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Feist retorna contemplativa, mas combativa, em Multitudes

Musa indie-pop, cantora desacelera a busca por hits em um disco que se destaca pelos arranjos complexos e intimistas

Feist retorna contemplativa, mas combativa, em Multitudes
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Feist
Multitudes
Interscope, 2023. Gênero: Pop.

A cantora e compositora canadense Feist retorna neste sexto disco com um conjunto de canções que chama atenção pela delicadeza e detalhes de seus arranjos. Em um era de forte concorrência na disputada economia de atenção dos usuários, a artista aposta em uma experiência imersiva, centrada nos detalhes e na interpretação vocal neste Multitudes.

Feist começou a carreira como parte da banda Broken Social Scene, um dos grupos de destaque da cena de rock alternativo dos anos 2000. Já como artista solo ela experimentou diferentes propostas estéticas, mas ficou mais conhecida pelo estouro pop que viveu em seu início, com hits até hoje lembrados como “1234”, “I Feel It All” e “Mushaboom”.

Cinco anos sem lançar trabalhos inéditos (o último foi Pleasure, de 2017), Feist inicia uma nova fase em que explora uma sonoridade muito marcada pelo detalhe. Essa sua fase mais intimista funciona como um convite à reflexão desses tempos, duros, marcados pela violência, como demonstram as letras de Multitudes, quase todas muito assertivas e até mesmo políticas.

“Hiding Out In The Open” traz a voz da cantora sobrepostas em diferentes variações para falar da cacofonia dos dias atuais, do excesso de informação. “Forever Before”, com um vocal quase alcançando o ASMR, traz um comentário sobre tempos de incertezas. “O que falta acabar para o ‘para sempre’ começar?”. Mas, em seguida, reafirma a necessidade de se enfrentar tudo de frente: “Fear … fearless … oh fear … fearlessness”.

A faixa resume bem o espírito do disco. O intimismo de Feist não significa uma alienação ao seu redor. Ao contrário, é um chamado para ver as coisas mais de perto, sem pressa. “Song For Sad Friends”, que encerra o disco, traz uma letra que busca reconfortar amigos em momentos difíceis, mas sem comiseração: “as coisas estão ruins, meus amigos”, diz ela. O conforto muitas vezes não chega para fazer esquecer, mas enfrentar as coisas de frente. “Você está se sentindo exatamente como deveria. A partir daqui vamos realmente começar”.

Em seu disco mais maduro, Feist comenta sobre um mundo em colapso ao mesmo tempo em que experimenta novas sonoridades carregadas pela amplitude de sua voz, que segue uma das mais reconhecíveis e interessantes do indie-rock.

Ouça Feist – Multitudes

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Feist: olhando as coisas de frente. (Foto: Sara Melvin & Colby Richardson/Divulgação).

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