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Um papo com Ruby Nox, pavão da cena noturna recifense, que chega ao Drag Race Brasil

Natural de Carnaíba, no Sertão pernambucano, a artista radicada no Recife fala sobre arte drag, a falta de espaços para se apresentar e a inspiração na cultura local

Foto: Jonas Dias / Divulgação.

“Uma figura que seduz e encanta, um pavão”. É assim que Ruby Nox, de 31 anos, define sua drag. Sertaneja de Carnaíba, a queen atua na cena do Recife há 12 anos e é uma das dez participantes da segunda temporada de Drag Race Brasil, que estreia no próximo dia 10 de julho. 

Além de Nox, na disputa pelo título de Drag Superstar do Brasil deste ano estão outras nove queens: Adora Black, Bhelchi, Chanel, DesiRée Beck, Melina Blley, Mellody Queen, Mercedez Vulcão, Paola Hoffmann Van Cartier e Poseidon Drag. A propósito: Poseidon nasceu no Recife, mas, entra na competição como carioca, pois já trabalha há muitos anos no Rio de Janeiro.

Com formação em teatro e paixão pelo burlesco, Nox combina elementos circenses em performances sensuais e autênticas, cheias de graça e força. “Eu gosto de acreditar que Ruby sempre esteve presente em mim, antes mesmo de materializar essa minha versão em drag. No caso, eu sempre fui artista, desde pequeno dançava e sempre tive envolvido culturalmente”, explica. Ela tem Raven e Dita Von Teese como inspiração do reality original da franquia, Rupaul’s Drag Race, para começar a se montar. Com formação em teatro, a drag queen também incorpora elementos burlescos e circenses nas suas apresentações.

A sertaneja aponta, ainda, os desafios para a arte drag. “O pós-pandemia mudou muita coisa na cena drag. Na minha visão, a cena drag pernambucana vem ficando engessada, sem muitas possibilidades de novas drags surgirem e poucos espaços para as atuais evoluírem e se profissionalizarem”, salienta. 

Além dos shows, Ruby Nox já atuou no musical O Boteco e a Dona, onde interpretou a cantora Celly Campelo, e no curta-metragem Quando Você Vem me Visitar, de Henrique Arruda. Fora dos palcos atua como atriz, maquiadora, figurinista e produtora cultural. A sete dias da estreia do Drag Race Brasil, batemos um bate-papo com Ruby Nox sobre sua arte, trajetória e expectativa para o reality. Confira: 

Em que momento você se descobriu enquanto artista? Como é que Ruby Nox começou na sua vida?

Eu gosto de acreditar que Ruby sempre esteve presente em mim, antes mesmo de materializar esta minha versão em drag. No caso, eu sempre fui artista, desde pequeno dançava e sempre tive envolvido culturalmente, porque na minha cidade, Carnaíba, a gente respirava cultura, sobretudo música e dança. Isso tudo colaborou muito para minha formação. Quando descobri o Rupaul’s Drag Race, virou uma chave na minha cabeça e pude ver uma possibilidade artística que não imaginava. Foi dali que comecei a vislumbrar uma imagem de drag para mim.

Mesmo já tendo experimentando maquiagem, peruca, figurino até Ruby realmente nascer, demorou um tempo, até porque sempre vi drag como uma arte do palco, então queria fazer drag nesse espaço para o público. Isso aconteceu em outubro de 2013 na antiga boate MKB, berço de muitas drags pernambucanas. E lá que a Ruby Aziza começou. Só depois de alguns anos que fiz a Haus of Nox, com meus amigos, Amber e Diesel, e aí sim me tornei a Ruby Nox de hoje.

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“Meu foco é furar a bolha e ocupar espaços diversos”, afirma Ruby.
(Foto: Divulgação).

Como definiria a Ruby?

Uma figura que seduz e encanta, um pavão.

Como recebeu a notícia de que tinha sido selecionada para o Drag Race Brasil? 

O processo de seleção é um pouco longo, tem algumas fases, mas quando recebi o primeiro contato estava em uma tour no sudeste com a Britnney Hill. Estávamos no Rio de Janeiro passeando pelo Centro, parei em uma praça para ver umas capivaras e aproveitei para olhar minhas notificações do celular. Quando notei, era uma mensagem de um número desconhecido dizendo que era da produção do Drag Race Brasil. Fiquei um tempo sem acreditar, respondi e depois me ligaram em vídeo para dar a notícia de fato. Fiquei congelada, não conseguia ter nem muita reação naquele momento, mas foi lindo. Depois da ligação, saí abraçando as árvores e correndo atrás das capivaras da praça.

