Dramas, celebração, reinvenção, experimentalismo, teve de tudo na música em 2024. Quem vivenciou o ano que passou ligado nas novidades musicais certamente se deparou com esse mosaico de emoções, nem sempre tranquilo, mas sempre emocionante de acompanhar.
Novamente destacamos aqui, no mesmo espaço, álbuns de artistas brasileiros e de outros países. E listas são conversas, por isso nossas escolhas são baseadas no que nossos críticos, repórteres e colaboradores ouviram. Por isso muita coisa pode ter ficado de fora, apesar de incríveis.
E buscamos sempre ir além de uma suposta “qualidade musical” e queremos também pensar discos a partir de seus impactos, no contexto em que saíram, no diálogo que estabelecem com diferentes gêneros, com o público e o mundo.
Você também pode acompanhar nossa lista no Spotify, com a playlist dos melhores discos.
Edição: Paulo Floro. Textos: Antônio Lira, Alexandre Figueirôa, Isabela Ferro, Matheus Nascimento, Paulo Floro. Arte: Felipe Dário.
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30
Fabiana Palladino – Fabiana Palladino
Fabiana Palladino já vive na música pop há pelo menos 13 anos, mas nunca esteve no centro do palco. Como instrumentista, ou cantando canções feitas por outras pessoas, a inglesa já colaborou com Jai Paul, Sampha, Jessie Ware e Maccabees. Após o fim de um relacionamento longo e vivendo a pandemia, Palladino decidiu que era hora de trabalhar a sua música, e foi a partir desse contexto que veio sua estreia. Sob muita expectativa, a cantora fez jus a tudo que era esperado dela. O disco autointitulado é uma produção curta, elegante e cheia de referências ao R&B dos anos 2000, e ao pop dos anos 1990 e 1980. – Antônio Lira.
29
Adorável Clichê – Sonhos Que Nunca Morrem
Com Sonhos Que Nunca Morrem, Adorável Clichê teve um dos melhores lançamentos do rock nacional esse ano. Dentro da discografia da banda, o álbum não tem muitas novidades; o grupo catarinense continua no shoegaze e aposta em músicas etéreas, com muitos sintetizadores e letras tragicamente nostálgicas. A questão é que, antes de tudo, o disco é uma boa surpresa para o rock nacional no geral, que ainda vive sob muitas das referências do estilo Emo – pelo menos no mainstream. – AL
28
Floating Points – Cascade
O produtor inglês Sam Shepherd novamente traz sofisticação e complexidade na sua interação entre o house, o techno e o ambient. São nove faixas certeiras que batem logo de cara e que trazem uma ressonância clara com o básico do house, que é render horas e horas na pista na maior energia, sem enjoar. Shepherd, no entanto, não deixa de lado seu talento único de unir uma produção azeitada com uma instrumentação pensada nos mínimos detalhes. Um poperô classudo, bem dizer. Leia a resenha completa. – PF
27
Pabllo Vittar – Batidão Tropical Vol. 2
Pabllo Vittar se consolidou como uma popstar de primeira grandeza no Brasil, mas não deixa de lado o seu projeto artístico de lançar um olhar pessoal para os ritmos populares do Brasil. Tem axé, brega romântico recifense, pagodão, eletrônica. Essa é a proposta da série de discos “Batidão Tropical”, que chega ao segundo volume. Sem se deslumbrar com as pressões mercadológicas, a drag superstar segue sendo uma legítima representante do pop brasileiro mais autêntico. – Paulo Floro
26
Caxtrinho – Queda Livre
Caxtrinho é outra estreia boa de 2024. Queda Livre é uma crônica que narra o cotidiano do Rio de Janeiro da perspectiva preta e periférica. Observando o cotidiano, Caxtrinho critica disparidades sociais, satiriza a branquitude e aponta os absurdos que normalizamos. Na produção Queda Livre fica mais interessante ainda com o samba sendo desmontado e reorganizado dentro de uma levada mais para o lado da música experimental. – AL
25
Beyoncé – Cowboy Carter
Segundo “ato” de uma trilogia iniciada no Renaissance (2022), o álbum dá continuidade à pesquisa de Beyoncé sobre as raízes de gêneros musicais, evidenciando suas origens nas culturas afrodiaspóricas. Cowboy Carter é um trabalho que parte do country para explorar suas possibilidades enquanto sonoridade, estética e poética, que celebra lendas como Linda Martell e Dolly Parton, assim como o interesse de Beyoncé por experimentar, resultando em alguns de seus momentos mais ousados, vocal e sonoramente. – Marcio Bastos
