Wado | Terceiro Mundo Festivo

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Wado (Foto: Maira Villela/ Divulgação)

Na astúcia da periferia, Wado encontra outros caminhos
Por Alan Luna

WADO
Terceiro Mundo Festivo
[Outros Discos, 2008]

wado2008-capa.jpgVá ao google, digite “Wado” e clique “estou com sorte”. Pronto: você está no site oficial do cantor e compositor alagoano de origem catarinense. Lá é possível fazer o download de onze arquivos agrupados sob o nome Terceiro Mundo Festivo. Eles representam o novo CD de Wado — se CDs ainda fizessem sentido.

Antenado que é, o cantor sabe que, hoje, o suporte representa bem pouco no mercado fonográfico, quase um fetiche. E, então, resolveu lançar seu novo álbum na internet. A lógica está corretíssima, embora não deixe de ser curioso notar que Wado é daqueles músicos que fazem a gente sentir um tantinho de nostalgia dos CDs. Afinal, estamos falando de um especialista em produzir obras do tipo que a crítica convencionou rotular de “conceitual” — e isso se torna bem mais fácil perceber quando temos em mãos um objeto com encarte, textos e encadeamento lógico de faixas.

Na falta deles, felizmente, temos o release (também disponível no site), que define assim Terceiro Mundo Festivo: “A subversão não está mais na estética do punk, domesticado e adocicado em canções de amor. O que dá voz a quem não tem voz hoje são ritmos como o funk carioca, o reggaeton e os afoxés baianos. Wado foi beber nestas astúcias da periferia para construir a estética de seu novo álbum”.

Mais claro, impossível. Estão dadas as diretrizes para “entender” músicas como “Fortalece Aí” (samba e afoxé) ou “Leva” (reggaeton). Curioso notar é que este novo trabalho surge num momento em que Wado volta às Alagoas, depois de um período hypado pelo eixo Rio-São Paulo. Produzindo à margem das margens, ele constata: “Ficamos na fita bruta / Que algum filha da puta decupou” (da faixa 6, “Fita Bruta”).

Reprocessar esse material que fica como excrescência do processo de higienização da música de massa é o trabalho de Wado. E o resultado disso é um pop ao mesmo tempo inteligente e digerível, que atinge o seu ápice em faixas como “Teta”, “Melhor” e “Leva”. Aliás, quando eu disse para você procurar este álbum no Google clicando “estou com sorte” não era brincadeira. Ao encontrá-lo, você estará mesmo.

NOTA: 9,0