Os 30 melhores discos de 2018

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Os discos em 2018 foram mais políticos do que nunca. Artistas como Baco Exu do Blues, Elza Soares, Janelle Monáe e The 1975 comentaram questões urgentes do nosso tempo como racismo, desigualdade social, homofobia e machismo.

Foi um ano em que afeto e vivências diversas serviram como armas poderosas para criar um laço de comunidade com fãs, o que trouxe autoestima e instiga em um período tão difícil. Foi também um ano de muita inovação, com artistas fortalecendo laços com tradições musicais e misturando ritmos para criar algo totalmente novo, a exemplo de ROSALÌA, Elba Ramalho e Barro, entre outros.

E não podemos esquecer de um dos anos mais interessantes do pop, com Camila Cabello, Robyn e Ariana Grande, cada uma, ao seu modo, alargando as fronteiras do gênero. Com vocês, os melhores álbuns de 2018.

Pela Equipe da Revista O Grito!. Edição: Paulo Floro. Revisão: Túlio Vasconcelos.

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Camila Cabello – Camila

O primeiro disco solo da cubana naturalizada americana Camila Cabello é uma obra pop bem orquestrada e com a interpretação de uma artista carismática e que, já na estreia, mostra uma busca acirrada por uma assinatura própria. Do hit “Havana” à balada “Never Be The Same”, o disco traz muitas outras surpresas que servem para comprovar o talento de Camila. Leia a resenha completa.| Ouça.

Elba Ramalho O Ouro do Pó da Estrada capa

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Elba Ramalho – O Ouro do Pó da Estrada

Em cena há 40 anos, Elba se deu o desafio de experimentar, mas manteve firme em suas raízes. Por isso o disco deve agradar quem já a conhece de muito tempo, mas também pode ser uma ótima porta de entrada para quem nunca ouviu um disco seu.  É um dos melhores trabalhos recentes da cantora e dialoga com o âmago de sua persona artística, que sempre se pautou pelo imaginário dos sons do Nordeste embalados por um verniz pop feito para as grandes audiências. Resenha completa. | Ouça.

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Barro – Somos

O segundo disco solo de Barro chega após o músico percorrer o Brasil com a turnê de seu primeiro trabalho, o que é refletido nas faixas do disco, que traz muito de suas vivências pelo país. É um trabalho que se conecta com sons tradicionais como o coco, mas que traz um sabor muito contemporâneo, reforçando o talento de Barro como um dos principais nomes do pop autoral no Brasil. | Ouça.

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Troye Sivan – Bloom

Falar de coisas enquanto se vive, despido de qualquer perspectiva, dá a Sivan ainda mais aunteticidade e ímpeto. Seu registro chega com uma força de se arriscar ao mesmo tempo em que se apóia no melhor que o pop comercial tem de melhor, a exemplo de batidas bem produzidas, lampejos sensuais e bela instrumentação. É um trabalho muito bonito e que entrará, definitivamente, para o cânone de obras queers, bem como marca um momento muito particular e positivo do pop. Resenha completa. | Ouça.

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Duda Beat – Sinto Muito

Em Sinto Muito, Duda Beat revive as frustrações do passado para se reafirmar como uma mulher antiquada romanticamente, ao preferir aos amores duradouros e intensos ao invés das relações efêmeras. Ainda que as experiências amorosas sejam recorrentes para alimentar a poesia da música de muitos artistas, principalmente brasileiros, a pernambucana inova ao se apropriar de elementos do pop com maestria. Ela brinca com os próprios sentimentos, estabelece um dialogo com aqueles que já sentiram as mesmas decepções e embala tudo isso em arranjos criativos, ecléticos e que passeiam por diversos gêneros e influências. Resenha completa.| Ouça.

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Arctic Monkeys – Tranquility Base Hotel + Casino

Tranquility Base Hotel + Casino deixou de lado o protagonismo das guitarras gritantes e a bateria imprevisível que tanto marcou a sonoridade da banda desde o início, e promoveu o teclado, sintetizador e a performance de voz – que o Alex já vinha experimentando em faixas como “Sweet Dreams TN”, “Les Cactus” e “The Dream Synopsis”, todos do último do TLSP. É possível perceber muito de David Bowie também, seja na forma de conduzir a performance vocal ou pela temática cósmica. Ainda dentro das muitas referências desse trabalho, uma delas é do nosso brasileiro Lô Borges. Novo disco frustra quem esperava algo mais pop e acessível do grupo (o que é ótimo). Resenha completa.

