Mistura de gêneros, tom político elevado, paixões, angústia juvenil, protestos, utopias. Os discos de 2017 refletem as inquietações de um mundo cada vez mais esquisito, fora de lugar. No meio disso os artistas trazem inovações que jogam o pop adiante. Aqui, os melhores álbuns (seja no formato que for) de 2017.
Edição Paulo Floro e Fernando de Albuquerque.
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Moses Sumney – Aromanticism
A estreia desse músico baseado em L.A. deu um novo gás à renovação pela qual passa o atual R&B. De nossa resenha: Sua capacidade de criar conexões é comparável a nomes como Nina Simone e Milton Nascimento (artistas dos quais é fã declarado). Aromanticism, seu álbum de estreia, traz canções que inspiram meditação, autorreflexão. Pode-se resumir que é um disco sobre a solidão, ou, talvez das dificuldades em se conectar com o outro. Em “Doomed”, o single de estreia, ele questiona esse arquétipo do amor romântico, que é uma pressão enorme. As músicas, longe de levarem a uma tristeza, instigam um amor próprio, o reconhecimento de quem se encontra.”
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The National – Sleep Well Beast
Sétimo disco de estúdio do The National, este disco reflete as tensões de um mundo absurdo sob a ameaça do fascismo, intolerância e anti-intelectualismo pós-eleições dos EUA, que elegeram Donald Trump. As letras são carregadas de substrato político que servem como acalanto e inspiração contra essa torrente de más notícias. Tratam também da paranoia, a ansiedade e outras angústias de nosso tempo. Em um mundo cada vez mais esquisito, é fácil se conectar com as canções, sobretudo no Brasil pós-golpe onde se vive o medo de fascistas chegarem ao poder. Um dos mais instigantes discos de rock de 2017, o National está aqui mais inventivo do que nunca, indo da psicodelia às baladas dilecerantes ao piano.
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Don L – Roteiro pra Aïnouz, Vol. 3
Esse músico cearense é um dos nomes mais importantes do rap hoje e cresce para alcançar a relevância de seus ídolos. Membro do grupo Costa a Costa, ele lançou o terceiro volume de seu álbum onde explora diversos gêneros e traz colaborações oriundas de diversas searas musicais, a exemplo do paulista Thiago França, o conterrâneo Fernando Catatau, do Cidadão Instigado, além de colaboradores frequentes como Diomedes Chinaski e LAY. “É uma trilogia de ordem inversa. Você tem que sentir o que eu tô dizendo quando eu rimo o que eu rimo; tem que ver o que eu vi quando eu vi o que eu vejo, quando eu rimo sobre o que eu vi, saca? E ir além disso. E sentir aquele contexto. E pensar sobre seu lugar no mundo e sua busca”, disse o músico ao site Rimas e Batidas. Cheio de letras que remetem ao seu amadurecimento e também problemas sociais, esse disco de Don L é uma coleção de crônica sobre o estado do Brasil nas últimas décadas.
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Linn da Quebrada – Pajubá
Este álbum visual de Linn da Quebrada é um afrontamento à negação do ser, às ofensas explícitas e discretas que negrxs, periféricxs e LGBTQs sofrem no cotidiano. É um basta a esse paradigma de violência. E Linn propõe o embate com 1) conhecimento de seu lugar de fala, de luta e 2) inovação musical, unindo rap, funk, rock, eletrônica, poesia, dança e audiovisual. É um trabalho para ser entendido em sua totalidade, unindo imagem e som talhados para soar como uma aríete na porta confortável da classe média conformada e segura de seus privilégios. Pajubá é um atentado artístico mais do que necessário hoje. “Na minha música este ‘se posicionar’ é inevitável. E não porque eu esteja cantando para apontar o dedo de alguém, mas justamente porque celebro a minha vida, o meu corpo. Um corpo negro, feminilizado, periférico. Celebro a vida de todas que são iguais a mim e isso vem da nossa (r)existência, de construir novas narrativas pra nós mesmas. O posicionamento vem daí, dessa recusa de seguir a lógica de uma sociedade falocêntrica e no lugar dar foco e potência total às mulheridades”, disse Linn em entrevista a’O Grito!.
