Morreu o poeta Miró da Muribeca, aos 61 anos

Poeta construiu uma obra marcada pelo olhar do cotidiano. Ele enfrentava problemas de saúde e chegou a ser internado diversas vezes nos últimos meses

miro. foto wesley dalmeida
Miró era um dos maiores poetas urbanos do Brasil. (Foto: Wesley D' Almeida / Divulgação. )

O poeta e cronista pernambucano Miró da Muribeca morreu neste domingo (31) aos 61 anos, segundo informações divulgadas através de suas redes sociais. Ele lutava contra um câncer que estava em estágio de metástase.

“Comunicamos a todos os amigos, fãs e seguidores, que nosso poeta Miró da Muribeca encantou-se nesta manhã de domingo. Em breve, daremos mais informações sobre a cerimônia de despedida. Pedimos desculpas se não conseguirmos responder às manifestações de pesar. Não responderemos, neste momento, a mensagens inbox/direct”, diz o comunicado nas redes sociais.

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Miró chegou a ser internado mais de uma vez nos últimos meses por conta do câncer, contra o qual já lutava há dois anos.

“Ele faleceu no Hotel Central, com o qual mantinha uma relação muito íntima. [Antes] Ele estava numa clínica particular internado, mas no começo do mês ele pediu para ir para o Hotel Central. Ele estava atendido por cuidadores, 24 horas por dia. Ele chegou a ter algumas internações rápidas já nessa fase terminal do câncer, contra o qual lutava há dois anos. Ele faleceu provavelmente dormindo. Quando amanheceu e foram checar os sinais vitais, ele tinha ido a óbito”, contou o escritor Wellington de Melo amigo, editor e biógrafo de Miró, ao G1.

De acordo com sua assessoria de imprensa, Miró também enfrentava problemas de saúde causadas pelo alcoolismo. Ele chegou a se internar mais de uma vez em clínicas de reabilitação.

Miró nasceu João Flávio Cordeiro da Silva, em agosto de 1960, mas ganhou a Muribeca como alcunha nos campos de futebol da infância, numa alusão ao então craque Mirobaldo, do Santa Cruz. Com uma poesia muito calcada no cotidiano urbano tornou-se poeta, escritor e declamador pernambucano.

Artista independente, Miró publicou os livros Quem descobriu o azul anil? (1984), Ilusão de Ética (1987), Pra não dizer que não falei de flúor (2004), DizCrição (2012), aDeus (2015), O penúltimo olhar sobre as coisas (2017), além da coletânea Miró até agora (2016). Sua última obra impressa foi O céu é no sexto andar, publicada em 2021.

Repercussão

Diferentes artistas e autoridades lamentaram a morte de Miró. “Voa, poeta! E fica aqui com a gente porque ninguém nunca esquece o que te leu, nem o que te ouviu, rindo e chorando. Obrigada!”, disse a cantora, artista visual e escritora Karina Bühr. “Miró da Muribeca agora tem o infinito inteirinho para espalhar sua poesia”, disse China Ina.

“O Recife tem vasta tradição na poesia falada; dos anos 1980 para cá, Miró foi o maior poeta a deixar o eco dos seus versos espalhados por becos e vielas da cidade”, escreveu o escritor Xico Sá.

A Secretaria de Cultura e a Fundação de Cultura Cidade do Recife, da Prefeitura do Recife divulgou nota lamentando a morte de Miró. “As ruas, esquinas e noites do Recife perdem um bocado de poesia e sentido neste domingo. (…) Entre o lirismo e a periferia, escolheu os dois. Subverteu a rima e cunhou uma estética poética popular, urbana, periférica, negra e social, que levou Miró até para fora do Brasil. “

O presidente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Severino Pessoa, lamentou a morte do artista. “Miró era um talento desses que só Pernambuco produz: era inquieto, criativo e rebelde como um bom representante do nosso povo. Perdemos um artista das palavras, que retratou como poucos o cotidiano da periferia”, declarou.

Oscar Barreto, secretário Estadual de Cultura de Pernambuco também manifestou pesar. “A poesia pernambucana perdeu um dos seus grandes nomes. Miró da Muribeca deixa na memória e nas publicações uma imagem de artista expressivo e revolucionário”.

O presidente da Cepe, o jornalista Ricardo Leitão, declara que foi uma grande honra publicar os livros de Miró. “Registrar sua poesia forte e de cunho social foi um compromisso da editora. Seu trabalho foi uma importante contribuição para a poesia brasileira”, diz o presidente da Cepe. [Com informações de Folha e G1]