Sessão de curtas do Cinema da Fundação retorna com mostra de filmes raros

Todas as obras exibidas na mostra passaram pelo processo de digitalização e preservação de conteúdo

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São João em Santa Cruz, de Katia Mesel, foi digitalizado para versão 4K. (Divulgação)

A Sessão Chama Curtas retorna neste sábado (28), às 16h, ao Cinema da Fundação/Derby, com entrada gratuita. A iniciativa apresenta o programa Cantos de Trabalho: um debate sobre cinema e preservação, em parceria com o Centro Técnico Audiovisual (CTAv) e o Cinelimite. Na mostra de curtas que serão exibidos estão trabalhos de Kátia Mesel, Leon Hirszman e Sergio Senz.

A seleção reúne um conjunto de filmes raros digitalizados pelo CTAv e Cinelimite, que apresentam o ato de trabalhar em diferentes estados e significações. Ao final da exibição, Danilo Lúcio, professor de Preservação Audiovisual da faculdade Aeso Barros de Melo, irá conduzir uma conversa com o público sobre a preservação de obras audiovisuais.

É uma grande oportunidade para o público assistir filmes raros do cinema nacional, com imagens e registros únicos de um Brasil rico em suas múltiplas manifestações sociais e culturais, principalmente no Nordeste. A ideia curatorial perpassa não apenas pela dimensão física da atividade laboral, mas pelas musicalidades e performatividades que envolvem cada uma das práticas que são representadas pelas obras.

É o exemplo do filme Os Romeiros da Guia (1962), de João Ramiro Mello e Vladimir Carvalho, que registra a música, a dança e a devoção na jornada de romeiros até as ruínas da igreja de Nossa Senhora da Guia, localizada no litoral da Paraíba.

O próprio título Cantos de Trabalho (1974) faz uma menção ao curta-metragem dirigido pelo lendário cineasta Leon Hirszman, que encabeça a seleção. O filme documenta a coreografia entre os cantos dos trabalhadores e a ação coletiva em um mutirão do roçado e da tapagem de casa, realizados em Chã Preta, no interior de Alagoas.

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A Baiana, de Moisés Kendler (Divulgação)

A Baiana (1973), de Moisés Kendler atiça a relação dialética entre a iconografia colonial e a beleza imanente nas imagens de vendedoras de acarajé da cidade de Salvador. A indumentária, a força da repetição de sua cozinha e o encontro de mulheres negras com os folguedos populares realçam as influências africanas em solo brasileiro, assim como possibilitam movimento e subjetividade para essa figura historicamente exotizada pelo imaginário colonial.

A seleção também conta com o curta Álbum de Música (1974) de Sérgio Senz que traz registros raríssimos de artistas do samba, bossa nova e da MPB, como Nelson Cavaquinho, Clementina de Jesus, Maria Alcina, Luiz Melodia, Nara Leão e Jards Macalé. O programa, assim como os curtas, pertencem ao acervo do CTAv, que conduz um projeto de exibição online, gratuita e mensal de obras audiovisuais através do seu canal do Youtube e site oficial.

Fechando a seleção, em parceria com o Cinelimite, a Sessão Chama Curtas realiza a primeira exibição no Recife da versão digitalizada em 4K do curta-metragem São João em Santa Cruz (1987), da cineasta pernambucana Katia Mesel. Na obra, a cineasta produz registros históricos explorando profundamente a cultura da região de Santa Cruz do Capibaribe para documentar as festas juninas do agreste pernambucano. O curta-metragem, além de outras obras de Katia Mesel, foram digitalizadas recentemente pelo Cinelimite, uma organização sem fins lucrativos dedicada à exibição, distribuição e digitalização (IDFB) do cinema brasileiro.