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In Venus – Ruína
Essa banda de SP, do selo PWR, foi uma grata surpresa no cenário nacional este ano. De nossa crítica: “Ruína é um disco-chave para entender os rumos do rock no Brasil daqui em diante. Dispostos a tratar de um tema difícil – a destruição enquanto ferramenta de construção – o grupo conseguiu olhar para o nosso conturbado momento sociopolítico ao mesmo tempo em que seguiu uma trilha mais atemporal quando fala de relacionamentos instáveis, meritocracia, depressão, luta por status, egocentrismo e ostentação. Esta banda paulista fala de caos social, relacionamentos ruins, feminismo e amor no mais importante disco de rock brasileiro este ano. Na sonoridade o grupo busca influências tanto no post-punk como no shoegaze, pegando referências também no riot grrrl (movimento que revelou nomes como Sleater-Kinney e Bikini Kill, entre outros). Há momentos mais viscerais, como a dobradinha de abertura “Youth Generation” e “Burn”, outros mais soturnos como “What Do You Fight For”. Formado quase inteiramente por mulheres, a In Venus tem um conteúdo fortemente apoiado no feminismo, o que está bem claro em “Mother Nature”, o primeiro single, um retorno à relação com a grande mãe. ”
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Jlin – Black Origami
Dona de uma assinatura bastante ousada e pessoal, a produtora norte-americana Jerrilyn Patton, nome real da artista Jlin, se inspirou em elementos orientais para compor esse seu segundo trabalho, Black Origami, um dos mais celebrados deste ano. Batidas quebradas, fusões de diversos gêneros, tribalismo, toques ritualísticos e colagens marcam este disco, um dos mais inovadores e experimentais da música eletrônica em 2017. O trabalho avança ainda mais nas ousadias estéticas vistas em seu trabalho de estreia, Dark Energy, que a revelou como uma das mais interessantes surpresas da música eletrônica (e do chamado IDM).
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Thundercat – Drunk
Drunk é o segundo disco de Thundercat, hoje um dos nomes mais importantes no soul/R&B. Da nossa resenha: “O baixista, produtor e cantor Stephen Bruner (mais conhecido como Thundercat) conseguiu o improvável com esse novo disco, Drunk, o melhor de sua carreira até aqui. Ele trouxe todas as complexidades do jazz e do soul, todas as nuances de uma música carregada de humanidade e transformou isso em um disco que é ao mesmo tempo virtuoso e acessível. Nada define mais o espírito jazz do que Drunk hoje na música pop. Em 23 faixas, o trabalho segue um ritmo excêntrico, multifacetado e regido por sentimentos trazidos pelas letras. Segundo Bruner afirmou no release do disco, as músicas foram inspiradas pelos períodos em que ele passou inebriado. Dono de um estilo meticuloso de produção, Thundercat cria antes os climas para depois basear sua música, por isso suas faixas tem um apelo de trilha sonora.”
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Aláfia – São Paulo Não é Sopa
Poucos discos brasileiros dialogaram tanto com o momento político atual quanto esse novo do Aláfia. Da nossa resenha:” O terceiro álbum do grupo paulistano Aláfia é um manifesto sobre a relação conturbada de São Paulo com seus habitantes e visitantes. É também um diário de nossos dias, com sonhos, raivas, revoltas, alegrias, violências e tristezas. Nenhum disco reflete tanto o caos de SP – e por conseguinte de qualquer metrópole – do que esse novo álbum do Aláfia. Com participações de nomes como Tássia Reis, Luísa Maita e Raquel Virgínia e Assucena Assucena, de As Bahias e a Cozinha Mineira, o trabalho aprofunda ainda mais as pesquisas das diversas sonoridades da música negra brasileira, mas com uma pegada ainda mais eletrônica.”
