E as máquinas irão governar. E as máquinas serão nós.
É o tipo de cinismo frio que nos acomete ao escutar de uma mulher que ela não deseja filhos. Conheci uma dessas outro dia, na cadeira de Responsabilidade Corporativa do meu MBA – a bonita da professora. Revoltada com o desperdício das classes altas, com teístas que se negam a apoiar contracepção, com a dissolução da terra em pó. Terrorismo poético, contra-propaganda. Flash mobs.
‘Professora, você é vegetariana?’, e depois que todo mundo foi embora, ‘Professora, você acha que tem jeito?’. E ela, exatamente como uma amiga comentou sobre o parecer dos acadêmicos científicos europeus: Não dá mais pra reverter nada não.
E é por isso que eu e meu marido não tivemos filhos.
E há tempos eu também acho que já era. E para mim ter ou não ter um bebê são duas opções igualmente plausíveis.
Então me olham como se eu fosse um cyborg, uma criatura transhumana que, muitos acreditam, estamos em vias de nos tornar. Qual o sentido do sensível, da curva, da maciez e umidade de uma mulher, se ela é indiferente sobre gerar uma criança?
Muito pós-tudo pro sujeito médio aceitar. Sei lá se para mim também, caso um dia eu engravide e ache que o sumo do feminino está em parir.
Porque, todos sabem, só os idiotas não mudam de idéia. Mas também só os argutos aderem para sempre às práticas mais incomuns.
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[+] Joana Coccarelli é jornalista, autora do blog Narghee-La e idealizadora do Coccarelli.art, coletivo de artistas, blogueiros e escritores. Escreve nesta coluna sobre estética, design e moda.