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Capa do disco (Divulgação)

Cátia de França permanece firme em “No Rastro da Catarina”

Quinto disco de estúdio da cantora paraibana constrói simbologia ao redor da imagem e poesia de Cátia

Cátia de França permanece firme em “No Rastro da Catarina”
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Cátia de França
No Rastro da Catarina

Independente, 2024. Gênero: MPB/ Pop


A música de Cátia de França é fruto de toda sua firmeza em relação à sua personalidade, história e princípios. Uma mulher negra, lésbica, nordestina que criou seu som com base na música popular do nordeste em um país que até hoje não lida bem com abrir espaços para artistas fora da norma. 50 anos de sua carreira passaram, e Cátia de França, que continua a mesma, agora ganha mais reconhecimento por sua arte.

No Rastro da Catarina é um disco que reafirma a expressão identitária das suas composições, marcadas por suas reflexões e críticas. Além das letras, existe a estética sonora da paraibana: o rock, com melodias sedutoras na guitarra, que se apoia nos elementos da música popular nordestina – que ganha força pela percussão, viola e violão.

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O disco cria uma relação com a própria história de Cátia já a partir do título, que faz uma referência ao verso “No Raso da Catarina, o que vejo é nossa sina”, de “Quem Vai Quem Vem”, faixa do emblemático 20 Palavras ao Redor do Sol, álbum de estreia da cantora; além da alusão ao seu nome fora dos palcos, Catarina. Todas essas referências criam uma simbologia ao redor dela e de sua obra, uma espécie de sobreposição entre sua imagem mais jovem, no início da carreira, e ela agora, mais velha e sendo redescoberta dentro da própria MPB, como bem ilustrado em “Fênix”, faixa que abre o disco.

Ao longo do álbum, Cátia explora os aspectos de sua subjetividade e todas as lutas que ela reivindicou para si. “Negritude” já dá o tom pelo título, numa perspectiva ao mesmo tempo individual e coletiva sobre o orgulho e luta do povo negro brasileiro, um discurso desafiador que segue na música seguinte, “Espelho de Oloxá”, que é a declaração de alguém que não para de lutar e permanece atenta e confiante na mudança.

Em alguns momentos a firmeza e a força de luta dão lugar às reflexões, como na bela “Malakuwaya”, que fala sobre o envelhecimento e o autoconhecimento de Cátia no seu corpo atual, aos 77 anos, e os significados que vêm com as rugas e os cabelos brancos. Nesta segunda metade do álbum, que traz músicas mais calmas, também ficam as românticas “Indecisão” e “Meu Pensamento II”.

No Rastro da Catarina chega com o tom de celebração e retrospectiva da música de Cátia, e condecora mais ainda a carreira dela como uma artista politizada e autoconsciente. A sua poesia continua sendo carro chefe de seu trabalho, apesar de assumir uma forma mais simples hoje em comparação a momentos anteriores de sua carreira. Ainda sim, Cátia de França prova que os ideais não envelhecem, e que seu intelecto e suas composição são tão atuais quanto sempre.

Ouça No Rastro da Catarina, de Cátia de França

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