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O diretor Luiz Villaça. (Divulgação).

Um papo com Luiz Villaça, diretor das peças “Eu de Você” e “O Que Só Sabemos Juntos”: “tudo o que fazemos é um pouco político”

Em passagem pelo Recife, o diretor e produtor discute o papel do teatro no Brasil pós-pandemia e os desafios de produzir um espetáculo

Contar histórias, imaginar personagens, observar e conversar atentamente com qualquer pessoa fazem parte da rotina de Luiz Villaça seja por trabalho ou por lazer descompromissado. Com uma leveza e bom humor ímpares, Luiz é do raro tipo de pessoa que se interessa por gente de todos os tipos.

O paulista de 59 anos é diretor, produtor e roteirista de cinema e teatro. Daqueles que conseguem imprimir um estilo autoral em cada produção sua, seja no cinema, em séries, na TV aberta, documentários ou em teatro. 

O diretor se interessa em levar histórias reais para a dramaturgia, em uma brincadeira entre ficção e realidade, e depois de anos dedicado à direção no cinema e na TV, desde 2011 vem se debruçando no teatro e assina a criação e a direção das peças Eu de Você e O Que Só Sabemos Juntos. A primeira está em cartaz em curta temporada até o próximo sábado (12) no Teatro de Santa Isabel, no Recife.

Nesta entrevista, Luiz Villaça fala sobre a criação da peça, seus projetos na produtora Café Royal, sua parceria de trabalho e de vida com a atriz Denise Fraga, sua relação com Tony Ramos, as artes no Brasil, seu processo de criação e o trabalho em família.

Revista O Grito! – Você começou sua carreira dirigindo filmes no cinema, também já fez séries para televisão e agora está no teatro, existe alguma diferença entre essas linguagens e qual é? 

Luiz Villaça – Eu comecei com cinema, né? E meu primeiro filme se chamava Por Trás do Pano (1999) e ele conta a história dos bastidores do ensaio de uma peça. Eu acho que aí está um pouquinho da formiguinha que começou a entrar na minha cabeça para, de fato, encarar o teatro. Neste longa aconteceu uma coisa muito legal, porque eram muitos planos sequência e eu ia muito de um lugar para o outro, eu fiz o filme inteirinho dentro de um teatro, incluindo os cenários das casas.

Eu lembro que uma semana antes de começarmos a filmar, eu fiz um corrido do filme porque nós tínhamos ensaiado tanto que eu levei todos os atores no teatro e fizemos o filme ao vivo, quase teatral mesmo. Eu sou muito apaixonado por ator, pelo trabalho com atores e essa relação, sou fã número 1 de quem se aventura a ser um ator, uma atriz.

Voltando à pergunta, eu acho que são muito diferentes. São primos, mas eu diria que primos de segundo grau. No cinema quando você acerta uma cena, dizemos: “Pronto! Eternizou, nessa cena ninguém mais mexe”. Já no teatro você tem uma felicidade imensa como diretor que é a de estar sempre arrumando, você não eterniza. É o contrário, porque você tem um dia maravilhoso e no outro deu errado, aí você pode ensaiar e a coisa pode mudar.

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Tony Ramos, Villaça e Denise Fraga em ensaio da peça O Que Só Sabemos Juntos. (Divulgação).

Quando você faz um filme você pensa que poderia fazer muitas coisas de maneira diferente, e no teatro você pode mudar todo dia, você nunca vai eternizar a cena. Fora isso, tem uma coisa da linguagem porque o teatro fazemos um plano-sequência de uma hora e meia dar certo, e o trabalho com luz é a montagem que nós temos. Porque a luz, de uma certa forma, acaba te dando uma linguagem para a peça. Não tem close, não posso cortar e falar pra fazer mais fechada. No cinema é o contrário, você tem todos os recursos possíveis para contar uma história e o plano-sequência, quando você faz, é um luxo.

Já a criação eu acho que é do mesmo sangue. Desenvolver um texto, chegar no melhor roteiro possível e o trabalho de atores, que é o que mais me encanta. Em ambos, se você tiver a oportunidade de pegar um roteiro e aprofundar plenamente, é a coisa mais deliciosa no mundo. Eu brinco que é a profissão mais deliciosa do mundo, não existe nada melhor no mundo do que você inventar, brincar, criar, tentar fazer uma cena, isso é muito lindo e é o que une as linguagens.