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Kiko Dinucci – Cortes Curtos
Conhecido por seu trabalho em projetos como Metá Metá e em discos de variados nomes que vão de Elza Soares, passando por Rômulo Fróes, Thiago França, entre outros, Kiko só em 2017 chegou com seu álbum “solo”. Cortes Curtos, lançado com download gratuito no site do artista, traz 15 músicas bem ligeiras em seus 40 minutos de uma amálgama de samba e rock. Com um tom político ligado no máximo, este trabalho trata de temas diversos, que vão de xenofobia, violência urbana, amor, suicídio, tudo ambientado em São Paulo. Kiko, seja neste seu trabalho solo, seja colaborando com outros artistas, se mostra um dos principais cronistas da música popular brasileira, seguindo passos de nomes como Nelson Cavaquinho e Cartola.
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Big Thief – Capacity
O novo trabalho do Big Thief, grupo indie do Brooklyn mostra que o lirismo segue em alta no rock. Da nossa resenha: “Musicalmente este disco é mais ousado que a estreia, Masterpiece (2016). O som do grupo ficou menos rebuscado e mais limpo, quase minimalista. Isso acabou reforçando o clima melancólico que perpassa todo esse disco. É um trabalho que soa como uma trilha de desolação para aqueles ouvintes que desejam se desligar para curtir momentos mais introspectivos. Lenker segue como uma das compositoras mais criativas do indie-rock hoje ao aliar lirismo a temas pesados que chegam contundentes, sem rodeios.”
20
Fever Ray – Plunge
Um dos retornos mais aguardados do ano, o projeto sueco Fever Ray, liderado pela artista multimídia Karin Dreijer Andersson chegou como a gente esperava: perturbadora, provocativa, fugindo de obviedades. Bem mais cru que o seu trabalho anterior, Plunge segue por paisagens instáveis experimentando uma eletrônica quase punk, pesada e cheia de repetições. O que segue intacto é a voz cheia de variações de Karin Dreijer. Os temas seguem explorando questões de gênero e sexualidade, inadequações e angústias existenciais, o que Karin já fez em seu disco anterior e também em sua banda, o The Knife.
19
Jay Z – 4:44
4:44 soa como um revisionismo para Jay-Z, mas é bem mais do que é isso. É uma renovação no rap deste músico e empresário norte-americano. O seu acerto de contas veio em forma de rimas diretas e uma produção sofisticada de quem tem à mão o melhor do gênero, seja em colaborações ou produções requintadas. Há faixas que falam diretamente para sua mulher, Beyoncé, a quem pede desculpas pela traição e também para sua mãe, que se assume lésbica nesta faixa que é uma das melhores do álbum. Mais vulnerável, despido um pouco de seu ego e com mais humildade, Jay-Z propõe uma quebra de paradigma não só para sua música como para o próprio rap americano.
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Fleet Foxes – Fool’s Errand
Fleet Foxes chega ainda mais melancólico em um disco que dialoga com esses tempos estranhos. Da nossa resenha: “Atuando em um espaço do rock com muitos discos clássicos e muitos artistas interessantes, o grupo de Seattle, EUA, conseguiu expandir a sonoridade do estilo ao mesmo tempo em que caminha para algo totalmente novo. O tom teatral aumentou com faixas mais barrocas, cheias de detalhes, mas ainda há reminiscências da fase mais minimalista do grupo, onde o vocal estava em primeiro plano. Agora o instrumental das faixas sempre caminha para uma apoteose, com poucas exceções. E conseguiram se safar do risco de fazer um álbum cansativo e pretensioso. Evocando sentimentos como inquietação e agonia, eles trabalham nas letras uma crise de identidade do ser humano frente a um mundo que já não faz tanto sentido.”