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Beach House – 7

Para o público que os acompanha, o novo trabalho pode soar mais sombrio, com arranjos que dão preferência às nuances mais graves e de pequenos ruídos que contribuem para isso, muito diferente da levada mais pop de Bloom (2012) ou da candura nostálgica de Teen Dream(2010), álbuns responsáveis por afirmar o duo como um dos mais influentes no cenário do dream pop e da música alternativa da contemporaneidade. 7 é a prova de que o duo Beach House, mesmo que com mais de uma década de carreira, consegue se manter firme e seguro na produção dos seus registros. A cada novo álbum, há surpresas, novas referências e um traço inventivo, mas sem esquecer-se das peculiaridades que os tornaram tão relevantes para o gênero do Dream Pop. Resenha completa.| Ouça.

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Tuyo – Pra Curar

O trio curitibano Tuyo se apropriam do R&B/soul de forma muito particular para criar um álbum que destoa de tudo o que temos visto no pop brasileiro. O aspecto futurista, as letras que tratam de desilusões de maneira muito crua e as interpretações criativa dos integrantes fazem desse registro uma surpresa bem interessante para quem acompanha as movimentações da cena musical BR atual. É um trabalho que não esconde os sentimentos, fazendo das faixas uma poderosa ferramenta para curar agruras com honestidade, olhando sempre à frente. Um universo lírico belíssimo que é potencializado pelas batidas eletrônicas e uma percussão muito bem marcada.| Ouça.

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Maria Beraldo – Cavala

O disco é um dos experimentos pop mais experimentais do ano e também o mais punk (na episteme do termo). Na sonoridade há muita aproximação com o jazz e com o rock, mas sem se ater ao formalismo de cada gênero.  Guiado por um senso de autodescoberta, Beraldo aborda diversos aspectos sobre sexualidade, como é o caso de “Amor Verdade” e “Gatas Sapatas”. Tece ainda um panorama do lugar feminino ao falar do mito grego de Helena, a mulher mais bela do mundo. Resenha completa. | Ouça.

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Noname – Room 25

A rapper Fatimah Warner, de Chicago, promove o reencontro do rap com a poesia com sua métrica e cadência muito particular. O seu novo disco trafega pelo soul, jazz, pop e R&B, mas o que se destaca mesmo é sua interpretação, seu jeito de rimar e o modo como consegue costurar as histórias trazidas pelas músicas. Entre os temas estão política, negritude e racismo. | Ouça.

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Let’s Eat Grandma – I’m All Ears

A dupla inglesa inglesa Let’s Eat Grandma reuniu elementos que são caros ao pop, como a vivência adolescente para criar um disco muito honesto sobre a experiência de ser jovem. E fez isso com épicos que misturam dream-pop, música eletrônica e rock. Uma grata renovação do gênero visto em 2018 com outros artistas, como Soccer Mommy e Snail Mail. | Ouça.

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Courtney Barnett – Tell Me How You Really Feel

Courtney Barnett segue lançando seu olhar irônico para o cotidiano, sempre com a perspectiva de suas próprias experiências. Medos, ansiedades, desilusões e paixões são tratados em faixas levadas por arranjos bem construídos e que tentam fugir do óbvio em relação ao que já vimos no rock alternativo. É um trabalho que tem como foco um debate sobre o machismo, talvez um dos mais importantes lançados este ano nos EUA. Barnett consegue criar uma relação de empatia com seu ouvinte, o que a torna um dos nomes mais importantes da inovação do indie-rock hoje. | Ouça.

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The 1975 – A Brief Inquiry Into Online Relationships

Fazendo um registro de nossa experiência atual mediada pela internet, o The 1975 se propôs a ousada tarefa de falar de algo sem perspectiva histórica. Ansiedade trazida pelas redes sociais, saúde mental, medo, violência e política são alguns dos temas trazidos pelo quarteto britânico. Em meio a essa inquietação toda temos um trabalho de rock muito potente, com guitarras misturadas a batidas eletrônicas e experimentações vocais.| Ouça.

