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Foto: Divulgação.

“O Brutalista” gasta 3h30 em épico sobre arquitetura e reconstrução de imigrante na América

O longa de Brady Corbet está indicado a 10 Oscar e conta a história de arquiteto húngaro que imigra para os EUA

“O Brutalista” gasta 3h30 em épico sobre arquitetura e reconstrução de imigrante na América
3.7

O Brutalista
Brady Corbet
EUA, 2024. 3h26. Drama. Distribuição: Universal
Com Adrien Brody, Felicity Jones, Guy Pierce

A arquitetura é uma arte e, como acontece em todas as expressões artísticas, as obras arquitetônicas também representam e traduzem, em parte, os sentimentos dos seus criadores. Essa é a máxima trabalhada no enredo do filme O Brutalista, que está em cartaz nos cinemas e tem nada menos do que dez indicações ao Oscar 2025, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção para o cineasta Brady Corbet e Melhor Ator para Adrien Brody. 

A epopeia de três horas e 26 minutos conta a história trágica de um arquiteto húngaro que escapa do Holocausto e imigra para os Estados Unidos. Embora seja estruturado como uma cinebiografia que leva o espectador a crer na existência real do protagonista Lászlo Tóth (Brody), a trama é totalmente ficcional e saiu da cabeça de Corbet e da roteirista Mona Fastvold.

Lászlo Tóth chega em Nova York, depois de ter sido libertado de um campo de concentração nazista, mas deixando para trás a esposa Erzsébet (Felicity Jones) e a sobrinha Zsófia (Raffey Cassidy), por elas não terem conseguido unir-se a ele após o final da guerra. Ele tem uma acolhida calorosa de um primo que vive na Pennsylvania e o emprega em sua fábrica de móveis.  Contudo, por conta de desentendimentos, eles rompem e Tóth, durante alguns anos, pena em trabalhos braçais pesados e vive em condições precárias. 

Tudo muda quando Tóth cai nas graças de Harrison Lee Van Buren, um herdeiro milionário vivido pelo ator Guy Pearce que, ao descobrir ser ele um arquiteto famoso na Europa formado pela Bauhaus, o contrata para planejar e construir um centro cultural em homenagem à sua mãe.  Graças à interferência do magnata, a esposa e a sobrinha de Tóth conseguem vir para a América e tudo caminha bem até que uma série de obstáculos começa a azedar a relação entre Van Buren, um homem de temperamento explosivo, e Tóth, desencadeando aproximações e confrontos cada vez mais violentos.  

O Brutalista.
Longa tem uma estética sofisticada, mas desenvolve vários temas, mas sem aprofundar vários deles. (Foto: Divulgação/A24)

O Brutalista é um filme bastante pretensioso, primeiro pela sua cinematografia sofisticada e eloquente e, segundo, por estar repleto de ilações sobre as mais diversas questões que uma trama com judeus fugindo do nazismo pode trazer.  Além disso, a trama inclui os conflitos sociais e existenciais decorrentes da condição de imigrante de Tóth – arrancado à força da terra natal e jogado na selva capitalista estadunidense – e os embates culturais de um criador atormentado e traumatizado pela guerra, papel muito bem representado por Brody, cuja atuação, mostrando a fragilidade e a inquietação criativa de Tóth, é, sem dúvida, um dos trunfos do filme.

A cornucópia de temas, emoções, sentimentos, somada às reflexões que o filme convoca sobre identidade, resistência da arte, disputas de classe, choques religiosos, racismo, consumo de drogas, criação do estado de Israel, acabam, no entanto, carregando demais a narrativa; daí a razão de um filme tão longo, dividido em capítulos, inclusive com intervalo de 15 minutos nas sessões entre a primeira e segunda parte. Com toda essa carga, o resultado é uma obra irregular com momentos tocantes e que despertam real interesse, e outros, nem tanto, sobretudo pela história abrir inúmeras situações e indagações que são pertinentes, mas não as aprofundar. 

Já do ponto de vista estético, podemos dizer que O Brutalista tem lá seus encantos, principalmente no que diz respeito às referências ao brutalismo, estilo arquitetônico que floresceu no pós-guerra, caracterizado pelo uso do concreto bruto e edifícios sem elementos decorativos exagerados. Ele perpassa toda a trama, por ser o gênero abraçado por Tóth, daí, em muitas sequencias do filme, vemos de forma clara a relação direta estabelecida por Corbet com o brutalismo na composição dos espaços e nos enquadramentos.

Embora Tóth seja um personagem fictício, o roteiro buscou em arquitetos brutalistas a inspiração para compor a narrativa, assim como estabeleceu uma curiosa relação com o geólogo húngaro chamado também Lászlo Tóth que, em 1972, ficou famoso por atingir a Pietá com um martelo. Uma das sequências mais emblemáticas e bonitas de O Brutalista se passa exatamente na Itália no local onde o mármore de carrara é extraído, pedra da qual é feita a escultura de Michelângelo.

Um outro aspecto que chama atenção em O Brutalista é o fato de o montador Dávid Jancsó ter usado softwares de inteligência artificial para melhorar a pronúncia do húngaro na fala dos atores Adrien Brody e Felicity Jones e um gerador de imagens para criar a base dos desenhos do protagonista que aparecem no epílogo. Segundo Jancsó, a ferramenta de áudio foi utilizada com o consentimento dos atores e os desenhos teve a participação de um ilustrador humano. Tem gente criticando esse uso da IA, mas com certeza ela estará cada vez mais presente na produção audiovisual daqui por diante.

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