“Argylle: O Superespião” tenta unir ação e ironia, mas lhe falta personalidade

Longa de Matthew Vaughn diverte nas sequências de ação nonsense, mas é muito dependente dos clichês de ação que tenta parodiar

argylle
Bryce Dallas e Sam Rockwell em cena. (Foto: Divulgação.)
“Argylle: O Superespião” tenta unir ação e ironia, mas lhe falta personalidade
1

Argylle – O Superespião
Matthew Vaughn
EUA, 2024. 2h19. Distribuição: Universal
Com Bryce Dallas Howard, Sam Rockwell, Henry Boutella, Henry Cavill


A premissa de Argylle, novo longa de Matthew Vaughn tinha muito potencial quando foi anunciado, ainda no ano passado. Uma escritora de romances policiais de sucesso, interpretada por Bryce Dallas Howard, (de Jurassic Park: Reino Ameaçado) passa a se envolver em uma trama real baseada em seus próprios escritos. Vários personagens de seus livros passam a aparecer com suas contrapartes reais em uma aventura que inclui cenas inusitadas de ação e perseguição, além de um elenco estrelado.

Essa narrativa metalinguística parecia destinada a parodiar, ou mesmo ironizar, os clichês de filmes do gênero, porém falha ao não conseguir se desvencilhar justamente daquilo que tenta fazer graça. O longa, ao final, soa como um amontoado de ideias reutilizadas de diferentes longas de ação e espionagem, sem conseguir o charme necessário para soar nem como homenagem, nem como paródia.

Argylle não consegue desenvolver uma personalidade própria que dê conta dos comentários que quer fazer em relação ao subgênero dos filmes de espião, à la James Bond, Bourne, entre outros. A escritora Elly Conway (Howard) é desenvolvida de maneira bastante superficial que mal temos tempo de compreendê-la antes da primeira reviravolta da trama. E o elenco inteiro é igualmente subaproveitado.

Dua Lipa como a agente Lagrange praticamente não tem tempo de tela suficiente para conhecermos melhor suas intenções e personalidade. Em sua grande estreia nas telonas, é uma pena não termos visto mais da cantora em cena. Ariana DeBose (Amor, Sublime Amor) é outra adição bem mal aproveitada, ainda que sua personagem tenha sido bastante destacada nos materiais de divulgação. É praticamente uma ponta de luxo, ainda que suas ações sejam determinantes para a história. Bryan Cranston (Breaking Bad) e Samuel L. Jackson (Vingadores – Ultimato) estão no piloto automático em seus papéis, com um roteiro que explora todos os trejeitos já vistos em seus outros filmes e séries.

O trio de protagonistas, no entanto, demonstra um entrosamento que faz a experiência caótica do longa ser atenuada. Howard é um nome bastante subestimado em Hollywood, mas consegue mostrar versatilidade em vários papéis (e aqui novamente entrega tudo de si, ainda que o roteiro não tenha ajudado tanto). Henry Cavill (The Witcher) cumpre o que se espera de seu papel, que é ser um clichê ambulante do espião fortão e elegante, de ternos chiquérrimos. E Sam Rockwell (Três Anúncios Para Um Crime), como o agente que tira a protagonista escritora da zona de conforto, quebra um pouco nossa expectativa para se tornar um herói improvável nessa narrativa de ação.

Vaughn é um diretor ousado que vinha demonstrando personalidade nas narrativas de ação, com uma marca autoral muito evidente, como é o caso de Kick-Ass – Quebrando Tudo (2010), Kingsman – Serviço Secreto (2014) e mesmo X-Men: Primeira Classe (2011). Mas nos últimos anos têm trabalhos bem aquém, como King’s Man – A Origem (2021) e Kingsman – O Círculo Dourado (2017).

Argylle.
Henry Cavill, Dua Lipa e James Wyatt em cena: potencial perdido. (Divulgação).

Em Argylle, ele mantém sua capacidade de imaginar boas sequências de luta, que flertam com o nonsense, como é o caso de uma divertida cena que mistura dança e fumaças coloridas. O design – assinado por Russell de Rozario e Daniel Taylor – que usa o padrão de xadrez em formato de losango, também soam como ideias interessantes, bem como o gato Alfie, que é tanto um alívio cômico como um amuleto que confere graça à trama.

Mas, em geral, Argylle é confuso em sua proposta de soar irônico ou mesmo metalinguístico. Em algum momento, o longa se assume como uma história de ação convencional se apressa em resolver as pontas soltas e finalizar sua trama. As resoluções são canhestras em alguns momentos, os diálogos bobos e confusos e as reviravoltas desconexas, apressadas. Sem falar de sequências repetitivas que sabemos exatamente como seria finalizadas.

Tido como um dos longas mais aguardados deste ano, Argylle – O Superespião se saiu muito bem no marketing, pois sua antecipação pareceu valer mais a pena do que o filme em si.

Leia mais críticas de filmes