Mombojo capa por Rafael Olinto 1 1
Mombojo capa por Rafael Olinto 1 1

Mombojó traz novos ares ao cancioneiro B de Alceu Valença no disco Carne de Caju

Grupo mantém personalidade nas interpretação de faixas como "Tomara" e "Sinos de Ouro". Para os fãs da banda, uma aposta certeira, para os fãs de Alceu, um grato presente

Mombojó traz novos ares ao cancioneiro B de Alceu Valença no disco Carne de Caju
4.7

Mombojó
Carne de Caju
Independente, 2024. Gênero: Pop, Rock, Frevo


Para uma banda autêntica em seus mais de 20 anos de carreira, caso da Mombojó, lançar um disco inteiro de faixas não-autorais, as referências tem que estar na raiz. Tal raiz se encontra no cancioneiro de Alceu Valença, o que tem tudo a ver com a proposta da banda. Ao longo dos anos, a noção de pertencimento local sempre foi bastante orgânico. Com os pés fincados numa paixão territorial pelo Recife, por Pernambuco, o grupo revela Valença como território de inspiração e homenagem. 

Em Carne de Caju, sétimo disco da carreira, Mombojó resgata oito canções lado B (dentro dessas “Como Dois Animais”, que nem é tão B assim e “Estação da Luz”, hit absoluto) de um dos maiores nomes da MPB e representante áureo da música Pernambucana. A poesia de Alceu, somente compreendida por quem se permite a mergulhar em suas palavras e em seu instrumental que ora é místico, solar, tropical, ora soturno e profundo, ganha os contornos da criatividade musical da banda.

O rock da guitarra forte do grupo se embriaga da guitarra hipnótica proposta por Alceu. A percussão de um baixo ousado com uma bateria fundamental trazem um clímax enérgico ao maracatu, ao frevo, formando releituras que ao mesmo passo que trazem a essência das canções inspiradoras, as revigoram.

Foto 1 carne de caju porLauraProto 1
A Mombojó é Felipe S. – Voz e Guitarra, Marcelo Machado – Voz e Guitarra, Chiquinho Moreira – Teclados e sintetizador, Vicente Machado – Bateria e Missionário José – Baixo, sintetizador. Foto: Laura Proto. (Divulgação).

Os sintetizadores, os coros, contra-cantos e outros detalhes como a presença tímida de um triângulo, ou de uma pandeirola, a exemplo da versão de “Sino de Ouro” com Marilia Parente, ajudam a preencher uma composição instrumental originalmente (e naturalmente) mais minimalista (visto a época em que as canções foram lançadas), representando uma nova pegada, sem atropelos, confusões ou exageros de novos elementos. Os instrumentos entram e se somam na hora certa, potentes.

O grupo revisita no repertório canções dos discos Estação da Luz (1985), como a homônima, “Chuvas de Cajus”, “Sino de Ouro” e “Olinda”; Leque Moleque (1987), com “Romance da Bela Inês”, que ganhou um lindo clipe; 7 Desejos (1992), com “Tomara” e Maracatus, Batuques e Ladeiras (1994), representado por “Amor Que Vai”.

Assista o clipe de “Romance da Bela Inês”:

Do jeito Mombojó de cantar e tocar, sentimos e nos invadimos pelo poético e contemplativo repertório B de Alceu Valença. A paixão seja pela Inês, seja pelo verão que vem, ou até mesmo pela cor azul, altamente citada nas letras, são características marcantes reverberadas pelo novo trabalho.

Abrir esse leque na carreira, possibilita ao grupo celebrar as raízes de referência de seus integrantes, mas também atrair novos públicos. Para os fãs da banda, uma aposta certeira, para os fãs de Alceu, um grato presente. Vindo numa época tão pertencente ao homenageado, Mombojó, que é atração confirmada nos Carnavais do Recife e de Olinda, poderá apresentar o disco ao vivo para ambos.

Ouça Carne de Caju: