Crítica: O Filho de Deus, de Christopher Spencer

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Foto: Divulgação/FoxFilmes.
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Foto: Divulgação/Diamond Filmes.

O Filho de Deus é catecismo nível Hollywood

O timing foi perfeito. Cristãos poderão ir aos cinemas ver O Filho de Deus nessa semana santa sem medo. O longa de estreia do diretor Christopher Spencer tem zero de controvérsia, nenhuma passagem violenta demais, nenhuma elucubração, total ausência de polêmica e um tom didático. É como uma aula dominical em versão Hollywood.

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Spencer optou pela maneira mais convencional possível para recriar uma das histórias mais famosas do Ocidente: a idade adulta de Jesus, que começa quando ele começa a juntar seus apóstolos e vai até sua morte em Jerusalém, crucificado. É uma história contada diversas vezes no cinema, com bons e péssimos exemplos. O Filho de Deus não desperta opiniões exaltadas, como a violência quase pornográfica de Mel Gibson em A Paixão de Cristo (2004), ou o épico grandiloquente Jesus de Nazaré (1977), de Franco Zeffirelli. E fica bem distante de O Evangelho Segundo São Mateus (1964), de Pier Paolo Pasolini, que mostrava um Jesus Cristo mais realista, severo e revolucionário.

Nenhuma faceta de Jesus que abra margem a discussões foi trazida para esse O Filho de Deus, um longa que tem a seu favor apenas a bela fotografia e o trabalho de direção de arte, um dos mais belos vistos nas adaptações bíblicas recentes. O ator português Diogo Morgado também está ótimo como Jesus, encarnando a versão de aparência europeia entronizada no Ocidente por séculos. Ele consegue dar vida ao lado calmo e ao mesmo tempo firme do messias que se contrapôs à sociedade vigente.

Mas, isso é muito pouco para despertar um interesse que vá além do catecismo. Até os diálogos são transcrições exatas de trechos da Bíblia, o que deixa certas cenas maçantes. Há também um maniqueísmo perturbador, que reduz os personagens a uma mera caricatura. E no meio disso ainda temos as presenças femininas reduzidas a choros e conversas soltas aqui e ali. Maria (Roma Downey) e Maria Madalena (Amber Rose Revah) nunca ficaram tão escanteadas.

O filme é uma versão para os cinemas da minissérie em 10 partes exibida no History Channel, The Bible, com alguns extras. Se o intuito da produção foi puramente gospel, o longa é um dos mais sofisticados desse gênero. Se quis atingir uma outra audiência, o resultado foi bastante abaixo da média.

filhodedeusO FILHO DE DEUS
De Christopher Spencer
[Son Of God, EUA, 2014 / Diamond Filmes]
Com Amber Rose Revah, Diogo Morgado

Nota: 3,5