Em alguns momentos, a bandidagem tropical chique. Em outros, um mergulho profundo no coração do vagabundo. Essas são algumas das definições da clássica mixtape Caro Vapor e dão o ar da nova música do último bom malandro, o single “Bem Alto”, com toda produção musical assinada por Don L. Dialogando com a sonoridade solar de “Tudo É Pra Sempre Agora”, a música já está disponível nas plataformas, junto com o clipe, no Youtube.
Agora, Don L retrata com um zoom in a plasticidade do mundo que vivemos em um rolê que não é o “dos lokos”, mas dos flashes, do tédio, da falsa sensação de diversão e dos conteúdos gravados para redes sociais de até um minuto. Acompanhado pela sua diva de terceiro mundo, os dois, em uma espécie de Bonnie & Clyde da indústria do entretenimento, se admiram mutuamente e circulam nos lugares mais almejados da sociedade. No clipe, Don L encena um roadmovie levando ao máximo o verso de “Caro Vapor”: “a estrada já tem que valer a viagem porque o destino é sempre incerto”. A direção é de Felipe Larozza e Daniel Lupo.
Duas técnicas são utilizadas proeminentemente neste videoclipe: fotografia infravermelha e intertítulos de continuidade. Ambas são relacionadas a certos inícios da comunicação no século 20 – os desenvolvimentos tecnológicos da foto e do cinema. O espectro infravermelho na natureza, isto é, antes do vermelho, é invisível ao olho nu, mas a apreensão visual desta radiação foi empregada, num primeiro momento, para fins de guerra e mais tarde para astronomia, até que finalmente para efeitos psicodélicos.
A artista Claudia Andujar se valeu desta técnica em sua série A Luta Yanomami. Os letreiros do cinema mudo podem ser divididos em duas categorias: de diálogos e explicativos. Ali é o segundo uso o aproveitado, cuja função pode ser para direcionar ou até confundir a narrativa proposta pelas imagens. No audiovisual as cartelas vazadas antecedem os versos e trazem os créditos principais. Os demais, com os trabalhadores envolvidos e suas atribuições, novamente aludem a legendas de televisão, como no trabalho anterior, “Tudo É Pra Sempre Agora”.