Em 2019 você fundou a produtora Café Royal, e já naquela época com o streaming ainda engatinhando, foi uma maneira de se organizar coletivamente para o novo modelo de mercado?

Em termos de audiovisual eu gosto de sempre brincar e testar coisas. Tem um marco que foi o Retrato Falado que eu fiz na Globo, que era uma grande brincadeira que se tornou séria. Era um formato que nós gostávamos muito de fazer e era uma coisa nova na época. Mas chegou um momento na minha vida, um pouquinho antes do streaming, que foi a TV a cabo e eu falei: “Aqui é um caminho muito legal para começarmos a desenvolver coisas um pouquinho diferentes”. Quando eu saí da Globo, emplaquei de cara uma coisa muito legal e, talvez, mais livre por ser no cabo. Fiz o Três Teresas e depois o Vizinhos, que são duas séries que eu gosto muito do resultado delas, tinham um frescor ali que só o cabo daria, até porque era uma coisa menos de concorrência, audiência, era outra busca. Só que durou pouco e já veio o streaming.

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Tony Ramos e Denise Fraga em “O Que Só Sabemos Juntos”. (Foto: Cacá Bernardes/Divulgação.)

A Café Royal é uma produtora de cinco sócios e nosso sonho, que está em formação, é que ela seja um núcleo de produção, mas não apenas nosso. Então, é bonito de ver que hoje a produtora tem um filme do Felipe Hirsch, que não é sócio, é um diretor associado, sobre Paulo Freire. Tem um filme da Joca, que é sócio, que é a história da Paula e da Hortência, jogadoras de basquete; tem o Júlio Rei que acabou de lançar o documentário Amor Radical; eu tenho meu projeto de longa que não posso contar ainda o que é, e também estou desenvolvendo uma série para Netflix que infelizmente também não posso te falar.

Aí fazemos O Que Só Sabemos Juntos, o Eu De Você, então a Café Royal virou um lugar de encontro, de criação, como é um café mesmo, um lugar que foi criado para ser um lugar legal de desenvolvimento, de criação e eu acho que é um formato que o streaming trouxe, que a TV aberta cada vez mais assimila. E eu acho muito legal estar com teatro, porque a Café Royal também trabalha com publicidade, e é muito curioso que por causa de uma peça nós acabamos fazendo uma campanha da Vivo que ainda não saiu, e são coisas muito ligadas ao que criamos no teatro, então acaba sendo um lugar múltiplo, o que é bem legal. 

Durante o processo de produção e desenvolvimento do “Eu de Você, vocês alguma vez imaginaram que ele seria esse sucesso estrondoso, de público e crítica, esse fenômeno popular sem precedentes?

Jamais (risos). Por um tempo, foi exatamente o contrário, sabe? Se pegarmos a história do Eu de Você, eu acho muito bonita porque a ideia original surgiu em um café numa praça perto de casa, eu, a Denise e o Zé Maria, que é o nosso sócio e produtor das peças, que é um produtor criativo, começamos a conversar e pensamos nessa ideia central. E daí acabou que nós pedimos essas histórias reais, anunciamos no jornal e nas redes sociais e chegaram algumas para gente. Eu tenho que assumir para você que as pernas tremeram porque as pessoas mandando pra gente as histórias delas. Isso é uma responsabilidade imensa. A ideia era começar em lugares pequenos, teatros de 300 lugares e falavámos: “Acho que está de bom tamanho, é isso, vai ser uma temporada bacana, talvez consigamos ir ao Rio…”, a gente tremia no início dos ensaios. É muito curioso que as histórias vão se juntando, vai se tornando uma grande história que a todos nós pertence e tem uma coisa muito bonita na peça, que fomos percebendo depois, é um texto da Simone de Beauvoir que foi incluído depois da parada da pandemia e fala uma coisa muito bonita sobre como a arte, de certa forma, te torna parceiro, você divide as suas angústias, suas tristezas, porque você se reconhece. 

Quando você lê um livro, assiste a um filme, vai a uma peça e elas se comunicam com você, você fala: “Eu não tô sozinho no mundo, eu tô dividindo o mundo com mais alguém, não sou só eu que pensa isso. Esse cara que escreveu essa peça pensa isso”. E nós fomos lendo as cartas e quando fomos juntando, pensamos que eram histórias da gente, da nossa vida, falando de questões extremamente importantes do nosso cotidiano, do nosso dia-a-dia, mas em um formato que sabíamos que ia ser legal. A gente jamais ia imaginar que depois de uma semana em cartaz nós tínhamos uma temporada esgotada, e aquilo começou a ser falado, começamos a receber convites pra viajar e aí parou por conta da pandemia. 

