Tagua Tagua
Tanto
Independente, 2023. Gênero: pop, neo soul, jazz
O soul é um marco na história da música mundial. A mistura inusitada do R&B com o gospel e o jazz agitava a galera nas pistas de dança, além de ser um instrumento de protesto usado pela população afro-americana diante de tamanho racismo e segregação racial nos EUA dos anos 1950. Ao longo dos anos, o estilo agregou novas formas, novos corpos, novas vozes e novas narrativas. Um dos grandes exemplos, é o fenômeno Amy Winehouse que alavancou novamente a sonoridade ao estourar nas paradas.
O que há em comum entre o soul dos primeiros anos e o da saudosa Amy é a carga emocional, sentimental e dramática que as composições carregam, além de um instrumental elegante e sedutor. Talvez tenha sido a partir daí que a silhueta do Neo Soul tenha se contrastado melhor. Hoje, já concreto, o estilo agrupa as roupagens mais contemporâneas de seus elementos estruturadores (jazz e R&B especificamente).
É com o Neo Soul e com a premissa primária da expressão sincera dos sentimentos, que Tanto, novo disco de Tagua Tagua se sustenta, incorporando ao som uma característica única que nenhum outro artista internacional tem, a brasilidade. E não só pelo fato das faixas serem interpretadas em português, mas sim pela paixão flamejante peculiar de um brasileiro, tema recorrente das composições.
Felipe Puperi, a identidade por trás do título artístico, já esteve à frente da banda Wannabe Jalva e entende bem da cena independente. O compositor e produtor gaúcho já rendeu com Tagua Tagua, seu projeto solo, os EPs Tombamento Inevitável (2017) e Pedaço Vivo (2018), e o LP Inteiro Metade (2020). Neste último, o artista orbitou nas musicalidades da psicodelia tropical, do ye ye ye, do funk e já se relacionou com o soul. No novo disco, e primeiro da carreira solo, influências no indie rock e dream pop embalam os instrumentais.
A tessitura vocal mansa de Tagua Tagua, frequentemente em conversa com uma oitava de si mesmo expressam o tanto de sentimento que pudera estar guardado em processo de libertação. O disco foi montado nesses últimos dois anos. E esse espírito de libertação das sensações determinam o título do trabalho. As adiantadas “Colors”, “Pra Trás” e a homônima se juntam a inéditas como “Me Leva”, com ornamentações e toques charmosos de teclado, “Brisa” que vem com uma característica mais street, lembrando o hip hop, “Te Dizer” que traz uma viola mais protagonista, e outras como “Barcelona”, “Starbucks”, “OODH” e “Cada Passo”.
Tagua Tagua dosa bem as atmosferas das faixas, alternando entre umas mais sóbrias, lentas, outras mais solares e agitadas, tendo a percussão como importante condutora nestes direcionamentos, discreta, pontual, mas que faz as composições brilharem em suas propostas. O instrumental é de fato um destaque, com uma guitarra quase que onipresente, assim como o teclado. Também figura o dedilhar das cordas de viola, violino e violoncelo e a marcação potente de um baixo.
Embarcando em abril numa turnê pelo país, que inclusive começou no Recife, Tagua Tagua apresenta as camadas e sonoridades do Neo Soul, com o primeiro álbum Tanto, com potencial para tornar o estilo mais íntimo da nação, mais brasileiro.
Ouça Tagua Tagua – Tanto.
Leia mais críticas de discos: