MADONNA COPACABANA SHOW 4 mai 24 @MarcosHermes 6 edi
Foto: Marcos Hermes.

Com tesão e amor, Madonna faz história com uma celebração coletiva de 1,6 milhão de pessoas

Novamente peitando a caretice e o conservadorismo, show da Rainha do pop foi um fenômeno absoluto e torna-se um marco cultural no pop

Especial para a Revista O Grito!, do Rio de Janeiro (RJ)

Praia de Copacabana, Rio De Janeiro, 4 de maio, 2024.

Madonna ensinou pela quadragésima vez sua maior lição: viver a vida com todo o tesão que se há de ter. Ícone absoluto de tudo que se entende por cultura pop, lotou as areias de Copacabana e os lares do país com sua turnê mais emblemática em décadas.

Sexo, liberação sexual, queer, ativismo social, vogue, balé, comunidade, catolicismo, rock, violão, boate, família, música, Michigan, Nova York, e o mundo. Madonna trouxe naqueles eternos 120 minutos todos os motivos pelas quais é coroada rainha e pelos quais é tão amada – e odiada. Madonna é a liberdade mais latente que se pode ver.

Quem acompanha sua trajetória sabe que nem sempre ela performa o melhor dos seus humores. Mas nem na abertura dramática com o smash hit “Nothing Really Matters” ela conteve o sorriso e a surpresa estampada no rosto. Tem quem fique preso à ideia de que Madonna tem 65 anos, que a Celebration Tour será sua última grande turnê e todos esses lugares comuns que ela enfrenta de peito aberto.

I wanna tell you about love e tesão. Depois de duas noites de ensaio, algumas balaclavas, ajustes e surpresas, Madonna provou no Rio de Janeiro que tem muita sede de viver e que não fez tudo. Afinal, era 4 de maio, uma data fria no calendário nacional de eventos, e a Rainha do pop levou inacreditáveis 1,6 milhão de pessoas in loco. Foi o seu maior show, até agora. Erra feio quem disser que será sua maior audiência. Madonna pulsa tesão e sede de viver e vive o auge de uma mulher em sua excelência.

Madonna.
Com um incrível corpo de baile e várias etapas, o show trouxe dança, performances e momentos mais intimistas. (Foto: Marcos Hermes).

Engraçado pensar que meses atrás quase a perdemos para uma infecção bacteriana. A artista ficou dias numa UTI se recuperando. E talvez aqui precise recorrer ao básico da psicologia freudiana e lembrar a pulsão de vida após o trauma de ver a vida ali, frágil e por um fio. Talvez a Celebration Tour, incluindo a perna brasileira, tenha sido ainda maior depois disso.

Para o mundo que viveu uma pandemia, e um país como o nosso, duramente castigado por uma onda insana de conservadorismo, Madonna nem precisou inventar uma fórmula. Ela simplesmente mostrou o seu melhor, e  lembrou o nosso. Em “Music”, recebeu Pabllo Vittar, rodopiou, vestiu o manto da canarinha e devolveu a bandeira do Brasil à sua vocação de representar nossa diversidade.

No telão, fileiras de ícones da nossa história. Todo mundo viu Mano Brown com Érika Hilton, Marta, Marina Silva. Não se faz uma carreira sem memória e Madonna o fez, de novo, com maestria. Impossível não chorar vendo a batucada de jovens cariocas ali, da mesma forma que não teve quem se segurou ao ver os nossos Cazuza, Betinho, Renato Russo, Sandra Breá, Mauro Gonçalves ao lado de Sylvester, Keith Haring, Freddie Mercury, Martin Burgoyne e tantos outros ícones abatidos pelo HIV em “Live To Tell”.

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Madonna perpassou hits de suas quatro décadas de carreira. (Foto: Marcos Hermes)

Esse texto aqui poderia narrar muitos momentos icônicos, como a sagração de “Like a Prayer”, o sexo, Anitta no ballroom, a participação de Bob the Drag Queen, o piano da filha Mercy James, o voguing de Estere, outro talento da família, os visuais psicodélicos de “Ray of Light”, o cubo de luz, os discursos. Mas, graças a tudo que há de bom e à tecnologia, muita gente viu. E vai poder rever. Madonna é um fenômeno. A maior artista pop viva. Depois de um jejum de 12 anos sem vê-la, o Brasil mereceu. Nós merecemos mesmo.

https://twitter.com/tvglobo/status/1786941479304269826
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A respeito da crítica conservadora: que maravilha que Madonna incomoda, e que péssimo que essa parte da sociedade, tenha envelhecido tão mal e se espantando com sexo, boa música e liberdade. Pelo menos nas redes sociais, vi bastiões da sacra boa família circulando, a despeito do Fábio Wjaingarten e o senador Jorge Seiff (que confundiam a opinião pública até às 17h do mesmo sábado criticando o evento e associando as verbas dispensadas a um gasto desnecessário e injusto). A nova carecite lacradora.

O Rio é o Brasil do Brasil e merece todo holofote. Expoente de beleza e com vocação natural para o que há de maior e mais alegre. Ainda bem que tivemos transmissão para o país e dezenas de câmeras para registrar cada segundo.

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O show torna-se um dos maiores da história em tamanho de público. (Foto: Alexandre Macieira/Riotur. )

Uma nota sobre organização

Para quem plantou a teoria do caos: tudo bem organizado, mesmo que a revista para o acesso à praia tenha sido mais discreta que o anunciado. Ainda assim, a  PM-RJ divulgou um balanço parcial da operação de segurança em Copacabana para o espetáculo. Até as 23h registraram 33 prisões e a apreensão de 160 objetos perfurocortantes, entre facas, tesouras e estiletes.

Da mesma forma, flagrantes de golpistas, aos montes, nas calçadas da Avenida Atlântica abordando fãs para venda de acesso às áreas VIPs. Comigo aconteceu em frente ao edifício Chopin: “Entra comigo e me paga lá dentro, R$3.000 e podemos negociar”, disse a mulher.

Diferente da força pública, a produção da Celebration Tour in Rio mostrou estar atenta e impediu o avanço do golpismo. Devidamente identificada, mesmo tendo êxito em penetrar a área de fãs em frente ao palco, a golpista foi removida.

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Apesar do alarde, a organização conseguiu garantir uma apresentação tranquila. (Foto: Marcos Hermes).

Os bloqueios de trânsito nas ruas de Copacabana funcionaram, apesar da falta de informações ou da confusão que alguns guardas de trânsito faziam, sobretudo perto dos acessos aos metrôs. Muita reclamação do público que queria acessar estações, como a Siqueira Campos e eram conduzidos à Cardeal Arcoverde, e vice-versa. Outrossim, para quem optou caminhar, seja sentido Leblon, Botafogo ou Ipanema, conseguiu com êxito e certa tranquilidade.

E sobre o “muro de Copacabana”: ele caiu às 10h da manhã, diferentemente de várias notícias falsas e boatos que circularam nas redes sociais. E teve mais: os fãs sorteados em ações dos patrocinadores ficaram ali na golden area, dentro do palco. De surpresa, vários outros foram pescados e ocuparam mais um bloco em frente ao palco. Uma alegria bonita e um afago, porque coração de fã faz essa magia toda acontecer. Sem eles, não teríamos Madonna, inclusive.