gaga abre
Fãs e cantora compartilharam a emoção ao final do show, com queima de fogos. (Foto: Leonardo Rodrigues).

Lady Gaga em Copacabana lembrou que podemos ser quem quisermos ser

Em uma ópera nas areias de Copacabana, a cantora costurou clássicos da carreira com seu novo álbum para cerca de 2,5 milhões de pessoas

Especial para a Revista O Grito!, no Rio de Janeiro (RJ)

Após mais de 10 anos de espera, finalmente Lady Gaga retornou ao Brasil. Com o show “Mayhem na Praia”, parte da promoção oficial de seu sétimo álbum de estúdio, Mayhem, a artista levou um público estimado em 2,5 milhões de pessoas no último sábado, 3 de maio, para a praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.

Em sua única vinda ao país, em 2012, ela fez shows em São Paulo e Rio de Janeiro com a turnê “Born This Way Ball”. Gaga seria uma das headliners do Rock in Rio em 2017, mas teve de cancelar o show no dia devido a questões com a fibromialgia, síndrome clínica que causa dores profundas em todo o corpo. Mas agora, em 2025, o gosto amargo desse cancelamento estava prestes a sumir.

O show não se resumiu às duas horas de espetáculo na noite de sábado. A festa começou ao longo do feriado estendido de 1º de maio, com milhares de fãs desembarcando na cidade para o show. Quem não tinha camiseta da cantora, não teve dificuldade já que em Copacabana era possível encontrar itens estampados com o seu rosto por todo o bairro, até em bancas de jornal. 

Na noite de sexta (2), véspera do show, Gaga finalmente apareceu para o público e fez a passagem de som para o show. Visivelmente emocionada, ela agradeceu a todos que estavam ali presentes, e que mesmo sendo um ensaio, parecia o show de verdade para ela. Ela ensaiou 13 canções, o que aumentou – se é que isso era possível – a ansiedade do público para a noite de sábado, já que para os fãs presentes, ver o ensaio foi como assistir a um pré-show.

gaga2
A artista interagiu bastante com o público e leu carta ao vivo. (Foto: Leonardo Rodrigues).

O show de Mayhem é uma espécie de ópera, na qual Gaga disputa sua vida e integridade com a “senhora do caos”, Mayhem. Somos transportados entre realidade e sonho, com um toque vitoriano nos cenários e figurinos. A abertura do show com “Bloody Mary” e “Abracadabra”, com Gaga em um vestido gigante que revela uma gaiola com dançarinos, deixava claro para todos os presentes que ela estava de volta. Em “Judas”, a artista vestiu uma roupa verde e azul, em homenagem ao Brasil – algo que vem se tornado tradição nos shows de grandes divas no país, como nos de Madonna e Mariah Carey em 2024.

O público de 2,5 milhões de pessoas cantou a plenos pulmões todas as canções do show. Dos clássicos “Poker Face” e “Alejandro”, até as recentes “Killah”e “Zombieboy”. Tudo isso ao som da orquestra informal de leques, que eram batidos na mesma intensidade das músicas e da emoção que todos sentiam ali. 

Lady Gaga não conseguia disfarçar o quanto estava feliz durante o show. A todo momento ela dizia amar o Brasil e pedia para que todos jogassem as mãos pra cima. Após a emocionante performance de “Paparazzi”, na qual ela se autorreferencia sem cair na caricatura, ela leu uma emocionante carta que escreveu para o Brasil.

Ela teve a ajuda do brasileiro Nicolas Rafael Garcia, funcionário do Copacabana Palace escolhido por ela para ler a tradução de seu texto. Ela falou sobre o quanto ama o Brasil e os brasileiros, e agradeceu por todo o amor e espera pelo seu retorno ao país: “Talvez vocês estejam se perguntando por que demorei tanto para voltar. A verdade é que eu estava me curando, me fortalecendo. Mas, enquanto eu me curava, algo poderoso acontecia. Vocês continuavam lá, torcendo por mim, pedindo para eu voltar quando estivesse pronta. Brasil: eu estou pronta!”, escreveu a artista, que não conteve as lágrimas ao ser ovacionada. Gaga agradeceu ao Brasil por fazerem história com ela naquela noite, pois não se faz história sozinha. 

A artista também destacou o seu amor pela comunidade LGBTQIAPN+ no Brasil, antes de apresentar “Born This Way”, um verdadeiro hino queer de amor e aceitação. Este foi um dos pontos mais emocionantes do show. Toda a praia, com seus milhões de pessoas – e de leques – , vibraram ao som desta que marcou a adolescência de milhares de LGBTs dos anos 2000 e 2010. A verdade é que existe um antes e um depois de Lady Gaga para muitos/as/es adolescentes LGBTs dessa faixa etária, e aqui eu me incluo. Lembro de chorar sem parar quando a música foi lançada, no auge dos meus 16 anos, e agora com 30, ouvindo ao vivo pela primeira vez, não pude me conter também. 

Outro momento de grande emoção foi em “Vanish Into You”. Antes da canção ela agradeceu mais uma vez o amor dos fãs brasileiros, e por terem passado a semana toda em frente ao hotel cantando todas as músicas de seu novo disco. A porta do Copacabana Palace, desde o dia 28 de abril, quando Gaga pousou no Brasil, estava tomada por fãs que ansiavam em vê-la. Ao cantar a música, Gaga pegou uma bandeira de arco-íris, e em seguida descia do palco e passava pelos fãs nas grades, pegando presentes, tirando fotos e cantando olhando em seus olhos. Mesmo quem estava longe sentia a emoção. 

Para encerrar de forma apoteótica o show, o seu maior sucesso, “Bad Romance”, houve uma explosão de fogos de artifícios no final da canção, e Gaga, muito emocionada, se sentou no palco com os dançarinos para assistir, junto com os fãs, que a ovacionaram. E ela, ovacionou o público de volta. Foram cerca de cinco minutos que ela ficou ali, muito emocionada, junto aos fãs.

Com o show, Lady Gaga quebrou o recorde de público para uma artista feminina da história – recorde que havia sido quebrado em 2024 por Madonna, também em Copacabana, com show da  “Celebration Tour”. 

Desde 2008, Lady Gaga vem criando universos nos quais todes somos bem vindes, onde podemos ser quem quisermos, onde podemos escolher quem queremos ser. E esse sentimento de pertencimento ebulia por toda a praia de Copacabana. Uma mistura de sagrado e profano, mas não no sentido cristão, mas na liberdade e possibilidade ali presentes. Fãs de diferentes idades, usando camisetas da cantora, ou com looks em homenagem a alguma das eras da artista. Cada um podendo ser quem queria ser, quem escolhesse ser. Para além de números e de recordes, o sentimento que fica após viver o “Gagacabana”- como os fãs apelidaram o show -, é um chacoalhão, um chamado para viver e seguirmos vivos, lutando, amando, sendo quem escolhemos ser. Pois como a própria Lady Gaga diz no show, “Monsters never die”. 

Leia mais artigos