Amaraji (PE)
Uma lona de circo e uma tela fizeram a festa de Amaraji, na Mata Sul de Pernambuco, durante a quarta edição do Cinema na Mata. A mostra gratuita aconteceu nos dias 10, 11 e 12 de abril e levou para a população da “cidade das cachoeiras” filmes documentários, de ficção e de animação numa iniciativa que evidencia a relevância deste tipo de evento com foco na formação de público e estímulo para a produção audiovisual.
Realizada pela Bondosa Terra e a Maria Bonita Produções e coordenada pela cineasta Clara Angélica e a pedagoga Jô Conceição, esta edição do Cinema na Mata homenageou o cineasta Lula Gonzaga, Patrimônio Vivo de Pernambuco, pioneiro no cinema de animação no estado, e também os grupos de bacamarteiros das cidades de Amaraji e Chã Grande, uma das atrações festivas da abertura do evento.
O tema central do Cinema na Mata deste ano, que ganhou o subtítulo Curta a Palavra e guiou a curadoria para formar a grade de programação, foi estruturado a partir de questões relacionadas com a memória, a tradição e o território. Os filmes selecionados, além dos desenhos animados de Lula Gonzaga, deram ênfase às histórias contadas pelos artistas populares das diversas manifestações da região como o maracatu, os bacamarteiros, os caboclinhos, os poetas cantadores e também os movimentos e lutas em torno da posse e preservação da terra.
Esse eixo também marcou as atividades que antecederam a mostra, com realização de oficinas formativas sobre cineclubismo, livros cartoneros e a oficina Da Poesia ao Vídeo, com Eva Jofilsan. Segundo a coordenadora do Cinema na Mata Clara Angélica, esses cursos tiveram uma participação ativa dos professores das escolas do município que passarão a ser agentes multiplicadores desse aprendizado.
A oficina de cineclubismo, com Iris Regina, foi ministrada em uma Escola de Referência do Ensino Médio e já motivou os participantes a programarem uma sessão de filmes com debate para o início de maio. Clara Angélica destacou o fato de nas cidades do interior existir pouca informação sobre a cadeia produtiva do audiovisual e que são eventos como o Cinema na Mata que aportam esse conhecimento.
Ela lembra que nas mostras anteriores esse objetivo também foi alcançado e este ano a oficina Da Poesia ao Vídeo resultou em um produto audiovisual. Com as leis de incentivo como a Lei Paulo Gustavo, Clara Angélica anunciou para breve a realização na cidade de uma oficina de documentários e a produção de um filme de animação.


Repercussão
A boa repercussão da mostra foi comprovada com o acolhimento da população de Amaraji, que durante todas as noites compareceu às sessões no circo armado no Pátio de Eventos. Cerca de duas mil pessoas acompanharam as atividades do festival, com destaque para o encontro com o cineasta Lula Gonzaga que reuniu 400 estudantes. A programação de filmes foi seguida com vivo interesse pelos espectadores e mesmo obras antigas como a animação A Saga da Asa Branca, de Lula Gonzaga, e o documentário Até Onde a Vista Alcança, de Felipe Peres, foram aplaudidas com entusiasmo.
Esse resultado, diz Clara Angélica, a deixa animada por ver os filmes pernambucanos agradando os espectadores. “Um mostra como esta vai contra tudo o que a população está acostumada a receber. As pessoas falam que a população não gosta disso, não gosta daquilo, mas como elas vão saber se gostam desse tipo de produção se elas nunca tiveram acesso a esse gênero de obras para decidirem? Nós queremos formar público e se a gente consegue tocar algumas pessoas, já estamos muito felizes”.

A mesma resposta positiva pôde ser mensurada no período da tarde na Mostra Infantil do Cinema na Mata, que teve como atração principal episódios da série de animação Bia Desenha, de Kalor Pacheco e Neco Tabosa. Na tarde de quinta-feira, alunos da rede pública de Amaraji e de sua zona rural acompanharam a sessão e depois do segundo episódio mostrado a garotada presente já sabia cantar o refrão da música de abertura .
Para o diretor Neco Tabosa, presente à sessão, a experiência lhe deu muito contentamento. “Na concepção de Bia Desenha colocamos coisas na narrativa justo para esse tipo de sessão, para ter conversa com o público, para os episódios serem vistos um atrás do outro e mostrar que desenhos animados não precisam ter sempre efeitos de raio laser saindo dos olhos das personagens”, diz.
Neco ressaltou a diferença de uma exibição na rua, ao vivo, das que a série teve na televisão comercial. “Lugares como esse é o contexto ideal, pois queríamos mostrar coisas da vida comum, da vida em família, dos afetos, como a personagem assando um queijo de coalho, comendo cuscuz, fazendo um bolo, e tudo isso falando com sotaque nordestino. E aqui, portanto, esse diálogo é mais possível, esse reconhecimento se dá na hora de forma direta”.
Além do Cinema Na Mata, Clara Angélica anuncia para o segundo semestre deste ano a realização do 2º Festival de Literatura de Amaraji. Nascida em Amaraji, a cineasta e produtora voltou a morar no local há 14 anos e vê nessas iniciativas, uma forma de retribuir o que a cidade contribuiu para a sua formação pessoal.
O editor Alexandre Figueirôa viajou a convite da organização do festival.
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