BK‘
Diamantes, Lágrimas e Rostos Para Esquecer
Gigantes, 2025. Gênero: Rap
BK’ é um dos rappers mais importantes do Brasil hoje. Com carreira sólida, o artista carioca gradualmente se converteu em ícone e cimentou esse posto com o disco Icarus (2022), que foi um projeto bem recebido tanto pela crítica quanto pelo público. Agora, em Diamantes, Lágrimas e Rostos Para Esquecer, tive a impressão de que este chega como o primeiro álbum de BK’ onde tem consciência da relevância que ele tem.
Esse é um movimento que me parece comum: artistas bem-sucedidos colocam a sua trajetória em perspectiva e percebem o legado que estão construindo. A partir da autorreflexão, fazem um disco onde olham para si. O DLRE é um álbum feito em primeira pessoa, e não só porque os versos são narrados na primeira pessoa, mas é porque tudo está associado a BK’. É um disco para dar vazão a autopercepção, com um tom confessional muito pronunciado.

Sendo um trabalho quase autobiográfico, DLRE é um álbum essencialmente individualizado e isso cria tensões interessantes com o próprio gênero ao qual ele pertence. O rap tem um laço histórico com as denúncias sociais e a luta coletiva, e é neste ponto que BK’ se divide e se contradiz no seu disco. Aqui o rapper consegue tecer reflexões sobre as questões entre ascensão social e fidelidade às raízes, um dilema quase geral quando nos referimos a pessoas negras que conquistam a ascensão social.
Essa autorreflexão intensa também aparece no aspecto visual do álbum, que ganhou um curta-metragem gravado na Etiópia, terra-natal de Abebe Bikila, maratonista do qual BK’ recebeu o nome como uma homenagem. A ida ao lugar que o batizou é outro aceno em direção ao tom biográfico da obra, como se o rapper procurasse por ele mesmo.

Para acompanhar essa busca pelas origens, a produção do disco também olha para o passado da música afrobrasileira e utiliza samples e interpolaões de artistas como Milton Nascimento, Pretinho da Serrinha e Evinha, que inclusive rende o melhor uso de sample na faixa “Caco de Vidro”, parceria com Kolo. Uma produção ousada e interessante para um álbum de rap, que se permite absorver de outros estilos.
No entanto, acho que o DLRE cai em uma contradição nesse aspecto: apesar do grande volume nas faixas, sinto falta de mais explorações com o samples. Se a proposta era explorar e resgatar a música brasileira, o que não faltam são boas referências para serem resgatadas, ainda mais em disco com 16 faixas – que, para mim, vai além do limite quando falamos da extensão de um álbum.
Diamantes, Lágrimas e Rostos Para Esquecer é um exemplo de boas obras com um alta carga pessoal que nos ensinam mais sobre quem está por trás dele, sobre suas certezas e, principalmente, sobre as incertezas e os dilemas. Um acerto grande para BK’ .
Ouça BK’ – Diamantes, Lágrimas e Rostos Para Esquecer
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