Filig 2015: Literatura infantil e ilustração mostram força no mercado brasileiro

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Anabella Lopéz e Luciano Pontes. (Foto: Paulo Floro/OGrito!).
Anabella Lopéz e Luciano Pontes. (Foto: Paulo Floro/OGrito!).
Anabella Lopéz e Luciano Pontes. (Foto: Paulo Floro/OGrito!).

Da Revista O Grito!, em Garanhuns (PE)

O mercado brasileiro de livros ainda não está tão maduro quanto muitos outros países, como nossos vizinhos argentinos, por exemplo. Mas um evento como o Festival Internacional de Literatura Infantil de Garanhuns (Filig) aponta um caminho por mais qualidade no debate sobre os rumos da literatura. Promover e discutir livros feitos para as crianças é importante, se não essencial, para criar um público leitor e um mercado sustentável no Brasil.

Nesta nossa primeira visita ao Filig, que está na sua segunda edição, as expectativas foram superadas, de longe. Realizado no auditório do Sesc – Garanhuns e no parque Pau Pombo, o evento trouxe nomes importantes da área, como a italiana Anna Laura Cantone e o mineiro André Neves. “Fazer livros para crianças, mais do que promover a leitura, é abrir a mente para outras realidades e instigar a reflexão. Mesmo antes de saberem ler o código escrito, eles [os pequenos] já conseguem ler e compreender a história através das ilustrações”, disse Neves.

A produção no Brasil ainda é pequena e relativamente nova quando comparada com outros mercados, como o europeu, mas possui uma tradição rica no que diz respeito à simbiose entre desenho e texto, com nomes importantes como Ziraldo, Elizabeth Teixeira, Eva Furnari, o já citado André Neves e Rosinha.

Debate no Filig com Lenice Gomes, Rosinha e Leo Cunha: ainda o preconceito. (Divulgação).
Debate no Filig com Lenice Gomes, Rosinha e Leo Cunha: ainda o preconceito. (Divulgação).

O ilustrador Miguel Tanco acredita que os autores brasileiros têm muito a contribuir com outras produções mais antigas e consolidadas. Por exemplo, em país com muita tradição na literatura infantil como a Itália, ingressar no mercado em início de carreira é muito difícil. Já a Inglaterra é muito fechado para seu próprio público interno. Assim como o Brasil, Espanha e Portugal, que começaram com a produção de livros infantis em meados dos anos 1980, estão mais abertos à novas experiências. “Assim como Portugal e Espanha, a produção literária infantil no Brasil é recente e os autores daqui devem encarar isso como algo positivo, já que existe um campo vasto para ser explorado”, disse.

O campo da ilustração dentro da literatura infantil assume ainda mais relevância que em outras áreas. “A ilustração não existe para iluminar o texto. Ela É texto, um texto visual, rico em significado”, disse a ilustradora argentina Anabella López. A autora, que mora hoje em Porto de Galinhas, tem trabalhos publicados em países como México, EUA, Canadá, França e Emirados Árabes Unidos.

Na busca por mais reconhecimento, os autores ainda se ressentem do tratamento diferenciado dado aos escritores de histórias infantis. “Ainda ouço muitas pessoas diminuírem a literatura infantil como algo menor, uma ‘coisinha’. Ainda existe muito preconceito e muitos acham um trabalho inferior”, disse a escritora pernambucana Lenice Gomes, um dos nomes mais importantes do gênero no País. Ela deu um show em uma mesa no auditório do Sesc na noite do sábado, com um sarau não planejado e bem animado com textos de Drummond e Manuel Bandeira, entre outros. “Isto já está mudando. Hoje fico muito feliz ao encontrar textos acadêmicos sobre meu trabalho, além de artigos e feedbacks pelas redes sociais”, contou.

Maratona

O Filig teve ainda oficinas de poesia e ilustração, contação de histórias e shows – no último dia a dupla Caju & Castanha fez uma apresentação para crianças, o Emboladinha. Além do Sesc, as atividades do Filig rolaram no parque Luber Van Der Linden, um lugar cheio de jardins e preguiças. Em um encontro com Anabella López e o escritor Luciano Pontes ao ar livre num domingo quente bem atípico para Garanhuns, uma criança fez uma pergunta tão complexa quanto elementar. “Por que você faz livros para as crianças lerem?”

Ainda atônita pela pergunta, Anabella parou um tempo para pensar e soltou: “não acho que escrevo livros para fazer as crianças lerem, mas para elas sonharem”.

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