17
Letrux – Em Noite de Climão
Primeiro disco solo de Letícia Novaes desde Estilhaça (2015), último trabalho do grupo Letuce (projeto em parceria com o ex-marido Lucas Vasconcellos), este Letrux Em Noite de Climão é um disco irônico sobre separação, perda e superação. O romantismo e o erotismo das faixas convivem com o bom humor, o tom soturno e o sarcasmo de quem manda indiretas: “a gente só prestou dormindo”, diz ao ex-marido na faixa “Ninguém Perguntou por Você”. Com um forte aceno para as pistas de dança, Letrux chega como uma das mais interessantes peças do novo pop brasileiro ao mesmo tempo em que se mantém inovador e experimental, longe de obviedades e fórmulas.
16
Vince Staples – Big Fish Theory
Batidas eletrônicas pesadas, por vezes desconstruídas, marcam a assinatura de Vince Staples no rap. Neste segundo trabalho o músico mostra que possui uma sonoridade bastante segura, além de disparar rimas que falam de preconceito racial, fama e outros dissabores, mas sempre com uma linha de pensamento que oscila entre o niilismo e a subjetividade. Com uma visão bastante particular do rap, Vince vai moldando o gênero a partir de uma proposta de demolição: subvertendo padrões e se aproximando de ritmos como o techno e dubstep, com muita influência de nomes como Burial e James Blake. Vince Staples está na vanguarda do hip hop, não resta dúvidas.
15
St. Vincent – MASSEDUCTION
A ironia é uma arma pesada nas mãos de Annie Clark, o nome por trás do projeto St. Vincent. Neste seu novo disco ela critica as relações de poder no mundo, as pressões da fama, o falso e violento mundo da fama, o paradigma do machismo na indústria do entretenimento, mas sobretudo as relações de poder entre as diversas instâncias (homem/mulher, chefe/trabalhador, artista/fã, etc). Sua estratégia foi usar o glamour, as cores vibrantes e elementos de sedução do pop mais comercial e óbvio para criticar as engrenagens desse sistema que é um dos braços mais fortes e populares do capitalismo. E fez isso com uma aproximação do dance, transformando seu rock melódico em algo mais agressivo, mas ainda experimentando nas guitarras, instrumento do qual é exímia.
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Oumou Sangaré – Mogoya
Um dos melhores trabalhos do pop mundial veio da África em 2017 e talvez você nem tenha tomado conhecimento. “Um dos maiores nomes da música do Mali, Oumou Sangaré retorna com novo disco após oito anos de hiato. E chega com ambição de atingir novas audiências sem que isso signifique romper com suas raízes e sua sonoridade. Há também espaço para experimentação, como na faixa-título, que se apoia nos alcances vocais de Oumou em cima de uma base instrumental bem moderna. Mas Mogoya é, sim, um salto em direção a um público que ainda não a conhece. Mogoya é a consagração da reinvenção dessa diva africana cujo talento merece correr o mundo com mais força.
13
Björk – Utopia
Nono disco de estúdio de Björk, Utopia marca uma renovação na carreira da islandesa, mas não apenas por tratar da busca de uma nova sonoridade, mas por levar seu estilo a um outro nível com a ajuda de artistas contemporâneos, no caso aqui o produtor venezuelano Arca. O álbum tem como tema principal a superação de uma separação, indo no extremo oposto do anterior, Vulnicura, marcado por um amargor e tristeza. Mas aqui Björk ainda constrói outras temáticas, como a urgência de um debate sobre os problemas ambientais. A utopia proposta aqui, fala tanto de um mundo sem rancores e amores tóxicos, mas também um lugar de harmonia entre os diversos seres. Com sons reais de pássaros e muito uso de flauta e instrumentos de corda, a cantora mostra que segue na dianteira do pop mais experimental, agora indo em um espaço mais orgânico e desafiador. Este é, certamente, um dos pontos altos da carreira de Björk.