24
Hermeto Paschoal – Pra você, Ilza
Pra Você, Ilza é um tributo íntimo de Hermeto Pascoal à esposa Ilza da Silva, falecida em 2000. Composto entre 1999 e 2000, o álbum carrega 13 faixas de lirismo nostálgico, transformando memória e saudade em som. Do piano sereno ao sax apaixonado, Hermeto guia o ouvinte por recordações cheias de delicadeza e força, onde técnica e emoção caminham lado a lado. A obra é uma celebração da saudade, do amor e da memória. – Isabela Ferro
23
Mano Unica – Nascentes
Mano Unica aproveita, nesse resgate às raízes da cultura popular, para não só imprimir a musicalidade, como também levantar discursos necessários e políticos sobre os corpos criadores dessa cultura, entendendo que a mesma tem base negra e indígena. Como exemplos, em “Guerrilha”, é abordada a resistência ao processo de disputa por território originário forjado de um sistema colonial persistente na nossa sociedade; em “Në Waripë”, por sua vez, o extermínio ocasionado pelo garimpo. Leia a resenha completa. – Matheus Nascimento
22
DJ Anderson do Paraíso – Queridão
O Queridão é uma coletânea de músicas produzidas pelo DJ Anderson do Paraíso nos últimos anos e, além da qualidade na produção, tem sua importância como uma espécie de amostra dos movimentos do funk dentro de Belo Horizonte, uma vertente que não é nada parecida com suas “primas” paulistas, pernambucanas e cariocas. O funk de BH, sobretudo o de Anderson do Paraíso, vai para um outro caminho: espaçado, obscuro, com samples da música clássica, canto gregoriano, enfim, uma subversão do que, normalmente, se espera do funk. – AL
21
Sofia Freire – Ponta da Língua
Sete anos após seu último álbum, Sofia Freire apresenta Ponta da Língua, um trabalho que reflete sua evolução artística e as angústias geradas pela pandemia e pelo contexto político. A cantora se afasta das sonoridades anteriores para explorar uma sonoridade mais experimental e introspectiva, abordando temas como desejos, contradições e a necessidade de explosões catárticas. O resultado é um álbum ousado e seguro, mostrando a evolução da artista em novos territórios musicais. – IF
20
Mustafa – Dunya
O cantor e compositor canadense de ascendência palestina Mustafa explorou o folk e a eletrônica para criar uma ambientação intimista e aberta, neste trabalho de estreia, em que explora suas vulnerabilidades. Entre os temas trabalhados no disco estão questões culturais, religiosidade e afetos. Com uma voz e interpretações bem particulares, além de uma melancolia perene, o disco é um poderoso documento de um jovem artista com muito ainda por mostrar. – PF
19
Negro Leo – Rela
Rela é uma celebração do desejo em todas as suas formas. No sucessor de Cac Cac Cac e Desejo de Lacrar, Negro Leo explora o sexo como fio condutor,misturando percussões maranhenses, sintetizadores caóticos e vozes sobrepostas. Com produção de Renato Godoy e colaborações de Kiko Dinucci e Mbé, o disco é um delírio sonoro. Mesmo caótico, Rela é coeso, mantendo o controle criativo em meio ao excesso. – PF
18
Duquesa – Taurus, Vol. 2
Duquesa consolida sua força na cena musical com Taurus, Vol. 2, um álbum construído em versos de afirmação e talento em treze faixas que exploram autoestima e crítica social. Uma continuação direta do potente Taurus (2023), Duquesa demonstra sua habilidade sobre o flow e sua capacidade de traduzir as vivências de mulheres negras. Em meio a reflexões sobre a negação histórica do autoamor, Duquesa celebra a sua existência. – AL
17
Zé Manoel – Coral
Coral é o segundo capítulo dessa pesquisa que Zé Manoel tem feito sobre ancestralidade na música brasileira, iniciado em Do Meu Coração Nu (2020). Se antes o cantor se conteve nas investigações das raízes africanas, agora ele abre esse leque para entender as referências à música indígena e dos sons do Sertão nordestino. Nestes caminhos, inclusive, ele abre espaço para saudar outros legados artísticos como Johnny Alf, Miriam Makeba e Marinês e Sua Gente. No final das contas, Zé Manoel faz um trabalho de rememoração da música brasileira. – AL
16
The Cure – Songs Of a Lost World
