fale comigo
Sophie Wilde como Mia em uma das cenas de possessão do longa. (Foto: Divulgação/Diamond Films).

Fale Comigo é terror angustiante que vai além do sobrenatural

Novo filme da A24 faz releitura de clichês de possessão em uma trama agoniante sobre solidão e luto

Fale Comigo é terror angustiante que vai além do sobrenatural
3.5

Fale Comigo
Danny Philippou e Michael Philippou

Austrália, 2022, 1h35, 16 anos. Distribuição: Diamond Films
Com Sophie Wilde, Alexandra Jensen e Joe Bird
Em cartaz nos cinemas

Um grupo de jovens inconsequentes se reúne recorrentemente para se divertir com um jogo que permite evocar espíritos e estabelecer contato com eles. É essa a premissa de Fale Comigo, novo terror da A24 que marca a estreia dos irmãos australianos Danny Philippou e Michael Philippou em longas-metragens. Contudo, o que poderia ser só mais uma história convencional e previsível de assombração e possessão, chega com alguma densidade ao reempacotar fórmulas prontas em uma trama angustiante que aborda a solidão e o luto de maneira intensa.

Se por um lado o jogo em questão poderia ser o tabuleiro ouija ou outros clichês recorrentes do gênero, aqui a brincadeira assume a forma de uma mão embalsamada: para que um espírito se manifeste, é preciso segurá-la e dizer em voz alta “fale comigo”. Mas o jogo, claro, não acaba por aí. O contato só é estabelecido quando a frase “eu te convido a entrar” é pronunciada. A partir de então, o espírito conjurado toma posse do corpo da pessoa que segue o ritual.

A princípio, tudo é levado como uma grande brincadeira entre adolescentes, mas não tarda para que a situação fuja do controle quando um deles vai longe demais. Levando em consideração que uma das primeiras regras apresentadas é a de que, a mão da pessoa deve ser soltada em até 90 segundos para que o transe seja rompido, já é de se esperar que algo vá dar errado.

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Para que um espírito seja conjurado, é preciso segurar a mão embalsamada e dizer “fale comigo”. Em cena, Joe Bird como Riley. (Foto: Divulgação/Diamond Films).

A previsibilidade, porém, dá lugar a uma trama agoniante, capaz de mexer com os medos mais íntimos ao retratar a falta de perspectiva frente ao luto e a solidão. A protagonista Mia (vivida por Sophie Wilde) tenta seguir adiante dois anos após o suposto suicídio da sua mãe. A perda trágica a afasta de seu pai, fazendo com que passe a maior parte do tempo na casa da amiga Jade (Alexandre Jensen) e do seu irmão caçula Riley (Joe Bird).

Quando, em uma certa noite, um dos espíritos que se manifestam aparenta ser a mãe de Mia e a brincadeira ultrapassa o limite do tempo, o clima de descontração vira um inferno e uma série de acontecimentos brutais tomam conta da situação. É nesse ponto que Fale Comigo eleva sua trama, se deslocando de uma história meramente sobrenatural para uma narrativa que infunde o terror com um peso emocional sufocante.

Embora ofereça cenas intensas de possessão e de violência, regadas a muito sangue, a força do filme não está nisso, mas sim na forma como transforma toda a angústia da sua personagem num conto de terror com capacidade de ir ao máximo. Enquanto isso, Sophie Wilde brilha como Mia e o entrosamento do jovem elenco se destaca, permitindo ao filme capturar toda a atitude inconsequente da adolescência — e até arrancar algumas risadas.

Ao reimaginar um subgênero clichê do terror, o filme introduz novos elementos que conferem algum frescor à narrativa. Assim, a estreante dupla diretores consegue, em algumas cenas, atingir o ápice do desconforto em um conto de terror eficaz, cujo universo deverá ser expandido com uma já confirmada continuação