12
Perfume Genius – No Shape
O Perfume Genius se superou ainda mais com esse No Shape. Da nossa resenha: “Artista que sempre trabalhou dentro de uma estética queer, Mike Hadreas, o Perfume Genius, faz um disco mais confiante em No Shape. Nos trabalhos anteriores ele abraçou a própria vulnerabilidade para lidar com suas questões pessoais como insegurança, a adolescência marcada pela homofobia, violência, além do alcoolismo e vício em drogas. Tratou também de exorcizar traumas de sua família disfuncional. Agora, neste novo trabalho, Hadreas surge sóbrio e centrado: é seu disco mais coeso, com um pleno domínio de suas possibilidades vocais e uma produção que supera em muito seus discos anteriores.”
11
Tyler, The Creator – Flower Boy
Um Tyler The Creator desconstruído e inovador aparece neste Flower Boy. Da nossa resenha: Tyler, The Creator chega reflexivo e complexo neste quarto disco de estúdio, Flower Boy. É um passo importante em busca de um rap mais inventivo e distante do seus trabalhos anteriores, marcados primeiro pelo **choque** e por letras repletas de ataques, que por uma consistência em rimas e batidas. Flower Boy traz um time incrível de artistas convidados, um apoio que poucos nomes conseguem reunir em um único trabalho: Frank Ocean, Estelle, Lil Wayne, Jaden Smith, A$AP Rocky, entre outros, estão presentes. Explorando os recônditos mais complicados de sua mente ele destila letras que perfazem sua trajetória até aqui, marcada por acusações de homofobia e misoginia. Em “Foreword”, faixa que abre o disco, ele pede desculpas às mulheres por “tê-las usado”. Mas são questões ligadas à sexualidade que tornam o disco de Tyler interessante, conferindo nuances e camadas que não tínhamos visto até agora.
10
Djonga – Heresia
Os novos clássicos brasileiros estão vindo do rap, e ponto. Djonga é um dos que merecem figurar nas listas de trabalhos essenciais da música brasileira por sua poesia prodigiosa, suas batidas heterogêneas cheias de tensão, emoção, melancolia e revolta. Referência ao disco Clube da Esquina (1972), de Milton Nascimento e Lô Borges (a começar pela capa), Heresia é cheia de intertextualidade e proclama para si uma tarefa de ser um disco de conexões. Vai além do cenário do hip hop brasileiro para se fazer presente na MPB, sem que para isso precise se moldar a alguma convenção. Com letras que falam diretamente sobre o estado das coisas no Brasil de hoje, este disco é um trabalho urgente, mas cheio de contextos que o tornarão ainda mais relevante no futuro.
09
Kelela – Take Me Apart
Um dos nomes mais ousados no R&B de hoje, Kelela soltou, finalmente, seu disco de estúdio. Da nossa resenha: Tida como um dos principais nomes da renovação do R&B e soul, a cantora americana Kelela lança seu álbum de estreia após mixtapes e EPs hypados que a colocaram na dianteira da inovação em sua seara musical. Take Me Apart tem como principal inspiração a transição emocional da cantora após o fim de dois relacionamentos simultâneos. Por isso, o trabalho é marcado por letras de sofrência conduzidos por uma instrumentação cheia de detalhes, texturas e uso pouco usual de notas e timbres, o que já é conhecido por quem acompanha Kelela desde o início.
08
SZA – Ctrl
Depois de vários EPs e vários adiamentos, eis que SZA lança seu disco de estreia. Parte de uma renovação entre as cantoras de soul/R&B, esta americana tem um carisma e voz que a fazem uma das mais relevantes e populares do gênero. Da nossa resenha: “Buscando referências que vão do Wu-Tang Clan a Spike Lee, ela possui letras bem mais fortes que suas colegas de R&B e pop, além de um timbre vocal mais versátil. Entre os temas estão relacionamentos passados, auto-estima, ódio e amor, mas sempre com a perspectiva de quem tem total controle de sua vida. Com um contrato com a TDE, gravadora de Kendrick Lamar, ela divide vocais com Lamar em “Doves In The Wind” e com Isaiah Rashad em “Pretty Little Birds”. Ótima estreia.”
