Crítica – Disco: Mourn | Mourn

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Foto: Lita Bosch.
Foto: Lita Bosch.
Foto: Lita Bosch.

RUDE E URGENTE
Quarteto catalão Mourn, formado por adolescentes, revela a fúria verdadeira esquecida do rock

Por Paulo Floro

A banda de Barcelona Mourn tem a seu favor o fato de estar ciente da própria ingenuidade e da crueza de sua proposta artística. Todos ainda na adolescência eles decidiram entregar um disco pouco burilado, com letras rudes de tão simples e uma pegada noise que lembra bastante o ímpeto punk dos anos 1970-80.

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Este trabalho de estreia captura este momento único da banda, que agora tem o desafio de manter o mesmo espírito ao longo de sua evolução. É difícil ser tão fiel aos sentimentos como fazem esse quarteto de garotos espanhóis. Cantando em inglês eles criaram um disco curto de cerca de 20 minutos em 11 faixas, começando com a deliciosamente enfadonha “Your Brain Is Made of Candy” e finalizando com a sorumbática “Silver God”.

Inspirados em PJ Harvey, Sebadoh e outros alicerces do rock alternativo eles chamaram atenção após lançarem uma série de músicas em seu canal do YouTube. Formado inicialmente pelos amigos Jazz Rodríguez Bueno e Carla Pérez Vas, ambos com 18 anos, guitarras e vocais, eles recrutaram em seguida Leia, 15 (baixo) e Antonio Postius, 18 (bateria). A gravação do disco durou apenas dois dias e foi logo lançado pelo selo espanhol SONES.

O disco do Mourn é uma lembrança interessante do quanto as entranhas do rock ainda conseguem gerar em fúria criativa e sentimentos verdadeiros. Afastados do experimentalismo e desafios estéticos, eles se afundaram no que o gênero tem de mais sólido. O timing do lançamento coincide com o retorno do Sleater-Kinney, outra referência desses catalães, que fez um dos melhores discos do ano até agora também se apoiando no rock mais básico.

No caso do Mourn, sem nenhum anteparo político ou escopo dentro de uma cena musical específica, a visão que fazem do gênero se apresenta bem conservadora. Não devemos esperar nenhuma contribuição ao gênero vindo desses garotos, mas eles encantam por essa urgência em se fazer ouvidos e pela paixão cega.

Ainda que não apontem nenhum novo caminho nem lancem tendência, o Mourn cria um laço com o ouvinte pela dose de verdade que exprimem neste registro. E estão longe de um saudosismo ou algo esteticamente fabricado, o que já é muita coisa. Pelo momento sincero que documentaram, é um álbum que vale a audição.

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Mourn
[Captured Tracks, 2015]

7,0

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