Femme Fatale
A femme fatale é o ícone pop cinematográfico mais representativo da nova mulher que surge com a sociedade industrial, e certamente o ataque mais frontal aos valores da sociedade patriarcal. Em francês, quer dizer literalmente a mulher que mata. Embora muitos vejam nela a pin up de Jean Harlow, ou ainda a vilã descarada de Malvina Cruela, ela combina na verdade traços de ambas ao se consolidar dentro do ciclo noir e desbanca com facilidade a mocinha, invariavelmente preterida pelo protagonista masculino dessas obras. Os filmes noir foram realizados entre as décadas de 1940 e 1950 mas só se tornaram conhecidos por essa classificação a partir de artigos da crítica francesa. O termo neonoir ressurgiu mais tarde para designar filmes híbridos como Chinatown e Taxi Driver. Na atualidade, a expressão cai bem em personagens de diversos filmes e seriados como Jessica Jones e Electra, anti-heroínas da Marvel.
O enredo de um filme noir costumava girar em torno de um personagem masculino cínico, insensível e desiludido, personificado por atores como Humphrey Bogart, Robert Mitchum, Glenn Ford e Fred MacMurray, que encontrava uma femme fatale linda, mas promíscua, amoral, traiçoeira e dissimulada, interpretada por atrizes como Jane Greer, Rita Hayworth, Veronica Lake, Mary Astor, Lana Turner, Ida Lupino ou Barbara Stanwyck.
As garotas dos filmes noir normalmente se alinhavam em dois tipos: a mocinha prestativa, fiel, confiável, amável e obediente, perfeita para casar; ou a mulher enigmática, irresponsável, falsa, perversa e manipuladora, mas ambiciosa. O que deixava o incauto protagonista sem muitas opções a não ser seguir a musa fatal, que podia ser loura, ruiva ou morena, mas sabia o que queria e considerava o casamento como uma prisão tediosa. O crítico Frank Krutnik considerava a Phillys Dietrichson de Bárbara Stanwick em Pacto de Sangue (Double Idemnity, 1948) de Billy Wilder, um símbolo da sociedade de consumo moderna, com sua objetificação do prazer. Ao assistir o filme, a ideia do homem como vítima ingênua cai por terra na última cena, como bem sabemos. Em resumo, essa é a ideia do blog – lançar um olhar menos ingênuo às representações femininas e masculinas nas narrativas audiovisuais contemporâneas.
Foto do Perfil: Aline Arruda