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Blood Orange – Negro Swan

Devonté Haynes, o Blood Orange, novamente segue fazendo seus protestos em forma de música, sempre denunciando o racismo institucional. Mas aqui vemos uma inflexão, um momento de tratar de temas mais pessoais e de fortalecer laços de comunidade. Negro Swan traz em sua poética o tema da solidão da pessoa negra e gay em um mundo violento. E faz isso com um R&B minimalista e experimental, que forma pontes com o dance e o pop. | Ouça.

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Mestre Anderson Miguel – Sonorosa

Produzido por Siba, o primeiro disco do jovem Mestre Anderson Miguel desconstrói o paradigma paternalista e preconceituoso que associa a cultura popular a um ideal folclórico e estático. Fazendo conexões com o pop contemporâneo, o músico da Zona da Mata pernambucana traz um trabalho interessante que reúne maracatu, ciranda e outros ritmos.| Ouça.

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Ariana Grande – Sweetener

O fim do namoro com o rapper Mac Miller, o atentado terrorista ocorrido durante um show da última turnê da cantora e o novo começo de uma vida amorosa, ao lado de Pete Davidson, que leva seu nome em uma das canções do disco, são fragmentos da vida de Ariana Grande que foram essenciais para dar vida a Sweetener. Um álbum que mesmo não reproduzindo exatamente o som pop dos antecessores, é um experimento assertivo ao dar um frescor e um novo enquadramento na discografia da cantora, mas, claro, sem deixar de ser coeso com a estética sonora estabelecida por Ariana desde o seu debut. Resenha completa.| Ouça.

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Cardi B – Invasion of Privacy

Em uma seara com tão poucas representantes, Cardi B é um nome a ser celebrado. Consegue atuar em espaços muito ligados aos seus colegas masculinos, caso do gangsta rap, mas adicionando toques inovadores apenas por conta de uma mudança de perspectiva. Bastante influenciada pelo rap old school dos anos 1990, seu som é comedido nos artifícios exagerados de produção muito utilizado hoje em dia. Ao contrário, seu flow é bem raçudo, preciso e direto como se saísse de uma batalha de rimas. Tem também o diferencial de adicionar elementos latinos em suas faixas, com destaque para as batidas com injeções de dancehall e reggae.Suas letras são reflexos da superação de sua biografia cheia de percalços e por isso temos versos tão potentes de auto-empoderamento, superação e conquista. Resenha.| Ouça.

cupcakke

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CupcakKe – Ephorize

Quase todo o disco é repleto por uma produção bem próxima do pop, além de trazer uma mistura de gangsta com eletrônica. Tudo isso aliado a letras absurdas, sem rodeios, hilárias na maior parte, perfeitas pra chocar quem ainda coloca pressão nas mulheres por um comportamento tido como “adequado”. CupcakKe está mandando todo mundo se fuder, sem pedir desculpas, e com razão. Ephorize é seu melhor trabalho e foi todo escrito por ela e com produção de Def Starz e Turreekk. Essa MC é uma das melhores surpresas do Hip Hop e chega para ocupar um lugar ainda muito reivindicado por homens, no caso o debate aberto sobre sexo. Resenha. | Ouça.

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Empress Of – Us

A inovação no pop hoje, aparentemente, passa pelos latinos. Unindo experimentalismo e uma atenção especial à estética visual, nomes como Kali Uchis, Alex Anwandter e agora a Empress Of têm trazido trabalhos bem interessantes. A cantora e produtora estadunidense Lorely Rodriguez chamou atenção em 2015 com o disco Me, um trabalho conceitual e minimalista onde falava de solidão e empoderamento. Agora, em Us, ela reafirma sua voz com letras sobre senso de comunidade e adiciona mais elementos ao seu pop mínimo. Resenha completa.| Ouça.

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Alex Anwandter – Latinoamericana

Latinoamericana está comprometido com um discurso de integração do continente, mas faz isso de forma crítica, sem romantizar. A ideia, como fica claro na faixa-título, é invocar a identidade dos povos latinos como uma grande frente ampla a lutar contra a intolerância. O ativismo musical de Anwandter encontra por vezes com uma melancolia baseada em solidão, sobretudo em temas ligados à sexualidade. Dessa forma, o disco trafega entre uma inquietude política e uma introspecção bastante emotiva, o que só comprova o quanto esse álbum é complexo e belo. Resenha.| Ouça.

