Noite Luz
Marcelo D’Salete
Veneta, 146 páginas, 2023, R$ 59,90
Lançada originalmente em 2008 pela Via Lettera, Noite Luz faz parte das narrativas urbanas de Marcelo D’Salete ao lado de HQs como Risco (2014) e Encruzilhada (2011), esta última também relançada pela Veneta. Vencedor de dois Jabutis e indicado ao Eisner, D’Salete é hoje um dos autores mais celebrados dos quadrinhos brasileiros com um trabalho que se destaca pela pesquisa histórica e a busca de novas narrativas sobre a experiência de pessoas negras no Brasil, caso de trabalhos como Cumbe (2014), Angola Janga (2017) e Mukanda Tiodora (2022).
Em Noite Luz, um dos seus primeiros trabalhos, já conseguimos ver um artista interessado em olhar para o sujeito marginal e periférico, mas inserido dentro do contexto de opressão dos centros urbanos, neste caso específico, uma São Paulo violenta, suja e repleta por um sentimento de fatalidade que parece inescapável.
O gibi traz várias histórias que vão se entrecruzando e que têm como fio condutor um casa noturna meio boate, meio prostíbulo que dá nome ao título. Mas ao batizar o gibi com esse jogo de palavras claro-escuro, D’Salete quer também criar a metáfora de tornar visível o obscuro, de tentar criar contornos mais nítidos para vidas e situações quase sempre escondidas, invisíveis.
Seu trabalho urbano traz um olhar sensível para o personagem à margem, pessoas comuns sempre às voltas com questões sociais muito urgentes, como o desemprego, a violência policial, o racismo descarado, o preconceito velado, a vida do crime como única saída. Mas ao mesmo tempo em que os personagens precisam lidar de forma muito reativa a esses problemas de um mundo brutal, o roteiro também cria para eles novas matizes para falar de amizade, amores, família, sonhos.
É desse equilíbrio que Noite Luz tira sua força e é por isso que o livro segue contundente mais de dez anos após sua publicação. É uma excelente oportunidade de conhecer um D’Salete mais experimental, com traço e narrativas que se inspiram bastante na cultura hip hop, como o rap e o grafite.
O livro faz ainda uma retrospectiva da obra do autor e conta com muito material de apoio, como um prefácio do escritor Alan da Rosa e uma entrevista aprofundada do autor com o jornalista Ramon Vitral (do blog Vitralizado).
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