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Jason Schwartzman e Tom Hanks em cena. (Foto: Divulgação/Universal Pictures).

Em Asteroid City, Wes Anderson alça seu estilo inconfundível a outro patamar

Diretor faz filme visualmente deslumbrante e encantadoramente espirituoso, mas a trama agrupa tantos elementos que apenas arranha a superfície da sua complexidade

Em Asteroid City, Wes Anderson alça seu estilo inconfundível a outro patamar
3.5

Asteroid City
Wes Anderson

EUA, 2023, 1h45. Distribuição: Universal Pictures
Com Jason Schwartzman, Scarlett Johansson e Tom Hanks
Em cartaz nos cinemas

Poucos são os diretores que conseguem estabelecer uma forma tão própria de fazer filme que sua assinatura pode ser identificada de longe até pelo mais desatento dos olhares. Este é, indiscutivelmente, o caso de Wes Anderson (O Grande Hotel Budapeste e Moonrise Kingdom), cujo trabalho é reconhecido por sempre trazer uma fotografia vívida e meticulosa, flertando com a artificialidade, e um senso de humor sutil e inteligente.

Em Asteroid City, seu mais novo longa, não é diferente. Mas aqui o cineasta encontra espaço de sobra para aprimorar sua voz e expressão artística, apresentando um trabalho tão consciente de si que às vezes pode soar até como uma caricatura dele mesmo. Dito isso, é um filme que não deverá agradar a todos, mas que, provavelmente, dialogará bem com aqueles que já foram conquistados há tempos pela obra de Anderson.

Ambientado nos anos 1950, o longa nos arrasta para uma cidade no deserto americano homônima ao título do filme. A pacata cidade, famosa por um asteroide que lá caiu há milênios, anualmente promove uma convenção dos Astrônomos Júnior/Cadetes do Espaço, que reúne estudantes de todo o país e suas famílias para uma competição de bolsas de estudos. Mas, quando uma nave alienígena faz uma aparição durante o evento, todos são isolados em quarentena pelo governo estadunidense.

Antes mesmo de chegarmos a esse universo, porém, somos comunicados em uma espécie de prólogo em preto e branco de que nada daquilo que será mostrado é real. Um apresentador de programa de TV, interpretado por Bryan Cranston, explica que tudo não passa de uma encenação de uma peça ficcional escrita por Conrad Earp (Edward Norton) e dirigida por Schubert Green (Adrien Brody).

Asteroid City.
Adrien Brody interpreta Schubert Green, diretor do espetáculo Asteroid City. (Foto: Divulgação/Universal Pictures).

Dividido em três atos, o enredo principal, sempre apresentado em cores vívidas, é intercalado, do início ao fim, por cenas curtas em preto e branco que nos revelam os bastidores da peça. Através dessa abordagem metalinguística, Anderson faz um filme que fala de muitas coisas, das paranoias da Guerra Fria até a dor do luto, mas que, antes de tudo, fala sobre a arte e a beleza de se contar uma história.

Visualmente deslumbrante, Asteroid City traz a narrativa mais ambiciosa do diretor até o momento, embora venha estruturalmente sobrecarregada. Essa sensação é acentuada ainda mais pelo fato de o filme conjugar tantas estrelas do cinema, que é impossível não reparar o quão grande parte desses talentos acabam desperdiçados.

Steve Carell, Tom Hanks, Tilda Swinton, Margot Robbie, William Defoe e Scarlett Johansson são alguns dos nomes que compõem o elenco (e até Seu Jorge aparece por lá), mas muitos deles não chegam a ter sequer cinco minutos de tela. Esse excesso de personagens faz com que não reste muito o que ser feito por aqueles que protagonizam a história, como é o caso do fotógrafo de guerra enlutado que Jason Schwartzman interpreta.

Assim, a sensação é de que ao tentar agrupar tantos elementos, o filme acaba esvaziado, o que inevitavelmente o coloca em um terreno propenso a ser recebido com um certo estranhamento. Mas, embora peculiar, Asteroid City ainda consegue ser encantadoramente divertido, destacando o aperfeiçoamento do diretor dentro do seu próprio estilo tão singular e por isso mesmo vale ser conferido nas grandes telas.

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