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Luiza Lian – Azul Moderno

Em seu terceiro disco, Luiza Lian faz um trabalho complexo e cheio de camadas sobre vivências femininas nos dias atuais. Batidas quebradas, sussurros, experimentações e ambientações sonoras dialogam com uma produção meticulosa e lindamente arranjadas. Tudo para carregar letras que falam de libertação, ancestralidade, amor e sexo. Com esse disco, Lian assume uma posição de destaque no novo pop brasileiro e reafirma sua poética única. | Ouça.

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Carne Doce – Tônus

Tônus, terceiro registro da banda goianiense Carne Doce, é com certeza um dos melhores trabalhos já entregues pela banda. O disco traz composições mais introspectivas e delicadas em relação aos registros anteriores. As canções exploram temas bem particulares dos integrantes que, por vezes, o ouvinte pode se encontrar em alguns versos, mas, logo em seguida, se perde em meio às confissões e amarguras de canções como “Comida Amarga”,
por exemplo. Um reflexo de um eu-lírico profundamente enraizado nas experiências particulares. – Lucas Nash.| Ouça.

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Kali Uchis – Isolation

Kali Uchis em seu primeiro registro entregou um trabalho bem lapidado. Com um catálogo que abrange diversos gêneros e influências desde um r&b lascivo; ao um soul com boas doses nostálgicas do que era produzido pela Motown e até a ritmos mais contemporâneos, como o reggaeton; Uchis, com ajuda dos seus produtores, soube de forma assertiva entregar um trabalho coeso que transita por uma atmosfera hipnótica e voluptuosa. | Ouça.

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Mitski – Be The Cowboy

A cantora nova-iorquina Mitski, aqui em seu quinto álbum, aponta para novos caminhos dentro do já conhecido indie-rock. De fato ela sempre se pautou por um olhar pouco usual e mais inovador para o gênero, mas aqui em Be The Cowboy ela alcançou o maior êxito de sua carreira com arranjos sofisticados e que abraça, sem medo, todas as possibilidades do pop. Resenha.| Ouça.

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Robyn – Honey

A sueca Robyn retorna com seu pop melancólico em Honey, mas desta vez fazendo um trabalho anti-climático, o que quebrou expectativas para quem esperou o sucessor de Body Talk, lançado oito anos antes. Mais madura e com um domínio ainda maior das possibilidades do pop e da eletrônica, a cantora lançou um trabalho que foge das convenções do dance, ao mesmo tempo em que traz uma assinatura muito particular de seu estilo (o modo como fala de sentimentos de forma direta, as batidas introspectivas). Minimalista, Robyn quer propor uma nova experiência da pista de dança, com novas cadências, novos ritmos, o que deve influenciar o mainstream pop, ainda muito verborrágico e barulhento, nos anos seguintes. | Ouça.

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Elza Soares – Deus é Mulher

Depois do clássico A Mulher do Fim do Mundo, Elza Soares, prestes a fazer 88 anos, lança um disco onde se reinventa mais uma vez. Agora ela traz uma sonoridade mais punk para falar da necessidade de se criar laços de afeto no Brasil atual. Afeto para enfrentar os reacionários, racistas, homofóbicos e machistas. O olhar que Elza tem do Brasil e seu povo é bastante otimista, o que faz deste disco um instrumento de luta para enfrentar a ascensão do fascismo. É um trabalho mais solar que o anterior e também mais experimental sonoricamente falando. Há um diálogo do samba com o metal e punk, um trabalho com percussão com ares de desconstrução, além de hip hop. Ainda que o impacto desse disco tenha sido menor por conta da força monumental do anterior, temos aqui Elza com vigor renovado, correndo riscos e buscando novas referências, o que é impressionante. Um disco necessário para o Brasil que teremos daqui em diante.| Ouça.

