Projeto resgata a memória gráfica pernambucana através da difusão do acervo de cartazes do Mispe

Aproximadamente 2 mil peças foram digitalizadas e catalogadas em ordem cronológica; o lançamento é virtual e acontece nesta quinta (18)

Cartaz de 1987 anuncia programação em homenagem ao músico e compositor Pixinguinha. (Foto: Divulgação).

Nesta quinta-feira (18), data em que se comemora o Dia Internacional dos Museus, será lançado o projeto Memória Gráfica de Pernambuco: 30 anos de design digitalizados na coleção Mispe (1970-2000), que tornará acessível para toda a população a coleção de cartazes do Museu da Imagem e do Som de Pernambuco (Mispe). A iniciativa busca revitalizar e fortalecer a memória gráfica do Estado contida no acervo de quase 2 mil peças, que hoje dispõe de circulação ainda restrita. O incentivo é do Funcultura.

Digitalizado e catalogado cronologicamente, o material ficará disponível através da página @memoriagrafica_mispe no Instagram. Cada imagem chegará ao público acompanhada de texto alternativo, o que garante a democratização e a acessibilidade do arquivo gráfico que reúne cartazes de 1970, ano de fundação do equipamento cultural, até 2000. O resultado final do processo também será publicado em formato e-book, com texto crítico introdutório e apresentação.

Para o mestre em Artes Visuais e idealizador do projeto, Felipe Ferreira, a iniciativa contribui para provocar reflexões sobre a imagem e o design, bem como para fortalecer a memória local e o imaginário popular. “É um material muito rico. Então tem muita memória ali. A partir do momento que a gente vai vendo esses cartazes, a gente também vai resgatando nossa história”, explica ele, que contou com a ajuda da historiadora e museóloga Mônica Ferreira do Nascimento.

Ele contou, em entrevista a Revista O Grito!, que o arquivo catalogado inclui peças publicitárias da Empetur, que mostram como a imagem da região Nordeste, e especificamente de Pernambuco, costumava ser veiculada para o resto do país naquela época, além de cartazes de filmes, eventos de cinema, exposições de arte e até oficinas de fotografia ofertadas na UFPE e no próprio Mispe. “Alguns até apresentam carimbo da censura, revelando que aquele cartaz passou pelos censores da ditadura”, destaca.

No entanto, ele chama a atenção para o fato de que essa memória só chegou até nós hoje, porque o Mispe ainda resiste. “E isso abre para uma outra questão: e a memória de agora? Tudo é virtual, a gente quase não imprime mais cartazes e a gente também não tem um local que catalogue esse acervo virtual”, reflete o fotógrafo e mestre em Artes Visuais.

Apesar de considerar imprescindível a difusão dessa memória gráfica de Pernambuco e de torná-la acessível para todos, incluindo pessoas com deficiência, Ferreira avalia que o trabalho realizado por ele e Mônica Nascimento ainda “é muito pouco em relação ao que é o Mispe e ao que merece ser o Mispe”. É que o museu hoje se limita ao acondicionamento do acervo, sem promover exposições.

No esquecimento

Devido a problemas estruturais, o Mispe foi fechado temporariamente em 2008 para reformas do casarão onde está localizada sua sede, na Rua da Aurora. Mas o que era pra ser passageiro dura até hoje e há 14 anos o aparelho cultural vem funcionando na Casa da Cultura, onde o acesso ao arquivo fica restrito a pesquisadores e produtores culturais com autorização prévia.

Parte da rede de equipamentos culturais da Fundarpe, a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, o museu foi fundado em 1970 com o objetivo de documentar e divulgar a memória pernambucana na música e no audiovisual. São mais de seis mil peças, entre filmes, discos, fitas, cartazes, postais e fotografias, que hoje compõem o acervo mantido na Casa da Cultura.