Inesquecíveis
Fabien Toulmé
Nemo, 128 páginas, R$ 74,90. Tradução de Fernando Scheibe
O que se espera de qualquer contador de histórias em um livro, um filme ou em uma HQ é que ele ou ela apresente seus personagens, o contexto em que eles vivem e estão inseridos e articule a narrativa com fluidez, concatenando os acontecimentos de forma envolvente. Essa técnica simples e direta, todavia, não é garantia de um bom resultado se a trama narrada não tem alma. Felizmente este não é o caso do quadrinista Fabien Toulmé, como pode ser comprovado no seu trabalho mais recente lançado pela editora Nemo: Inesquecíveis, uma coletânea de histórias dramáticas e, ao mesmo tempo, inspiradoras e emocionantes.
Inesquecíveis é o primeiro volume de uma nova série iniciada por Toulmé de quem já conhecemos, entre outras obras, a incrível trilogia A Odisseia de Hakim, onde ele conta a aventura real e comovente de um refugiado sírio para chegar na Europa. Aliás, contar histórias de pessoas reais, inclusive dele próprio, no formato de quadrinhos, coloca o artista francês, que morou por dez anos no Brasil, como um dos nomes incontornáveis no mundo das HQs baseadas em acontecimentos verídicos.
Sua estreia se deu em 2014, com a graphic novel Não Era Você Que Eu Esperava – sobre a aceitação e o amor dedicado a sua filha portadora da síndrome de Down –, e vem se desdobrando em trabalhos nos quais ele busca, por meio do relato de histórias pessoais, trazer reflexões sobre questões sociais mediadas pela expressão artística. No ano passado, por exemplo, na série Reflexos do Mundo, Toulmé dedicou um dos volumes a lutas das mulheres contra a opressão ao redor do globo.
Na apresentação de Inesquecíveis, Toulmé reafirma seu fascínio pelas histórias verdadeiras e se declara um apaixonado pelas pessoas e por suas vidas. A HQ descreve a saga pessoal de seis personagens, cujas narrativas são inspiradas nos relatos dos acontecimentos mais significativos e inesquecíveis por elas vivido. Construídas a partir de entrevistas, cada capítulo são testemunhos que extrapolam o lado pessoal e acabam compondo um retrato da nossa sociedade, segundo palavras do próprio Toulmé.
Além de histórias tocantes, outro fator importante no conjunto da obra é a forma como essas narrativas são desenhadas. O traço de Toulmé é simples, econômico, delicado e, talvez, por isso, tenha um efeito tão cativante sobre o leitor. Há, sobretudo, um equilíbrio entre texto e desenho que se completam harmoniosamente e uma maneira de conjugar as imagens em que o fluxo de planos e as elipses proporcionam um ritmo preciso para a apreciação do que está sendo contado.
Com tal apuro narrativo, não é difícil imaginar que todos os casos narrados em Inesquecíveis de um jeito ou de outro vão mexer com o leitor. Seja por tratarem de fatos que podem acontecer com qualquer um de nós, como no episódio da garota que tem sua vida marcada por uma longa passagem no seio de uma igreja evangélica, seja pela triste lembrança de ter testemunhado uma tragédia histórica de dimensões inimagináveis como o genocídio em Ruanda. Uma HQ, portanto, em sintonia com os dias que correm.
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