07
Tinariwen – Elwan
Veio do Mali um dos trabalhos de rock mais interessantes de 2017. Da nossa resenha: “Os artistas Tuareg do Tinariwen congregam tudo o que a gente espera de um artista ativista. Um de verdade. Baseando sua música em uma sonoridade tradicional de sua comunidade no Saara eles levantam a bandeira da luta pela independência de seu povo. As faixas são hinos a favor da liberdade, mas também denunciam problemas urgentes, como acesso à água. Elwan, o sétimo disco de estúdio, é um dos melhores trabalhos da banda desde que surgiram no cenário internacional com The Radio Tisdas Sessions, de 2000. Ainda que o Tinariwen seja um dos expoentes do Tichumaren, estilo de música tradicional do nordeste do Mali, eles trouxeram para sua sonoridade elementos do rock e do blues, o que casou bem desde o primeiro disco. O tichumaren é, na verdade, um caldeirão que traz elementos de diversos sons da África e do Oriente Médio, tudo embalado pela guitarra elétrica bem blueseira.”
06
Baco Exu do Blues – Esú
Disco de estreia do rapper baiano Baco Exu do Blues, Esú é um dos trabalhos mais potentes do rap nacional. Buscando referências na religiosidade cristã e nos cultos de base africana, o trabalho atira rimas nos mais diversos temas, de sexo a política, passando por violência, racismo e relacionamentos. Esú, em iorubá, é um dos principais orixás das religiões de matriz africanas, uma espécie de mensageiro que transita entre o bem e o mal, entre o mundo dos homens e dos deuses. Mas, como mostra a capa do disco, se aproxima visualmente do nome “Jesus”, o que causou polêmica assim que foi divulgado. As referências religiosas perpassam toda a audição do trabalho, que traz uma profusão de elementos que soam como cânticos e rituais espirituais. Na sonoridade, Baco inova no rap ao fazer uma entrosada mistura de atabaques, órgãos de igreja e samples e batidas.
05
Ibeyi – Ash
O duo Ibeyi retornam ainda mais pop em um disco em que exploram suas raízes africanas e latinas. Da nossa resenha: “Jazz, eletrônica, musicalidade africana e um irresistível apelo pop marcam o segundo trabalho das Ibeyi, dupla formada pelas irmãs gêmeas Lisa-Kainde e Naomi Diaz, 22 anos. É bem melhor que a estreia, homônima, de 2015. Agora elas exploram ainda mais a própria ancestralidade em um diálogo entrosado com um pop cosmopolita, inovador. Nomes atuais de diversas partes do mundo, como o saxofonista Kamasi Washington, a rapper espanhola Mala Rodríguez e o pianista canadense Chilly Gonzales colaboraram com as artistas. As raízes das Ibeyi oferecem um caldo sonoro muito particular, o que soa autêntico. Além desse lastro meio que natural elas ainda adicionaram um substrato político muito evidente, com destaque para questões urgentes desse 2017 doido, como o combate ao machismo, violência contra a mulher e preconceito racial. Lisa e Naomi escolheram o discurso direto, localizando e contextualizando seus alvos. ”
04
Curumin – Boca
Popular e experimental, Curumin faz uma interessante mudança de sonoridade neste que é um dos seus trabalhos mais interessantes. Da nossa resenha: “Com faixas batizadas com diferentes tipos de “boca”, esse novo Curumin quer tratar de política, sexualidade, relacionamentos, conflitos de classe e desigualdade em um curtíssimo espaço de tempo (cerca de 35 minutos). A ideia é que atravessamos um turbilhão de referências, sons e texturas de maneira abrupta, sem aviso, que desnorteia o ouvinte (no bom sentido) e nos ajuda a relacionar o conceito do álbum com esse cotidiano cada vez menos centrado em que vivemos. Cronista do cotidiano, Curumin segue com a sua mesma proposta desde que surgiu com Achados e Perdidos (2002). Ele apenas muda a sonoridade com que destila suas letras sobre a vida. Primeiro trabalho desde Arrocha, de 2012, o músico saiu das batidas calorosas e dançantes de faixas como “Selvage” e “Passarinhos” para uma proposta mais experimental como “Boca de Groselha”
