Anis de Flor debuta com o álbum Fértil cantando sobre a invisibilidade da mulher negra na sociedade

“Se o desamor é a ordem do dia no mundo contemporâneo, falar de amor, e no meu contexto, principalmente, de AUTO-AMOR, pode ser revolucionário”, contou a artista

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Cantora une afrobeats e afrobrasilidades no álbum. Foto: Matheus Trindade. (Divulgação).

Com quase uma década de carreira, a cantora Anis de Flor aproveita a maturidade para lançar seu disco de estreia Fértil, para ela fruto do “aquilombamento físico, psíquico e espiritual”. As cinco faixas imersas em afrobeats e afobrasilidares, narram a invisibilidade e a solidão da mulher negra nas relações em geral, e a busca interna por mecanismos de sobrevivência ao desafeto.  O trabalho é lançado nesta sexta-feira (30).

O disco foi editado pela Lab Fantasma, produzido por uma equipe protagonizada por pessoas negras e conta com as participações de Marissol Mwaba, François Muleka, Luedji Luna e Alegre Corrêa. O insight da artista surgiu a partir da necessidade de narrar e transmutar as suas vivências e experiências como mulher negra e indígena no sul do Brasil. Construindo um material que carrega em si a potência da denúncia, junto à uma vontade de se despir dos preceitos impostos às mulheres negras e assim, assumir que não precisa ser forte o tempo todo.

“Com Fértril eu aposto muito na força de expressão, na escolha de não mais calar e sim, dar voz à mim mesma, à minha jornada e aos lugares que muitas vezes me são negados. Quando comecei a escrever, não fiz isso com a intenção de transformar em música, mas aos poucos fui entendendo que uma coisa não se separava da outra, principalmente quando você reconhece sua existência como política, e se dá conta de que compartilhar suas impressões sobre as coisas pode ser acalanto e força para quem ouve e se identifica.”, explica Anis de Flor.

A cantora consegue une improvisos, coros e arranjos melódicos em músicas influenciadas por nomes como Mayra Andrade, Luedji Luna, Liniker e Bob Marley.

“O movimento de aquilombar-me, me traz pertencimento, confiança e força para seguir e percorrer um caminho hostil. Em um dos Estados em que a existência e relevância de pessoas, principalmente mulheres negras e indígenas são constantemente silenciadas, ao falar de forma poética e sonora das dores e das profundas cicatrizes que o racismo infringe constantemente em pessoas não-brancas, as obras trazem à tona questões que foram cristalizadas estruturalmente e que tem urgência em serem abordadas. Se o desamor é a ordem do dia no mundo contemporâneo, falar de amor, e no meu contexto, principalmente, de AUTO-AMOR, pode ser revolucionário”, contou Anis.

O lançamento do álbum Fértil foi viabilizado através do Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura 2021, edital cultural de Santa Catarina.

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Capa do álbum. (Divulgação).