Capas de álbuns sempre foram muito mais do que simples embalagens. É tarefa e responsabilidade de designers e fotógrafos traduzir em imagens o conceito por trás dos sons e sentimentos que marcam a memória de quem ouve música. No rap brasileiro, essa estética visual tornou-se parte essencial da narrativa do gênero. É impossível não recordar a cruz gótica que estampa o icônico Sobrevivendo no Inferno (1994), dos Racionais MC’s, ou a força simbólica da fachada de O Menino que Queria Ser Deus (2018), de Djonga, em que o rapper surge pisando sobre seu algoz narrativo: o homem branco engravatado.
Desse diálogo entre imagem e som nasce o livro Entre Rimas e Capas: o design do RAP brasileiro, projeto que reúne uma curadoria detalhada de artes de álbuns lançados na última década do hip-hop nacional. Atualmente em pré-venda, a publicação destaca a potência estética e cultural do rap por meio de 100 capas que marcaram os últimos dez anos do gênero.
Organizado pelo designer gaúcho Lucas Marques de Lima, de 24 anos, o livro apresenta criações de artistas de diferentes estados que ajudaram a consolidar a identidade visual do rap brasileiro entre os anos de 2014 e 2024. Com 126 páginas, a obra mergulha nos aspectos técnicos das produções, explorando conceitos de estilo, discurso e linguagem visual.
O projeto teve origem no trabalho de conclusão de curso de Lucas em Design Gráfico pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) — cursado entre 2020 e 2025 — e nasceu da fusão entre sua formação profissional e sua relação com a cultura hip-hop.
“O livro surgiu da necessidade de inserir a cultura preta dentro do design. Desde sempre, estudamos a área com base em referências europeias, quase todas brancas. Eu quis investigar como transformar esse cenário”, explica o autor.
Mais do que um trabalho de graduação, Entre Rimas e Capas se transformou em uma iniciativa de valorização da arte visual negra e de reflexão sobre o papel do design na indústria musical contemporânea. Diferentemente da era dos CDs e vinis, o ambiente digital ainda falha em creditar devidamente os profissionais responsáveis pelas capas, que permanecem invisibilizados nas plataformas de streaming.
Em 2024, o fotógrafo Wilmore Oliveira reacendeu esse debate nas redes sociais ao questionar a ausência desses créditos: “Estão colocando nomes de compositores, autores, beatmakers… mas e quem faz as capas? Nunca vai ter crédito?”, escreveu. A publicação repercutiu entre artistas, fotógrafos e produtores do rap, reforçando a relevância do tema.
“Antigamente, os vinis traziam no encarte quem fez a foto, quem cuidou do projeto gráfico, e isso se perdeu. Esse livro é um combustível para valorizar quem está por trás dessas artes”, complementa Lucas.
A versão digital do livro já está disponível na plataforma FlipHTML5, enquanto a edição impressa encontra-se em pré-venda até 31 de outubro, por meio de um formulário online divulgado nas redes sociais do autor. A iniciativa busca ampliar o acesso ao conteúdo e fortalecer o reconhecimento do design como parte indispensável da história do rap brasileiro.
Serviço
Lançamento: Entre Rimas e Capas: o Design do Rap Brasileiro
Quando: Pré-venda disponível de 19 de setembro à 31 de outubro
Preço: R$ 140 + frete (versão impresso)
Mais informações: lucas (@luuccasmarx) • Instagram photos and videos
