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(Divulgação)

“Coelho Maldito” explora as possibilidades do horror em contos inspirados no folclore coreano

Obra de estreia de Bora Chung no Brasil não se arrisca muito, mas traz domínio do gênero e bons personagens

Coelho Maldito
Bora Chung
Alfaguara, 232 páginas, R$49,92 / 2024. Tradução: Hyo Jeong Sung


Enquanto gênero literário, o terror tem possibilidades diversas quando se pensa naquilo que pode nos assustar, ainda mais quando o autor conta com elementos do sobrenatural. Fantasmas, maldições, monstros, robôs, tudo isso aparece na esteira de opções narrativas, e a sul-coreana Bora Chung decide explorar o máximo permitido em Coelho Maldito. A escritora estreia no Brasil com esse livro, após enorme sucesso em outros países.

Em dez contos diferentes, Chung cria universos particulares para explorar situações sobrenaturais, apesar de que alguns dos tormentos que seus personagens passam também são causados pela sociedade. Em quase todos as histórias a escritora cria personagens femininas que vivem o pavor tanto por conta dos males sobrenaturais como também pelas cobranças relacionadas ao papel social esperado da mulher; esse tom tem destaque em “Menorréia”, que nos traz uma protagonista assombrada por uma gravidez atípica. 

A autora tem inspirações locais, com base em maldições e bases folclóricas, como o conto homônimo que abre o livro e vai até os androides futuristas em “Adeus, meu amor”. Nessa gama de produções, ela tira proveito não apenas dos elementos sobrenaturais disponíveis, mas da própria forma de desenvolver o terror e o horror em seus contos. Às vezes opta pelo mistério convencional, oferecendo pistas ao longo da narração que talvez nos diga qual o caminho do final.

coelho maldito capa

O suspense também é trabalhado por Chung, melhor que o mistério, inclusive. A linha narrativa dela se assemelha a de outras de terror contemporâneas além da literatura. Personagens dispostos em situação atual misteriosa e que, ao longo de sua história perturbadora, reconstroem seu passado junto do leitor, geralmente resultando em um contexto maior surpreendente. Nada de novo, na realidade, mas muito bem executado. 

Dentro dessas histórias assustadoras, ela ainda acha espaço para um aprofundamento psicológico detalhado dos seus personagens, como é o caso de “Reencontro”, o conto que encerra a coletânea. 

Todos esses elementos juntos criam um livro que não traz grandes surpresas e ousadias, mas que mostra uma seleção interessante das abordagens do terror, além de algumas pitadas de reflexões em questões existenciais e sociais.

Coelho Maldito parece ser uma obra que acha o meio termo entre qualidade e quantidade, mas deixa uma boa impressão da autora e uma vontade de conhece-la em um texto que se aprofunde em uma única história.

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