O Songs of the Lost World é um disco simbólico desde o seu lançamento. É o primeiro álbum de inéditas do The Cure em 16 anos e também foi entregue ao público junto com um anúncio impactante. Segundo o próprio Robert Smith, que é o vocalista da banda, a ideia é que até 2029 o grupo lance mais dois álbuns e se aposente, se tudo correr como planejado. Inevitavelmente, o Songs of the Lost Worlds marca o início desse fim do The Cure. Além de tudo, ele também tem um tom nostálgico para iniciar essa despedida, com uma sonoridade obscura que faz referências ao próprio início da banda, ainda na década de 1970. – AL
15
Tyler, The Creator – Chromakopia
Tyler, The Creator propõe uma reflexão sobre a crise existencial de quem ultrapassa os 30 anos, cheia de dúvidas e tentativas de autodescoberta. O disco, que mistura sons e emoções em uma montanha-russa, traz temas como identidade, relações amorosas e orgulho negro, com uma busca frenética por autenticidade. Entre a introspecção e o caos, Tyler confronta suas máscaras pessoais e profissionais, expondo vulnerabilidades nunca antes tão visíveis. – IF
14
Fontaines D.C. – Romance
Em Romance, o Fontaines D.C. amplia seus horizontes sonoros, deixando para trás a nostalgia de Skinty Fia (2022). Com produção de James Ford, o grupo irlandês flerta com trip hop em “Starburster”, britpop em “Here’s The Thing” e dream pop em “Sundowner”. Apesar de algumas transições desconexas, a banda surpreende pela ambição e diversidade. Trata-se de um passo ousado e necessário. – IF
13
UANA – Megalomania
Primeiro álbum da recifense Uana, após vários ótimos singles lançados nos últimos anos, Megalomania surpreende a cada faixa. Brega, house, brega funk e afrobeat são alguns dos ritmos mesclados no caldeirão sonoro da artista, que brinca com sua voz, em interpretações cheias de malícia e vulnerabilidade, e também nas composições, não se deixando definir por rótulos. Uana é uma estrela pop de marca maior. – MB
12
Mdou Moctar – Funeral for Justice
A banda nigeriense Mdou Moctar conquistou o mundo com Afrique Victime, uma epopeia guitarrística em que denunciavam com ironia o neocolonialismo, o imperialismo e ainda celebravam a cultura tuareg. Quando voltavam ao seu país de origem, Mahamadou Souleymane e companheiros foram surpreendidos com a notícia do golpe de estado por militares no Níger. Esse novo trabalho é inspirado por esse acontecimento, o que se traduziu em um disco mais incisivo, raivoso, mas ainda assim complexo e rico sonoricamente. – PF
11
Adrianne Lenker – Bright Future
A vocalista e compositora do Big Thief retorna em mais um álbum solo onde explora suas próprias memórias para criar um disco íntimo, vulnerável e repleto de sensibilidade. Novamente apostando no folk e nas raízes musicais estadunidenses, mas adicionando sua interpretação vocal única, Lenker constrói um trabalho repleto de camadas, em que as memórias são a base poética para refletir sobre passado e futuro. – PF
10
Nilüfer Yanya – My Method Actor
Nilüfer Yanya reafirma seu lugar como uma voz marcante do rock britânico contemporâneo com My Method Actor, um álbum de abordagem mais introspectiva e experimental. O disco tem uma coesão sonora e constrói com detalhismo um universo soturno e reflexivo. Ainda que dentro do rock, o álbum resgata uma energia mais pop. O disco é um convite à imersão, construído para ser apreciado em sua totalidade, fugindo das fórmulas algorítmicas e oferecendo uma experiência genuína e envolvente. – AL
09
Cátia de França – No Rastro da Catarina
No rastro da Catarina, é um disco que celebra a vida da Cátia de França. O disco fala sobre a volta dela à música, sobre seu envelhecimento, mas vai além de comentar esses detalhes da trajetória dela. A mensagem passada aqui é de que a cantora, na realidade, não mudou, embora existam cinco décadas entre o primeiro disco e esse. A partir dos paralelos montados entre este disco e o emblemático 20 Palavras ao Redor do Sol, Cátia de França reafirma que ainda tem os mesmos ideais e que seu discurso está mais firme que nunca. – AL
08
Arooj Aftab – Night Reign
