Trina Robbins, quadrinista e ativista, pioneira nos quadrinhos underground, morre aos 85 anos

Trina conseguiu o feito de se tornar a primeira mulher a desenhar a icônica Mulher-Maravilha, da DC Comics, em 1986

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Foto: Jessica Christian/Reprodução.

A renomada quadrinista, historiadora, editora e ativista Trina Robbins, morreu nesta quarta (10), aos 85 anos. Ela estava hospitalizada após sofrer um infarto no último dia 26 de fevereiro. Robbins foi uma das maiores artistas dos quadrinhos e pioneira em diversas frentes nesse segmento.

As informações sobre sua morte foram publicadas por sua filha, Casey Robbins, no Facebook. “Minha mãe Trina Robbins faleceu nesta manhã. Já sentimos tanto a sua falta”, postou.

Trina Robbins foi nome influente no quadrinho underground norte-americano e foi fundadora da revista independente It Ain’t Me, Babe, em 1970. Ela ousou desbravar um meio totalmente dominado por homens e acabou abrindo as portas para várias outras quadrinistas. Ao lado de nomes como Lee Marrs, Aline Kominsky, Patricia Moodian e várias outras, ela fundou o coletivo Wimmen’s Comix, uma das publicações mais influentes dos EUA e que, ao longo de 20 anos, fez história na indústria ao jogar holofotes ao trabalho de mulheres nas HQs.

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Trina Robbins conseguiu o feito de se tornar a primeira mulher a desenhar a icônica Mulher-Maravilha, da DC Comics, em 1986. Foi nas suas mãos que a personagem adquiriu um status de símbolo do empoderamento feminino, que perdura até hoje. Ela retornaria à personagem em 1998, desta vez como roteirista, ao lado da artista Colleen Doran.

Trina tem ainda uma carreira marcada pelo ativismo feminista, pelos direitos humanos e por mais reconhecimento do trabalho de mulheres na indústria dos quadrinhos. Ela também foi uma voz relevante da causa dos direitos reprodutivos e direito ao aborto, com articulações como uma antologia em apoio ao movimento “Pro-Choice”, nos anos 1990 e, mais recentemente, na antologia Won’t Back Down, de 2023.

A artista ainda se dedicava ao trabalho de organizar a memória das mulheres nas artes gráficas, com livros que reuniam material de arquivo e artigos sobre a importância de artistas invisibilizadas ao longo de décadas. Um de seus trabalhos mais conhecidos nesse campo é A Century of Women Cartoonists, Flapper Queens e Babes In Arms: Women In The Comics During The Second World War.

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“Sandy Sai do Armário”, história que saiu na antologia “Fora do Padrão”. (Divulgação);

No Brasil

Apesar de todo o seu reconhecimento, quase todo o trabalho de Trina Robbins segue inédito no Brasil e a maior parte fora de catálogo. No início deste ano foi publicado uma das mais emblemáticas histórias da autora, “Sandy Sai do Armário”, tida como a primeira HQ a trazer uma personagem lésbica nos EUA, que foi publicada na antologia Fora do Padrão: 40 Anos de Quadrinhos LGTQIA+, organizado por Justin Hall e lançado pelo O Grito! HQ, o selo de quadrinhos da Revista O Grito!.

Trina Robbins veio ao Brasil em mais de uma ocasião. Em 2015, a autora esteve nas Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos, na USP e em 2017 esteve no Rio de Janeiro para a Semana de Quadrinhos da Escola de Comunicação da UFRJ. Ela também participou da CCXP de 2020, porém de forma remota.

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Erramos: O texto anterior dizia que a última visita de Trina Robbins ao Brasil foi em 2015. Na verdade, ela veio novamente em 2017 para o Rio de Janeiro. O texto foi atualizado. Também retiramos a informação que seu trabalho estava inédito até 2024. Algumas histórias saíram na revista Misty, em 1987, porém, a maior parte do que ela produziu segue fora de catálogo, com exceção da HQ presente na antologia Fora do Padrão.