Lula Cardoso Ayres (1910-1987) foi um exímio observador do povo pernambucano, suas tradições e cultura. Sua arte abraçou as experimentações das vanguardas europeias e brasileiras, com forte contribuição para o modernismo brasileiro. Com uma vasta e multifacetada produção, o artista é celebrado na nova exposição da Galeria Marco Zero, Caminhos de Ida, Caminhos de Volta, com curadoria de Guilherme Moraes. Aberta para visitação gratuita a partir deste sábado (10), a mostra reúne cerca de 60 obras, desde trabalhos da década de 1940 até a última obra do artista, inacabada, produzida à época da sua morte.
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Iniciado na produção artística ainda adolescente, graças ao apoio e à boa condição financeira de sua família, Lula Cardoso Ayres trabalhou como ajudante do artista alemão Heinrich Moser, no Recife, viajou a Paris, em 1925, onde entrou em contato com vanguardas e, de volta ao Brasil, estudou na Escola Nacional de Belas Artes. Na então capital do país, exercitou seu talento para a produção gráfica, como ilustrador e desenhista.
De volta ao Recife para ajudar nos negócios da família, na Usina Cucaú, se aproxima dos temas que viriam a ser essenciais para a sua obra, como as manifestações culturais, folguedos e fantasmagorias de Pernambuco. O poeta Ascenso Ferreira escreveu, em 1941, no Diário de Pernambuco, uma síntese do trabalho do ainda jovem Lula Cardoso Ayres, após voltar de um período na Europa e no Rio de Janeiro. Segundo ele:
“Dentro daquele adolescente de olhos espantados, enamorado das figuras do jazz e do tango argentino, estava o menino pernambucano tendo um subconsciente enriquecido por um milhão de sugestões artísticas desse Nordeste fenomenal. Começou a fotografar todos os elementos expressionistas da vida popular do Nordeste, máscaras do Bumba meu boi, reis e damas do Maracatu, figuras dos Caboclinhos do Carnaval. Não se trata de uma simples reprodução de figuras típicas, copiadas do natural. Neste trabalho, há uma verdadeira revelação dos altos recursos de que dispõe o artista.”
Para o curador Guilherme Moraes, o interesse pelos saberes populares aparece formalmente de formas muito distintas na sua obra, ao longo das décadas, mas sempre alicerçadas em um imaginário regional e na experimentação estética. Ao conceber a exposição, ele buscou apresentar a diversidade da produção do pernambucano, dividindo-a em núcleos. A mostra exibe desde desenhos da década de 1940, à incursão no abstracionismo, a partir da década de 1950, como na tela Pássaro Vermelho, exposta na Bienal de São Paulo (o artista participou das três primeiras edições, em 1951, 1953 e 1955), até sua volta à figuração, incluindo a última obra, inacabada.
“Quando Lula tinha contato com algum tema que o interessava, esse tema nunca o abandonava. Por isso, certas questões voltam em ondas na sua obra, em maior ou menor medida, em um jogo de reincidências. Quando ele volta à pintura, por exemplo, a partir da década de 1970, ele não toma como base o referente, mas o arquétipo, em diálogo, por exemplo, com as imagens dos bonecos de barro de Caruaru, que lhe fascinavam há décadas. Acredito que essa exposição é uma oportunidade de mergulhar na sua vasta e personalíssima produção, pois revela muitas facetas do trabalho do artista”, afirma.
Serviço: Lula Cardoso Ayres – Caminhos de Ida, Caminhos de Volta
Local: Galeria Marco Zero (Av. Domingos Ferreira, 3393 – Boa Viagem, Recife)
Abertura: a partir de 10 de agosto de 2024
Visitação: de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 17h. Até 28 de setembro de 2024
Entrada: Gratuito