Sophie
SOPHIE
MSMSMSM – Transgressive Records / 2024. Gênero: Eletrônica, pop
Sophie Xeon (1986 -2021) se tornou um movimento único dentro da música quando ainda estava viva. A mix tape Product e o álbum Oil Of Every Pearl’s Unsides coroaram a visão transgressora que a DJ escocesa tinha para a música pop, ainda mais legitimada depois de suas colaborações com grandes nomes da indústria como Madonna e Rihanna.
Com a morte trágica da artista, restou um sentimento de algo havia sido interrompido em seu auge. Com o tempo, a memória da arte de Sophie foi construída pelos próprios fãs que replicaram ou republicaram faixas deixadas pela cantora pela internet ou memorizadas dos diversos sets que ela fez até o fim de sua vida, e, de alguma forma, a ideia de um trabalho póstumo com músicas inéditas parecia muito distante – e essa também era minha percepção enquanto fã – porque a fagulha da originalidade pareceria estar perdida. Mas, para a surpresa do público, foi prometido um novo álbum.

Desde o primeiro anúncio, a legitimidade do álbum foi justificada pela presença do irmão e coprodutor de Sophie, Benny Long, e pelas colaborações com pessoas próximas a ela como sua ex-companheira Evita Manji, e as cantoras Cecile Believe, Kim Petras e Hannah Diamond, amigas da DJ. A questão é que, ainda com todas as possíveis reivindicações de autenticidade, houve falhas no disco.

O problema principal com SOPHIE parece estar nos excessos. O álbum é grande, para os padrões atuais, com pouco mais de uma hora de reprodução e 16 faixas, mas junção de faixas pop, música ambiente e EDM não desce bem, principalmente quando a ordem da tracklist parece ter sido feita por sorteio.
Por exemplo, uma ordem de três faixas de música ambiente, “Intro (The Full Horror)“, “Plunging Asymptote” e “The Domes Protection” sendo quebradas pelo trap/pop repetitivo de “Rawwwwww”; ou a sequência de house e techno iniciada em “Do You Wanna Be Alive” até “One More Time” – que seria um ótimo encerramento – seguida por faixas pop melancólico que cortam a atmosfera criada nas faixas anteriores.
Nessa seleção aparentemente pouco pensada, a identidade do álbum parece sumir e as músicas tornam-se imemoráveis e sem contextualização entre si, ou possíveis transições interessantes, o que resulta em um álbum que não consegue dar solidez à narrativa que pretende criar.
Apesar de todo o esforço para ser inédito – a única faixa reconhecida por mim foi “Do You Wanna Be Alive”, que está diferente das versões encontradas pela internet -, falta personalidade ao álbum, que talvez poderia ter sido mais potente se fosse diminuído ou dividido em produtos diferentes com propostas musicais mais específicas.
Se o disco conseguiu mostrar algo, é o alcance dos talentos de Sophie Xeon e a sua capacidade de criar música em estilos tão diferentes, mas, sem um formato bem pensado, a falta de coerência acabou tomando conta.
Ouça SOPHIE, de Sophie
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