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Marisa Bela é responsável por interpretar a cantora. (Foto: Divulgação.)

“Back to Black” é apelativo e falha em honrar o legado artístico de Amy Winehouse

A cinebiografia foca no relacionamento frágil e nos momentos de vulnerabilidade da artista

“Back to Black” é apelativo e falha em honrar o legado artístico de Amy Winehouse
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Back to Black
Sam Taylor-Johnson
Reino Unido, 1h47. Gênero: Drama. Dsistribuição: Universal Pictures.


Com uma voz potente que incorporava elementos de jazz, R&B e uma intensidade única, Amy Winehouse deixou um legado artístico de profundo impacto na primeira década dos anos 2000. Apesar de uma carreira marcada por altos e baixos, a cantora britânica conquistou o mundo com sua música potente. Contudo, a cinebiografia Back to Black, dirigida por Sam Taylor-Johnson (de Cinquenta Tons de Cinza), opta por retratar Amy sob uma ótica focada em seu alcoolismo e relacionamentos tumultuados, resultando em uma narrativa superficial e até mesmo desrespeitosa.

Amy Winehouse cresceu em Londres. Os primeiros momentos do longa acompanham a adolescência da cantora e introduzem personagens cruciais para sua trajetória. Este início é apressado, rapidamente movendo-se para sua ascensão no mundo da música. Infelizmente, o filme logo se acomoda em uma perspectiva rasa, desconsiderando a profundidade da carreira de Amy e os desafios artísticos que ela enfrentou.

Back to Black aposta em um roteiro fácil e publicitário

A cinebiografia não demora a apresentar as figuras centrais na vida de Amy. Desde o começo, vemos uma relação carinhosa e de confiança com sua avó, Cynthia Winehouse (Lesley Manville), conhecida carinhosamente como Nan. A mãe de Amy, Janis Winehouse (Juliet Cowan), tem uma presença raramente mencionada e suas aparições são meramente funcionais para o enredo. O foco recai quase exclusivamente sobre Mitchell Winehouse (Eddie Marsan), pai de Amy, que desempenha um papel curiosamente crucial em muitos momentos decisivos.

Blake Fielder-Civil, o futuro ex-marido de Amy interpretado por Jack O’Connell, é introduzido por um encontro em um bar, onde conversas e olhares rapidamente estabelecem um fascínio, principalmente por parte dela. Sam Taylor-Johnson foca intensamente nesse relacionamento frágil, utilizando-o como quase como um ponto central do filme. No entanto, esta abordagem resulta em um tom fraco, onde todos os eventos parecem girar em torno de um “romance” mal explorado. A diretora opta por uma perspectiva limitada, apresentando ambos como pessoas complicadas e mantendo a narrativa nos aspectos destrutivos do casal.

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Foto: Divulgação.

Embora seja válido explorar os aspectos dos sentimentos de Amy e Blake, especialmente sob a constante pressão da mídia, a escolha de fazer desse relacionamento o núcleo do filme parece fácil e, até mesmo, preguiçosa. A jornada da artista é retratada quase exclusivamente através do prisma de seus desequilíbrios e vícios. As cenas de abuso de álcool e drogas são angustiantes, mas a profundidade dessas questões é limitada ao raciocínio simplista de que ambos eram pessoas difíceis. Blake, neste contexto, assume um papel passivo, visto apenas como parte de um amor inacessível.

Boa interpretação dentro do possível 

Em Back to Black, a atriz Marisa Abela vive Amy Winehouse. O resultado é uma caracterização satisfatória, combinada com movimentos e trejeitos que, em alguns momentos, pesam na caricatura. Entretanto, Marisa entrega o possível dentro de um contexto onde o roteiro definitivamente não ajuda. As falhas não estão tão ligadas à atuação, mas sim às escolhas que foram feitas para que trouxessem Amy Winehouse para a tela. 

Dentro de momentos delicados, como os desabafos sobre o desejo nunca realizado de se tornar uma mãe, até performance em palcos, Marisa interpreta a cantora num tom respeitoso, entregando o necessário dentro de um cenário não tão favorável assim.

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Foto: Divulgação.

Assistir Back to Black deixa a impressão de que o roteiro foi baseado em uma pesquisa superficial na internet sobre Amy Winehouse. Focando em pontos óbvios e pouco aprofundados, Sam Taylor-Johnson entrega uma obra rasa e, por vezes, desrespeitosa. É compreensível a tentativa de analisar os aspectos frágeis da vida de Amy, mas o resultado é uma narrativa fraca e falha. O filme pouco se assemelha ao documentário Amy (2015), de Asif Kapadia, que oferece uma visão mais íntima e autêntica através de relatos de pessoas próximas e imagens de arquivo da cantora.

O processo artístico de Amy, sua criatividade e seu legado musical são deixados em segundo plano. A cinebiografia, ao optar por um enfoque sensacionalista, perde a oportunidade de celebrar a verdadeira essência e contribuição de Amy Winehouse para a música.

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