03
Lorde – Melodrama
O pop alcançou um outro nível de sofisticação este ano com Melodrama, um trabalho carregado de angústia juvenil e uma verdade tão urgente que foi impossível não se deixar seduzir por essa cantora neozelandesa de apenas 20 anos. Da nossa resenha: “Lorde chega ao segundo disco ainda mais madura e com uma evolução bem marcante desde Pure Heroine, sua estreia de 2013. Seu maior feito foi ser bastante apegada e intransigente em relação ao seu estilo muito particular, que se baseia na introspecção e exposição de lados mais sombrios de si mesma. Apontando para uma direção pouco usual do pop, Lorde isolou-se como um respiro bem vindo em segmento saturado da cultura pop. Com muito potencial ainda a ser explorado, Lorde vai fazendo uma obra em progresso sobre sua própria maturidade, transformando em canções aspectos que seu público com certeza vai conseguir se relacionar. Musicalmente é um trabalho que tira o pop do conforto e aponta para inovações no gênero. E no cenário da música enquanto indústria revela uma artista que não se preocupa em se adaptar às convenções e que está disposta a ser honesta consigo mesma, algo difícil em um mercado tão competitivo.”
02
Rincon Sapiência – Galanga Livre
“Batemos tambores, eles panelas”. Poucos discos falaram tanto do que estamos vivendo agora quanto este Galanga Livre. Mas Rincon ainda foi além: fez um trabalho para enaltecer a periferia e a afrodescência na música brasileira em um álbum cheio de camadas. Da nossa resenha: “m seu primeiro disco de estúdio, o rapper paulista Rincon Sapiência fez um épico sobre o cotidiano do trabalhador e, em uma camada mais profunda, das agruras das pessoas negras em uma sociedade ainda segregada como o Brasil. E fez isso com um disco em que destaca elementos bem tradicionais do rap, com a figura do MC em primeiro plano. O nome “Galanga Livre” faz referência à lenda do escravo Galanga, que lutou por liberdade, peitou o sistema escravocrata e chegou a assassinar um senhor de engenho. É interessante ver esse percurso histórico traçado nas faixas do disco, o que relaciona a luta de Galanga e os milhões de escravos com as atuais condições de quem é pobre, preto e morador da periferia. “Quem vive na extrema pobreza têm em comum escuro na cor”, diz Rincon em “Ostentação à Pobreza”.
01
Kendrick Lamar – DAMN.
Kendrick Lamar é bastante consciente do seu poder e influência na indústria da qual é um dos maiores expoentes e talvez, o seu maior crítico. Seu novo trabalho critica o sistema pedindo união e falando de um novo paradigma do rap: é necessário fazer do gênero um instrumento de transformação, e isso acontecerá pelo embate. Na sonoridade o rapper voltou mais direto e menos opulento, mas ainda assim inventivo e cheio de experimentações, buscando elementos dos mais diversos gêneros. É um dos trabalhos mais importantes do hip hop por ser feito por um artista em seu auge que não se roga em arriscar. Da nossa resenha: “Enquanto grande parte dos rappers celebra a emancipação através da grana e poder, uma maneira provocativa, mas conservadora, de peitar o sistema, Kendrick incomoda mais ao dizer que todos resistirão juntos. Ele vai à mídia expor com sagacidade uma sociedade racista em vez de ostentar carros e correntes de ouro como sinônimo de ascensão social. Lançado quase de surpresa e sem muita promoção, o trabalho lança novas bases para o rap enquanto movimento. Depois de falar de sua quebrada com emoção e de fazer um manifesto político, Kendrick se aprofunda em temas mais universais para pensar novos caminhos para o gênero. Minimalista na forma e no conteúdo, o disco chama novamente a responsabilidade para o potencial do hip hop como veículo de transformação”.