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Snail Mail – Lush

Lindsay Jordan, conhecida como Snail Mail, tem apenas 19 anos e é um dos nomes responsáveis pela renovação do rock independente. Seus arranjos de guitarras são carregados de emotividade e chegam sem um filtro excessivo de produção como estamos acostumados a ver no rock nos últimos anos. Ao mesmo tempo que existe essa verve autêntica e crua, Lush está longe de ser um registro lo-fi. Ao contrário: é um dos trabalhos mais sofisticados do gênero, com mixagem impecável, notas audíveis e arranjos que mesclam guitarras com instrumentos como trompa. | Ouça.

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Janelle Monáe – Dirty Computer

Entre os temas levantados por Monáe desta vez estavam a libertação do corpo feminino, a sexualidade aberta, as questões de gênero, raça e a estética queer. Comunicando sua arte em som e imagem, Dirty Computer faz jus ao fato de ser um álbum visual, com clipes e artes que formam um conjunto interessante para trazer a visão da artista. No dia do lançamento do disco, a artista lançou seu “emotion picture”, um filme que discute de forma conceitual as referências trazidas no disco como um todo, misto de ficção-científica e comentário político para falar, sobretudo de sexualidade e gênero. Na América futurista de Janelle, a plenitude existe apenas no reforço da própria individualidade. E, evidentemente, isso gera conflitos, uma vez que a sociedade tende a enxergar as minorias, os pobres, etc, como “bugs”, falhas no sistema, daí o nome do disco, Dirty Computer (computador sujo, defeituoso). O disco é uma celebração de todas as pessoas marginalizadas, especialmente as mulheres negras confiantes de sua própria sexualidade. Resenha.| Ouça.

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Rosalía – El Mal Querer

Fenômeno do pop de 2018, a espanhola Rosalía fez um trabalho complexo que une tradições espanholas e latinas, como o flamenco e o fado em meio uma produção pop muito bem construída. Contando com o reforço na coprodução de El Guincho, ela fez um trabalho conceitual sobre uma mulher que passa por diversas estágios de uma paixão e se vê presa em uma relação abusiva para, enfim, se libertar. Rosalía contou com todo o aparato do pop mainstream – contrato com uma grande gravadora, clipes caros e superproduzidos, divulgação pesada – mas, ainda assim, fez o trabalho mais experimental e ousado do pop durante todo o ano. Seu talento vocal é inquestionável e aqui foi usado para potencializar a história trazida pelo álbum, seja dando destaque a uma proposta mais introspectiva, seja arrasando nos agudos para reforçar momentos de dor. As faixas utilizam a tradição não como um verniz, mas como combustível de um pop moderno, vivo, anti-folclórico. O modo como consegue fazer o diálogo do flamenco com o trap é simplesmente genial. El Mal Querer é um marco na música pop, um disco que certamente indica caminhos novos e instigantes contra a repetição e apatia que o gênero chegou a viver nesta década. O gênio de Rosalía é a uma prova que o público anseia por novas experiências, distantes das já batidas fórmulas de sucesso. | Ouça.

capa do album bluesman do rapper baco exu do blues

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Baco Exu do Blues – Bluesman

O rapper baiano Baco Exu do Blues chega ao segundo disco como uma das vozes mais potentes do rap brasileiro. Bluesman, que chega menos de dois anos depois do elogiado Esu, fala de opressão, racismo e segue o estilo do músico em reunir uma vasta coleção de referências que vão de Van Gogh, Exaltasamba, Jay-Z, Jorge Luís Borges e Kanye West. Esteticamente, o disco é ainda mais experimental que o seu trabalho de estreia, que já era um marco no rap BR por abrir tantos caminhos sonoros em busca de uma sonoridade singular, mais aproximado ao jazz e pop. Aqui ele vai ainda mais fundo nas suas pesquisas de sons, se aproximando do pagode, do samba, do funk. Mas o maior destaque do disco é seu tom de manifesto do artista que Baco Exu do Blues construiu de si mesmo. Ele usa o termo “blues” para além do gênero musical. Soa mais como um rótulo de resistência, mas também serve para definir o negro (e o que pode ser negro). “Tudo o que quando era preto era do demônio / e depois virou branco e foi aceito eu vou chamar de blues”, diz ele na faixa-título. “Jesus é blues”. Resenha completa. | Ouça.

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