DJ Anderson do Paraíso
Queridão
Nyege Nyege Tapes, 2024; Gênero: Funk, Eletrônica
DJ Anderson do Paraíso é dos nomes responsáveis pela expansão do funk como gênero musical, desenvolvendo o estilo regional do ritmo em Belo Horizonte e sua região metropolitana, onde nasceu e vive até hoje. Assim como o mandelão, o funk bruxaria, o automotivo e o brega funk, a música produzida por DJ Anderson – também conhecido como “O Queridão” – tira suas inspirações do funk carioca mas surge com algo característico todo seu, um sabor altamente distinto (e inventivo).
O funk de BH passa longe da construção frenética tão comum nas outras facetas do gênero. Os beats rápidos, do agudo e o tuim perdem protagonismo para os graves e um ritmo mais espaçado, sem muitas camadas; o que não significa que seja menos envolvente.
Mas as semelhanças com seus ritmos-irmãos segue nas letras. Os bailes, o sexo, as drogas, todo esse universo é presença forte nas faixas do Queridão, tanto da perspectiva masculina como da feminina. “Paty Trem Barbie”, com vocais da MC Magrella é um exemplo de como as mulheres também tomam o lugar do desejo como o eu-lírico sexual.
Na sua atmosfera austera e lenta, DJ Anderson incorpora instrumentos clássicos, uma substituição inusitada para a multiplicidade de sons eletrônicos tão comuns no funk. Violinos como os de “Se Faz de Santinha” e instrumentos de sopro como trompetes e clarinetes de “Joga Leite”; esses são os objetos que o produtor mistura com os graves e beats metálicos.
Outra incorporação astuciosa do DJ está em “Chama Suas Colegas”. O uso dos sinos e do canto gregoriano são (no mínimo) subversivos quando usados em uma música tão explícita. Essa ousadia, inclusive, evidencia o tom soturno das produções do DJ.
De maneira semelhante ao funk bruxaria de São Paulo, a vertente mineira parece se inclinar a uma sonoridade perturbadora, underground. A diferença é que o funk bruxaria chega a ser perturbador pelos sons quase ensurdecedores, como se quisessem atordoar o ouvinte. No caso do Queridão, o tom sombrio domina a produção, com a lentidão e o ritmo hipnotizante, e as vezes se inclinando até a tensão mais aguda como em “União Dos Rlk”.
A originalidade do trabalho de DJ Adriano do Paraíso é um dos destaques do funk brasileiro recente. É a construção de um novo ritmo que só deixa claro as muitas possibilidades que o gênero ainda nos reserva. Uma forma ousada de se expressar, brincando com as fórmulas dentro do gênero, conquistando a atenção pela subversão.
Ouça Queridão, de DJ Anderson do Paraíso
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