O quarto álbum da paquistanesa Arooj Aftab se aprofunda no imaginário da noite e da escuridão para criar um conjunto de canções que passeia entre o jazz e a música tradicional do Paquistão, mas sempre com um diálogo pop que torna o disco altamente convidativo. Gravado com diferentes colaboradores, Night Reign é sensível e experimental e sedimenta Aftab como uma das vozes mais interessantes a surgir no cenário musical nos últimos anos. – PF
07
Kim Gordon – The Collective
O segundo solo de Kim Gordon, lendária vocalista e guitarrista do Sonic Youth, veio empacotado com tudo o que amamos em seu trabalho: vocais graves, interpretação ríspida, com os versos quase declamados e muitos riffs pesados. Mas The Collective adiciona o sarcasmo e a ironia para tratar de temas profundos a partir de coisas banais. Não é um disco fácil de se ouvir, mas só prova que ninguém está fazendo o que Kim Gordon está fazendo hoje no rock e no pop e isso, por si só, já é incrível. – PF
06
Maria Beraldo – Colinho
Seis anos depois de lançar seu primeiro disco, a compositora, cantora e clarinetista Maria Beraldo retorna com Colinho, um disco experimental em que se aprofunda nos seus estudos de diálogos do samba com diferentes gêneros. E essas ousadias estéticas servem ao propósito de carregar letras com enorme carga emocional e pessoal. – PF
05
Luiza Brina – Prece
Ex-Graveola, a mineira Luiza Brina fez de Prece um projeto musical ousado que funciona quase como um manifesto. Ela contou com 19 instrumentistas de diferentes orquestras mineiras, como a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, a Orquestra de Ouro Preto e a Filarmônica Mineira. É um trabalho sobre estabelecer pontes, sobre se reconectar. As “preces” do álbum são dedicadas à natureza, à religiosidade afro, às amizades, à solidão, ao amor. – PF
04
Magdalena Bay – Imaginal Disk
Imaginal Disk veio em meio a muitas expectativas criadas em cima do duo Magdalena Bay após o seu primeiro álbum, o Mercurial World (2021). Felizmente a dupla conseguiu se superar e entregou um álbum que une boa produção e boa narrativa. Apesar de não ser enquadrado pelos próprios artistas como um disco conceitual, ele é inteiramente permeado pela ideia de mudança e de melhora do “Eu”, um processo muito comum da contemporaneidade que está ligada à nossa subjetividade comparativa e focada em desempenho. Imaginal Disk é uma boa ferramenta de autorreflexão embalada por um instrumental borbulhante e criativo. – AL
03
Amaro Freitas – Y’Y
Amaro Freitas ilustrou a espiritualidade amazônica com Y’Y, que faz uma homenagem às águas, às florestas e aos povos que resistem na região. O álbum mescla ancestralidade afro-brasileira e jazz universal com um toque inovador no piano. As parcerias marcantes são outro ponto forte no álbum, que tem nomes como com Shabaka Hutchings Aniel Someillan, que, além de produzirem seus trabalhos com base na ancestralidade – assim como Amaro – ampliam as texturas sonoras do disco. Esse disco reafirma a criatividade do pianista pernambucano e a originalidade na sua celebração das raízes afro-brasileiras e da diáspora no jazz contemporâneo. – AL
02
Charli XCX – Brat
Fenômenos como o Brat são cada vez mais raros na música. Das músicas à capa, passando ainda por uma influência no comportamento e no discurso geral (até nas eleições americanas), o trabalho de Charli XCX a tirou da “classe média do pop” e fez dela a artista mais comentada do ano. E o melhor: sem comprometer sua visão artística. Brat tem hits (“360”, “Guess” e “Apple” viralizaram), aclamação, números, originalidade e essência. É agressivo, vulnerável, desafiador, eufórico e melancólico. Uma mistura improvável e caótica – e, por isso, maravilhosa. – MB
01
Liniker – Caju
Um disco de reinvenção, de descoberta pessoal (“quem é Caju?”) acabou se tornando um álbum universal que dialoga com qualquer pessoa que precisou se reencontrar consigo mesma, entender seus próprios sentimentos, mudar. Liniker fez o trabalho de maior impacto do pop brasileiro este ano e conseguiu entregar um trabalho em que a vulnerabilidade se transforma em uma fortaleza poética. Tudo isso construído com uma instrumentação complexa e orgânica, onde explora diferentes gêneros brasileiros, do pagode ao samba, sempre com uma interpretação potente que só reforça sua voz como uma das mais originais a surgir na MPB nos últimos anos. – PF
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