By Design Still1 H 2025
Foto: Divulgação.

“By Design”: Juliette Lewis se torna uma cadeira em comédia apática sobre os dias atuais

Longa traz uma crítica rasa à superficialidade e foi exibido no último Festival de Sundance

“By Design”: Juliette Lewis se torna uma cadeira em comédia apática sobre os dias atuais
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By Design
Amanda Kramer
EUA, 2025. 1h32. Terror/Drama. Sem distribuição ou previsão de estreia no Brasil
Com Juliette Lewis, Robin Tunney, Samantha Mathis

A obsessão por posses e a inveja são dilemas da condição humana que nos perseguem em todas as gerações. Com a dominância de plataformas como Instagram, Facebook, e Tiktok no dia a dia da sociedade contemporânea, que se dizem redes sociais, a exaltação ao consumismo e à inveja pelo o que outro é ou possui tem moldado uma sociedade onde seus integrantes estão cada vez mais isolados e com um comportamento anti-social. Este é o tema de By Design, o novo filme da diretora norte-americana Amanda Kramer (Please Baby Please), que estreou na seção “Next” do Festival Sundance 2025. O longa é estrelado por um elenco de peso e conta com uma das queridinhas dos anos 1990 e 2000, a atriz Juliette Lewis (Assassinos por Natureza), no papel de Camille. 

By Design navega pelos gêneros de fantasia, comédia, horror e drama, explorando a troca de corpos que lembra o conceito do recém sucesso de bilheteria e recebedor de múltiplas indicações ao Oscar 2025, A Substância, de Coralie Fargeat. Diferente do horror do filme de Fargeat, Kramer aborda a troca de corpos entre uma mulher e uma cadeira, ao invés de duas pessoas. Além disso, o foco aqui é o horror psicológico em vez do gore e da violência gráfica. 

By Design conta a história de Camille, uma mulher de meia-idade que vive sua vida no automático com suas amigas Irene e Lisa, interpretadas por Robin Tunney (The Mentalist) e Samantha Mathis (Psicopata Americano). Elas se reúnem diariamente para falar sobre a vida e visitar lojas. Em meio a essa rotina Camille se sente isolada e invisível até que, ao visitar uma loja de design com suas amigas, ela se apaixona por uma cadeira única que chama a sua atenção. A sua fascinação pela cadeira é percebida por suas amigas e outras clientes presentes na loja que começam também a idolatrar a cadeira. Camille quer muito comprar o objeto, mas precisa repensar suas economias e voltar para efetuar a compra no outro dia. Ela estaria sacrificando meses da sua alimentação para poder adquirir o produto de desejo. 

Ao retornar a loja no dia seguinte, Camille descobre que a cadeira foi comprada. Ela, no início, pensa que, por inveja, a compradora foi uma das suas amigas, mas logo descobre que foi outra cliente. Angustiada e desesperada, ela pede à vendedora para olhar e tocar a cadeira uma última vez antes do produto ser entregue ao destinatário final. Em um momento mágico no filme, repetindo o clichê de outros filmes de trocas de corpos e vidas, Camille deseja ser a cadeira por três vezes e tem seu desejo concedido. Ela começa a se comportar como um objeto inanimado, sem falar ou se mover. 

De repente, Camille passa a chamar a atenção das suas amigas e família. Agindo como um objeto, como se fosse um zumbi, Camille não tem nenhuma reação nem mesmo quando a sua mãe lhe confessa traumas fortes do seu passado. Ironicamente, Camille deixa de ser invisível e passa a ser amada por todos que querem uma reação dela. Suas amigas entendem que para conseguir dela alguma reação elas vão precisar da cadeira que a amiga tanto gostou. Elas conseguem encontrar a cliente que comprou a cadeira, mas a tal cliente, Marta, tinha presenteado a cadeira ao seu ex-namorado, Oliver. O rapaz que, como Camille, também se sentia invisível, acaba se apaixonando pela cadeira, despertando o ódio de Marta. O filme vai então sobrepondo várias camadas de comédia, drama, e números de danças coreografadas com o pano de fundo de uma direção de arte impecável digna de um filme almodovariano. 

By Design tenta abordar temas sociais sobre uma premissa até intrigante, mas a plasticidade exagerada do filme para simbolizar, através da paixão pela cadeira, a distância social que o consumismo e a inveja imprimem na nossa rotina, não consegue humanizar a história. A interpretação engessada de todo o elenco, os diálogos superficiais até fazem sentido para o conceito que o filme propõe abordar, porém a sua execução não consegue criar empatia pelos personagens.

By Design vira um daqueles filmes experimentais cheios de camadas que não conseguem utilizar sua confusão para provocar conexão com quem o assiste. O único elemento capaz de aproximar o espectador é a narração concisa e hipnotizante de Melanie Griffith detalhando cada ponto dessa confusa história que é By Design.

Este filme foi assistido durante o Festival Sundance 2025.