamos, mesmo que de faz de conta: boazinhas.

Mas há melhor cenário para colocar em prática o adágio de que as boazinhas vão para o céu, mas as outras vão aonde quiserem? Assim, nós, mulheres que queremos ser o que nos aprouver, somos qualqueres, ordinárias em quereres, somos essas, somos aquelas, somos tantas, somos todas as possibilidades de ser. Essas que rompem padrões, essas que não se submetem, essas que lutam, essas que buscam suas próprias expectativas ao invés de atender às alheias. Essas de corpo e mente livres. Sou dessas mulheres que dizem sim, sou essa que voa.

E assim, num ode à nossa liberdade selvagem, numa alegoria de divindade e alegria brincante que herdamos da natureza, sejamos fantasiosamente fadas, com o poder de realizar os próprios desejos, alçar voos e darmos conta (somente a nós mesmas) dos nossos prazeres. Sejamos imortais na nossa safadeza, na nossa natural lascívia que tanto tentam nos tolher no corte de asas. Todas que livres habitam e cintilam nessa fauna chamada humanidade, sejam bem-vindas ao Grêmio Anárquico Feminístico Essa Fada. Vamos espalhar Pó de Sim até a quarta-feira de cinzas.