Aí foi um soco no estômago e pensávamos se um dia iríamos voltar. Será que um dia vamos sair de casa? Porque todo o mundo se preparou para duas semanas e de repente, nós estávamos 6 meses, um ano. E quando voltou, parece que a peça fazia mais sentido ainda depois do que a gente viveu, porque era uma reunião.

Então, eu jamais podia imaginar que iríamos conseguir porque sair de São Paulo pra ir pro Recife tem um custo que é muito grande pra gente. Tudo vem graças à mudança de Governo e a volta da Lei Rouanet, que é importantíssima e foi usada eleitoralmente, com uma ignorância mordaz porque a maioria não sabe como funciona, porque se soubesse, não teria como criticar.

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Denise Fraga, em cena da peça “Eu de Você”, dirigida por Villaça. (Divulgação).

Podemos dizer que o Eu de Você é uma evolução, um filho mesmo, do Retrato Falado (2003 – 2007)?

Não tenha dúvida! Tanto que assim quando decidimos fazer a peça, até por uma questão de ética, tivemos uma conversa lá na Globo explicando o que íamos fazer, e eles disseram: “Claro, vão em frente”. Porque tem uma coisa próxima no pensamento, de contar histórias reais, mas quando você for assistir, vai entender que não tem nada a ver com o Retrato Falado. Obviamente é o mesmo diretor, mesmo criador, mesma atriz, mesmo grupo, né? Então, acho que é uma sequência de um trabalho. Assim como, de uma certa forma, O Que Só Sabemos Juntos é um filho do Eu de Você pela forma que ele começou não tem como não classificar como um filho, pela historinha de como começou, como ele nasceu, que está diretamente ligada ao Eu de Você.

É até isso que queremos saber, você já tinha trabalhado com o Tony Ramos em A Mulher do Prefeito, e depois no 45 Minutos do Segundo Tempo, como foi pra você receber um convite do Tony pra uma peça, depois dele ficar 20 anos sem fazer teatro?

Se você conhecê-lo, três minutos depois, você vai estar apaixonado. Porque é inacreditável o que é o Tony. Ele é incrível, é certamente um dos melhores atores do mundo, é de uma generosidade absurda, é um super parceiro, você começa a conviver com ele e ele vira um grande amigo seu. E quando a gente se conheceu, foi na série A Mulher do Prefeito (2013), e no último dia que ele filmou, ele veio dar tchau, eu fui levar ele no carro e na hora que ele saiu, eu caí em um choro compulsivo. Não conseguia parar de chorar de emoção de ter convivido com ele. 

Na hora eu pensei: “Eu tenho que voltar a trabalhar com esse cara de qualquer forma na minha vida” porque foi muito importante. Conversando com ele, eu falei que tinha escrito um projeto com uns parceiros e que escrevi pensando nele. Ele leu e pirou no 45 do Segundo Tempo e foi demais de novo. E no 45, de vez em quando ele falava: “Eu tenho vontade de voltar ao teatro, de vez em quando penso nisso, fazer um clássico, um Moliére, algo que seja legal, popular” e eu falava com ele pra pensarmos em algo. Fizemos o Eu de Você e o Tony já estava muito mais próximo da gente, ele foi pra estreia da peça em São Paulo. 

Acabou a estreia, ele elogiou e tal, eu agradeci, aí veio a pandemia, anos depois, estamos no Rio de Janeiro com a peça e o Tony me liga e fala: “Pô, Luiz, eu queria ir lá assistir o Eu de Você”, eu falei: ”Não, Tony, você já assistiu, você foi na estreia!” e ele: “Eu sei, eu quero ver de novo” , aí eu brinquei: “Que paciência! Que saco, hein!? Pra que você vai assistir de novo?”, aí ele foi ver e depois fomos jantar e ele falou assim: “Olha, eu quero voltar a fazer teatro, mas pra mim só faz sentido se for uma coisa como a que vocês estão fazendo aqui, eu quero ter essa relação que vocês criaram com o público, esse diálogo com o público que vocês conseguiram gerar, eu quero vivenciar na minha vida”. 