Vivemos um bom momento para a arte drag aqui no Brasil?

Essa é uma pergunta que tem mais de uma resposta. Acredito que hoje temos muito mais visibilidade e possibilidades de trabalho. O “boom” que tivemos com o Drag Race e com a ascensão das drags cantoras, como a Pabllo Vittar e a Gloria Groove, fez muita coisa mudar, principalmente a forma como as pessoas vêem nossa arte. Entretanto, nós drags da noite, que não estamos no mainstream, ainda vivemos tempos difíceis com poucos espaços de trabalho, cachês ínfimos e poucos acessos de construção criativa, coisa que nos anos 80/90 era diferente, por exemplo. Mas acredito que nossa geração vem com grandes possibilidades de elevar a arte drag e ocupar espaços além das margens.

Pernambuco é um estado com uma cultura muito rica e diversa. De que forma as manifestações do nosso estado influenciam e estão presentes na sua arte?

Nossa cultura é fonte de inspiração para mim como um todo. Metade da minha vida vivi no Sertão e outra metade no Litoral, ou seja, minha vida quase toda. A cultura pernambucana está entranhada em mim, por mais que tenha referências para além do regional, não conseguiria fazer o que faço sem a base cultural que temos em Pernambuco. E claro: sou muito bairrista, então nós somos os maiores sempre né! Kkkkkkkk.

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Ruby Nox tem Pernambuco como uma das maiores inspirações (Foto: Anderson
Rangel/ Divulgação).

Qual sua visão sobre a cena drag pernambucana atualmente?

O pós-pandemia mudou muita coisa na cena drag. Na minha visão, a cena drag pernambucana vem ficando engessada, sem muitas possibilidades de novas drags surgirem e menos espaços para as que existem evoluírem e se profissionalizarem. Mas creio que temos algumas drags que produzem e de forma muito persistente, abrem caminhos e espaços para nossa arte. Sempre cito a Safira Blue, Sayuri Heiwa e Makusa Hoax como produtoras e agora as drags do coletivo Phenomena, que são pontos fortes dessa manutenção da nossa arte. Mas reforço que infelizmente temos poucos espaços e possibilidades de trabalho.

Quais são suas inspirações enquanto artista?

Tenho muitas fontes de referência e, na verdade, quase tudo me inspira: artes plásticas, moda, natureza, música e com certeza as divas, desde as clássicas Carmen Miranda, Elis Regina, Whitney Houston até Britney Spears, Rihanna. Mas também bebo das minhas referências do burlesco e do teatro, como o Vivencial Diversiones.

Você já sofreu algum ataque homofóbico por ser drag?

Infelizmente sim. Nunca tive nenhum caso de agressão física literalmente, mas já passei por algumas situações difíceis. Até porque antigamente pegava bastante ônibus montada, então era uma exposição maior. Outra coisa muito comum que pouco se fala é o tanto de assédio que a gente sofre, que vem do machismo real da sociedade. O fato de sermos figuras do feminino, para alguns homens, isso dá uma liberdade de nós objetificar como se não tivéssemos importância.

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Além da arte drag, já atuou no teatro, interpretando Elis Regina e Linda Batista. (Foto: Jonas Dias / Divulgação).

Para quem ficou interessado do seu trabalho, em quais espaços, boates e palcos os pernambucanos podem ver a Ruby se apresentar?

Além das minhas redes sociais, sempre estou presente em boates, como o club Metrópole e festas LGBTs. Além do teatro que pontualmente estou com algum projeto, atualmente estou com muitos trabalhos no cinema, realizando filmes e eventos voltados para o audiovisual. Esse ano irei apresentar o Festival Fabulosa em agosto e o Recifest em setembro.

E para encerrar, como está sua expectativa para o início da segunda temporada e também o que os fãs podem esperar da Ruby no Drag Race Brasil?

Minhas expectativas são altíssimas, acho que a segunda temporada vai trazer um novo gás para a cena drag nacional. Estou amando poder mostrar meu trabalho para mais pessoas e espero que eu consiga, de fato, ter possibilidade de criar mais, me jogar ainda mais no teatro, no cinema e na TV. Meu foco é furar a bolha e ocupar espaços diversos.

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