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Estamos Quase em Casa: Diogo Hayashi une lendas de terror japonesas com melancolia urbana de São Paulo em nova HQ

Conhecido também por seu trabalho no cinema, Hayashi se inspirou em contos trazidos pela imigração japonesa nessa coletânea de sete contos

Estamos Quase em Casa: Diogo Hayashi une lendas de terror japonesas com melancolia urbana de São Paulo em nova HQ
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Estamos Quase em Casa
Diogo Hayashi
Ugra Press, 160 páginas, R$ 46,90 / 2023

O quadrinista e diretor paulista Diogo Hayashi embarca com muita segurança pelo horror, um dos gêneros de maior tradição na cultura pop brasileira, mas faz isso com muita personalidade estética neste Estamos Quase Em Casa, coletânea que sai pelo selo Ugra Press. São vários contos em quadrinhos que unem lendas de terror japonesas com um olhar melancólico da vida urbana em São Paulo.

E é esse lirismo que pontua todas as histórias do livro, o que é um diferencial e tanto em um gênero tão explorado no mercado editorial. A inspiração vem do folclore trazido pela imigração japonesa ao Brasil, mas ao transpor essas histórias orais para sua narrativa em quadrinhos, Hayashi foi além do óbvio de fisgar a atenção pelo medo e repulsa.

Claro, as histórias podem ser assustadoras, mas a inquietação se dá menos pelas formas perturbadoras dos seres monstruosos e mais por um tom de pessimismo e crueza presente em todas os contos, repletos quase sempre de muita violência. Hayashi conta as histórias de um ponto de vista de um descendente nipônico e com a sensibilidade de trazer à tona personagens comuns, urbanos, cheios de nuance. Em todos os contos, esses tipos incrivelmente humanos, vão desafiar o desconhecido em busca de vantagens, prazer, ou mesmo pela simples fuga de uma realidade quase sempre muito opressora e difícil.

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E aí temos o mais perturbador: no encontro com esses seres fantásticos, essas pessoas terão suas vidas mudadas para sempre (mudadas, para pior, evidentemente). O vislumbre com o fracasso nem sempre é simples de lidar na ficção e segurar uma trama baseado nessas derrotas requer habilidade, pois a inquietação na leitura é enorme. Hayashi traz ainda humor, ironia e diálogos bem escritos, que garantem a fluidez da narrativa.

O traço lembra um pouco o estilo japonês, mas traz um dinamismo que remete à sua experiência com o audiovisual, seja no storyboard, diretor ou na direção de arte (entre seus trabalhos estão Luz nos Trópicos, Fogo Selvagem e Céu de Agosto). Seu desenho é também altamente imaginativo, com seres assustadores causando um contraste interessante nesse cenário realista e urbano.

É o caso de “Kappa”, história que abre a coletânea, em que um garoto desobediente acaba transformado em uma espécie de tartaruga humanóide. “O Pássaro do Poente”, uma das melhores do livro, mostra um casal lidando com a penúria em uma narrativa ao mesmo tempo triste e bela. Há ainda histórias curtas interessantes, como “Sementes” e “Um Achado”, que soam quase como instantâneos da vida e como tudo pode mudar de repente.

Compre: Ugra Press.

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