E foi a coisa mais linda do mundo porque, na verdade, o Tony é um ator que eu não preciso falar nada dele, mas ele chegou no primeiro dia de ensaio e deu tudo de si. Porque como foi no Eu de Você, onde criamos a peça nos ensaios, então fomos construindo a peça aqui também. Era muito bonito de ver como ele realmente se jogou, improvisava, rolava no chão, dançava com a Denise.

Obviamente pra mim, às vezes não tem como, eu olho pro palco e penso “Olha o que rolou!”, eu tô com a Denise, que é a minha atriz preferida da vida e o Tony junto. Não tem mais nada que eu imaginasse de melhor na vida. 

Seu filho Pedro está trabalhando com você na Café Royal também, dirigindo e produzindo curtas. Como é pra você vê-lo seguir na área e trabalhar com ele?

O grande susto que eu tive foi quando ele olhou pra mim e falou: “Eu quero fazer cinema”. Eu achava que ela ia falar “eu vou fazer Direito, Ciências Sociais, Jornalismo” e de repente ele aparece com cinema. 

Agora, o Pedro é um apaixonado por cinema, eu brinco que ele é uma enciclopédia rara, eu ligo pra ele e tiro dúvidas sobre alguns filmes. Tanto que hoje em dia quando vou ao cinema, eu ligo pra ele e falo: ”Pedro, qual eu assisto?” e ele já me indica falando “Pra você esse, se fosse eu assistiria outro”, ele virou o meu conselheiro cinematográfico. 

Foi um susto, mas obviamente que eu acho muito lindo ele estar entrando nessa área, se formou e já fez dois curtas que já rodam por aí em festivais. Na pandemia, fizemos juntos um projeto o Horas Em Casa, que nós adoramos, fizemos eu, ele e a Denise em casa com uns parceiros escrevendo e conseguimos fazer algo pro YouTube. 

Ele assumiu agora o final de um documentário sobre o Eu de Você, que está sendo produzido pela Café Royal. O Pedro assumiu para finalizar isso. Vai até filmar em Recife no Santa Isabel. 

Ao dirigir uma produção, o que é que você gosta de se debruçar mais? Os atores, o texto, a fotografia? O que te interessa mais?

Eu acho que nós temos que trabalhar muito, exaustivamente, e nunca ter preguiça de um bom texto. É a base de tudo. No meu caso específico, acho que tudo o que nós fazemos é um pouco político, fazemos coisas que esperamos que sejam pontes de discussão. 

Nós não estamos trazendo regra, é assim ou é assado, pelo contrário, queremos que se abram boas discussões, o nosso desejo é que você vá assistir O Que Só Sabemos Juntos e o Eu de Você e saía de lá com bons assuntos de discussão sobre a vida, de reflexão, da quebra de solidão e eu só acredito nisso, necessariamente, com o profundo mergulho no texto. 

Feito isso, que eu acho a coisa mais deliciosa do mundo, vem a segunda mais deliciosa que é encontrar os atores e começar a ver esse texto nascer, sair da boca deles. Ainda tem o trabalho muito bonito, um trabalho aberto, de grupo. Tem a discussão, a mudança dos textos. Para que o texto caiba na boca daquele ator, às vezes tem que ter um ajuste. 

Essa primeira parte do texto e essa parte de quando o texto encontra o ator é a coisa mais gostosa do projeto todo. E quando você tem isso você está de braço dado com o que desejou colocar naquela peça, naquele filme. Pra mim, o mais importante é isso: texto e ator, e é isso que leva a gente a caminhar.

Viver de arte hoje está mais fácil ou mais difícil do que há 30 anos quando você começou?

Quando eu comecei a trabalhar com cinema, foi exatamente em 1988, e quando nós do audiovisual começamos a pensar “Agora vai!” entrou o Collor e acabou com a Embrafilme, ou seja, acabou tudo. 

Então, você tinha que ver onde se exercitar, e onde era isso? Na publicidade, em vídeos institucionais para empresas e o terceiro lugar, que era o que nós fazíamos, era você tentar gravar um curta-metragem na raça com os amigos, vaquinhas e tudo o mais. Alguns editais fomentavam a produção, era um trabalho paralelo entre você sobreviver, pagar os boletos, e ao mesmo tempo não deixar de fazer suas coisas.

