Capa Forest Club Kae Guajajara
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Kaê Guajajara cria mosaico de sons em “Forest Club”

Kaê Guajajara mescla funk, trap, tecnomelody e música indígena em um álbum de resistência e crítica afiada

Kaê Guajajara cria mosaico de sons em “Forest Club”
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Kaê Guajajara
Forest Club

Alá Comunicação e Cultura, 2024. Gênero: música brasileira


Para falar e pensar no som de Kaê Guajajara é importante entender por quais lugares ela já passou. A cantora é natural de Mirinzal, no Maranhão, onde conviveu com os Guajajara, seu povo, e mudou-se ainda criança para o Rio de Janeiro. Lá viveu em favelas do complexo da Maré, onde, claro, teve contato com o funk e outros gêneros da música periférica brasileira. Ao mesmo tempo, como disse à Vogue Brasil, construiu suas referências musicais com um gosto bastante globalizado.

Sabendo de todos esses lugares que atravessam a trajetória de Kaê, é fácil de entender a quantidade de gêneros e elementos musicais que estão aglutinados em Forest Club, seu terceiro álbum. Elementos do funk, da música indígena, do tecnomelody nortista, trap, música eletrônica e afrobeats são adicionados pela produção extremamente habilidosa – assinada por Patrick Dias Couto – e formam uma espécie de mosaico. Não há uma faixa que esteja fixa em um gênero, todas elas são construídas a partir dessa dispersão.

Aliás, essa mistura intensa de gêneros e elementos musicais é justamente a chave para que o álbum se mantenha interessante ao longo das suas 18 faixas e quase uma hora de reprodução. Felizmente, não espaço para a monotonia. Em diversos momentos, as viradas de ritmos, breaks instrumentais e parcerias bem selecionadas puxaram de volta os meus ouvidos ao Forest Club.

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Trecho do clipe de “Sumaúma” (Felipe Cardoso/ Divulgação)

Com o tanto de espaço dado ao disco, houve, é claro, os excessos. “Constantine da Floresta” e “Melhor que a Disney” são duas faixas que não brilham em comparação as outras, e soam um pouco cansativas.

Nessa imensidão de sons, as letras não são necessariamente a coisa mais memorável do álbum, mas em momento nenhum é possível considerá-las rasas ou pouco relevantes, mas são uma reverberação daquilo que encontramos também nos outros dois álbuns de Kaê Guajajara – Zahytata (2023) e Kwarahy Tazyr (2021).

Com um trecho da fala de Ailton Krenak na abertura, é um disco que evoca bravura e uma crítica afiada pela perspectiva dos povos nativos do Brasil que vai do racismo e colonização até a forma trágica que lidamos, enquanto país, com a catástrofe climática. Seja em português, inglês, espanhol ou zeeg’ete – idioma do povo Guajajara – a voz de Kaê não perde força.

Escute Forest Club, de Kaê Guajajara