Extermínio: A Evolução
Danny Boyle
UK, 2025. 1h55. Terror, suspense. Distribuição: Sony Pictures
Com Jodie Comer, Aaron Taylor-Johnson, Ralph Fiennes e Alfie Williams
Mais de duas décadas após o lançamento de 28 Dias Depois, Danny Boyle e Alex Garland retomam o universo devastado pela fúria viral em Extermínio: A Evolução, um terceiro capítulo que mescla ambição narrativa com ousadia técnica. Com Jodie Comer, Aaron Taylor-Johnson, Ralph Fiennes e o jovem Alfie Williams no elenco, o filme apresenta uma abordagem mais introspectiva do apocalipse, ainda que tropece na tentativa de equilibrar emoção, simbolismo e ritmo.
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Filmado parcialmente com iPhone 15 Pro Max, o longa chama atenção pela inventividade formal. A câmera leve permite uma liberdade de movimento que Boyle explora com vigor, utilizando ângulos ousados e enquadramentos inusitados que evocam tanto a urgência do primeiro filme quanto uma estética renovada. Há um desejo claro de experimentar, de tensionar os limites do gênero e do formato (algo que confere frescor à direção, mesmo quando a narrativa hesita).
A trama acompanha Spike, vivido por Alfie Williams, um jovem que parte em busca de ajuda médica para sua mãe em meio a um Reino Unido ainda marcado pela contaminação e pelo colapso das estruturas sociais. A história parte de um ponto íntimo e promissor, mas alterna entre momentos potentes de tensão e passagens dispersas, que enfraquecem o impacto geral da jornada. A inconsistência narrativa impede que o filme atinja o mesmo grau de coesão dramática dos antecessores, especialmente 28 Dias Depois.


Ainda assim, há mérito nos personagens. Jodie Comer entrega uma performance sensível e contida, enquanto Aaron Taylor-Johnson imprime fisicalidade e urgência ao protagonista adulto. Ralph Fiennes, como de costume, traz peso ao elenco, mesmo em um papel menos desenvolvido. Alfie Williams, por sua vez, tem destaque na condução emocional do filme, conferindo humanidade a um personagem cercado pelo caos. Os diálogos são pontuados por reflexões sobre identidade, sobrevivência e a natureza das comunidades humanas diante da destruição – temas caros a Garland, aqui tratados com maior ênfase, ainda que por vezes de forma excessivamente simbólica.
O terror segue sendo o principal motor do filme. Boyle não se esquiva da brutalidade, entregando sequências de puro desespero que aproveitam bem a estética crua e o som angustiante. O horror físico se soma a um terror psicológico mais difuso, especialmente na construção de espaços hostis e na sugestão de que a raiva não é exclusividade dos infectados.
Extermínio: A Evolução não é uma repetição direta do passado, nem um rompimento total. É uma tentativa de evolução que se destaca mais pelo estilo do que pela substância. Ainda que falhe em manter um ritmo consistente e por vezes se perca em pretensões temáticas, o filme oferece uma experiência visual intrigante e reafirma a importância da saga como referência no cinema pós-apocalíptico.
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