Eu brincava que eu era o Robin Hood, eu trabalhava [na publicidade] para tirar a sobrevivência e investir em longas ou em curtas. E um dia andando na praia com uma namorada de mãos dadas, antes da Denise, ela falou: “Por que que você tá quieto?”, eu falei: “Não, é que eu tô fazendo uma conta que se eu continuar trabalhando que nem eu tô e separar esse valor todo mês, como eu já estou fazendo, com 58 anos eu vou conseguir fazer o meu primeiro longa”, eu tinha uns 25, 26 anos, e fiz essa projeção de conseguir fazer meu filme 30 anos depois. 

Acaba a era Collor, vem o Itamar e recomeça o processo de incentivo ao cinema, ao teatro, que é o ínicio do que a gente vive hoje com a Lei Rouanet e a Lei do Audiovisual. Com esse processo eu fiz meu primeiro longa em 1998 e essa conta que eu estava fazendo foi em 1992, veja que louco. Seis anos depois, por conta da Lei do Audiovisual, aí nesse momento eu falei: “Vai ser possível! A coisa vai acontecer” e ali começou a acontecer mesmo, era um momento que você ficava feliz, eu lembro de assistir A Grande Arte, do Walter Salles no cinema, do filme da Carlota Joaquina, e ir assistir o nosso cinema. Tô falando desses dois que foram marcantes na época, tem o cinema de Pernambuco com o [Hilton] Lacerda e o [Claudio] Assis. Depois vem a outra turma toda, o Marcelo Gomes que eu virei fã número um do Cinema, Aspirinas e Urubus

Foi se criando ciclos de trabalho que você visualizava, e começou a chegar streaming, o cinema indo bem, TV aberta produzindo, o teatro bombando até que chega aquela coisa no poder que tentou destruir em quatro anos tudo o que construímos, mas nós somos tão fortes que ele não conseguiu. O que acontece hoje é que você tem um acúmulo de pessoas na área, e o mercado teve uma hora que parecia que ia pegar todo o mundo, mas deu uma retraída também. Quando que você ia imaginar que hoje, no cinema do Recife, você teria um Kleber Mendonça Filho, Cláudio Assis, Gabriel Mascaro, Marcelo Lordello, Marcelo Gomes e tantos outros, uma produção imensa e incrível que só foi possível por conta de tudo o que foi sendo desenvolvido. 

Qual a importância e a influência de São Paulo na sua obra? E qual a sua relação com Recife?

Luiz Villaça – São Paulo é o meu lugar, é a minha cidade. Eu moro aqui há 59 anos e eu tenho muitas histórias com essa cidade, desde criança com os meus avós, eu viajei muito por São Paulo. Eu moro numa região central e até hoje faço isso de ir em lugares que fazem parte da minha história, e coloco isso nos meus filmes, é uma cidade em permanente movimento, o que também tem uma beleza. É uma cidade que o tempo inteiro tá caindo uma coisa, mas tá subindo outra também. Eu sou apaixonado por São Paulo, não tem jeito, e até hoje apesar de ter 59 anos eu olho com um olhar de turista pra cidade, eu sou romântico eu gosto de ir tomar um café naquele lugar que eu conheço o velhinho que serve há 40 anos, o café nem é tão bom, mas eu tenho uma felicidade de saber que aquilo está acontecendo, assim como um novo lugar que aparece. E acabou que as minhas histórias são mais urbanas e se eu tenho que escolher uma cidade não tem como não escolher São Paulo, que é onde eu conheço, eu pertenço e tenho uma raiz.

A primeira viagem de avião que eu fiz na minha vida foi pra Recife. Eu tinha cinco anos de idade e fomos visitar um tio que foi morar aí e eu lembro de tomar água de coco em Boa Viagem e pensar que era a coisa mais linda do mundo, e até hoje acho. Olha o nome: Boa Viagem! E Recife é uma cidade muito forte culturalmente, muito linda também. Incrível o tanto de pessoas talentosas de Recife que eu já cruzei nessa vida. É um lugar que eu acho especial, muito importante para o Brasil cultura e politicamente, sempre foi, e que eu sinceramente fico emocionado em saber que eu vou estar em Recife porque desde que começamos o Eu De Você, nós sempre quisermos ir no Santa Isabel. Quando conseguimos foi uma felicidade enorme. É um lugar que me dá uma alegria enorme de ir.

A entrevista foi editada para maior concisão e clareza.

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