Resistência explora a ascensão de IAs em futuro distópico, mas abordagem é pouco convincente

Sem trazer nada novo comparado a filmes do gênero, longa ainda assim deve empolgar entusiastas de sci-fi e impressiona pela construção visual

the creator 1
John David Washington é o protagonista Joshua, um ex-agente americano recrutado para caçar o desconhecido arquiteto por trás das IAs. (Foto: Divulgação/20th Century Studios).
Resistência explora a ascensão de IAs em futuro distópico, mas abordagem é pouco convincente
3

Resistência
Gareth Edwards

EUA, 2023, 2h13. Distribuição: 20th Century Studios
Com John David Washington, Madeleine Yuna Voyles e Allison Janney
Em cartaz nos cinemas

Resistência estreia nos cinemas nesta quinta (28) como a nova aposta de ficção científica da Disney via 20th Century Studios. Com direção de Gareth Edwards (Rogue One: Uma História Star Wars), o longa se passa em um futuro distópico, onde as Inteligências Artificiais (IAs) já estão tão avançadas e incorporadas ao cotidiano humano que foram capazes de explodir uma ogiva nuclear no centro de Los Angeles e agora há uma guerra entre humanos e robôs em curso.

A partir da premissa “pessoas versus máquinas”, amplamente já trabalhada em outras narrativas do gênero como Blade Runner ou até O Exterminador do Futuro, a visão do diretor questiona se deveríamos realmente nos sentir ameaçados. Mas o que começa bem e poderia resultar em um sci-fi intrigante, acaba cedendo a simplificações narrativas e uma abordagem rasa sobre o dilema que tenta lançar luz.

Na trama, ambientada dez anos após a tragédia nuclear, as IAs estão banidas no Ocidente. Em contrapartida, as repúblicas da chamada Nova Ásia continuam desenvolvendo e abrigando as máquinas, o que leva o lugar a se transformar no epicentro de uma guerra cruel capitaneada pelos EUA. Para o protagonista Joshua (John David Washington), um ex-agente que sofre com o desaparecimento de sua esposa, cabe a missão de localizar e eliminar o Nirmata, o desconhecido arquiteto responsável por programar os ciborgues, e destruir uma poderosa arma desenvolvida por ele.

the creator 2
A pequena Madeleine Yuna Voyles interpreta Alphie. (Foto: Divulgação/20th Century Studios).

O problema é que a arma em questão se revela, na verdade, ser uma Inteligência Artificial em forma de criança. A partir de então, o filme explora os vínculos e laços de afeto que vão se estreitando entre Joshua e a pequena “simulante”, batizada de Alphie, cuja interpretação fica por conta da carismática Madeleine Yuna Voyles. A relação que se estabelece entre os dois, por sua vez, acaba se tornando o único elo emocional que move a trama; o coração que permanece batendo para manter o filme vivo.

Isso acontece porque todos os outros personagens, em grande parte vividos por atores asiáticos ou de descendência asiática, se resumem a nada mais do que meros trampolins para fazer a narrativa seguir seu rumo, carecendo de desenvolvimento e camadas mais profundas. Assim, a impressão é de que o filme descentraliza a geopolítica dos acontecimentos (algo ainda raro de se ver em Hollywood) para meramente expurgar uma culpa americana pela Guerra do Vietnã, sem nunca saber exatamente o que fazer com isso.

De toda forma, mesmo com seus tropeços, Resistência vem como um trabalho coeso e bem amarrado dentro do gênero e se destaca, sobretudo, pela fotografia e efeitos visuais. É impressionante ver na tela o mundo e paisagens construídas no cenário do sudeste asiático. Para quem sentia falta de uma sci-fi original nas telonas, vale a pena conferir. Mas a trama não tem muito oferecer além disso.