Grammy 2017: Beyoncé, Katy Perry e A Tribe Called Quest injetam crítica política na premiação

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Beyoncé tipo deusa. (Reprodução/CBS).

As trincheiras contra Trump vão crescendo dentro da cultura pop e o Grammy não ficou de fora. Em uma noite marcada por boicotes de estrelas de primeira grandeza como Frank Ocean, Kanye West e Justin Bieber, muitos artistas aproveitaram o espaço para fazer críticas ao atual momento na América.

Beyoncé, vencedora de melhor álbum de urban por Lemonade fez um discurso de forte teor político. Já Katy Perry cantou seu novo hit com uma performance que falou diretamente sobre a constituição americana ao mesmo tempo em que destruia um muro cenográfico. Mas nada se comparou à poderosa apresentação de A Tribe Called Quest em que punhos negros cerrados conclamavam uma resistência.

Entre as apresentações destaque para Beyoncé, que cantou “Sandcastles” e “Love Drought” em uma performance que celebrou a maternidade. Grávida de gêmeos, Bey surge como uma deusa em meio a projeções ligadas a feminilidade, maternidade e religião. Com um manto dourado e um adereço que lembrava a coroa de espinhos de Jesus Cristo ela ainda trouxe uma grande mesa semelhante à Santa Ceia e imagens de sua filha, Blue Ivy. Surpresa da noite, Beyoncé perdeu o prêmio de álbum do ano onde concorria com o seu clássico Lemonade para 25, de Adele.

Esse resultado só reforça as críticas feitas por Frank Ocean e outros artistas que reclamam que o Grammy não privilegia o trabalho de artistas negros. Em um resultado parecido, o disco de Taylor Swift, 1989, levou o troféu de melhor álbum do ano onde concorria com To Pimp A Butterfly, um dos mais inovadores e ousados discos lançados nos últimos tempos. Ocean, assim como Justin Bieber, criticam a falta de relevância cultural da premiação, desconectada dos contextos sociais e políticos ligados à música.

25, de Adele, pode ser irrepreensível do ponto de vista de produção musical e interpretação, mas não se compara à ousadia estética e inovação de Lemonade. Ao receber o prêmio Adele fez um discurso emocionado e agradeceu a Beyoncé por fazer seus amigos negros se sentirem empoderados por sua música e exaltou a importância de um disco como Lemonade. O momento serviu para mostrar que não existe rivalidade entre elas e ambas foram às lagrimas.

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Katy Perry com Skip Marley: persistir. (Reprodução/CBS).

Derrubando os muros

Já Perry fez a estreia de “Chained To The Rhythm” em uma performance que traduzia em imagens a proposta da letra: estamos todos presos em uma cerca, que precisamos sair. Depois de ser quase obstruída por um muro ela destrói o cenário para revelar a frase que inicia a constituição dos EUA, “we the people” (nós, o povo). A cantora ainda usou uma faixa no braço que dizia “Persistir”. Perry é hoje um dos nomes mais ativistas e antagonistas a Trump dentro do pop mainstream. E fez bom uso do holofote que é o Grammy.

A noite teve diversos momentos falhos, a começar pelo defeito no microfone na apresentação de Metallica e Lady Gaga, que forçou James Hetfield, visivelmente irritado, a dividir o pedestal com Gaga. Adele, em sua homenagem a George Michael, decidiu recomeçar a canção após errar, e pediu desculpas. “Desculpe, eu sei que está ao vivo na TV, mas não posso fuder tudo por ele”, disse ao microfone. “Desculpe pelo palavrão e sinto muito por começar de novo. Não posso estragar tudo isso por ele”. Ela cantou “Fastlove”, que ganhou uma versão mais lenta em relação à original. Adele abriu o Grammy cantando “Hello” e ainda retornou para receber o prêmio de “música do ano” por “Hello”, desbancando “Formation”, de Beyoncé.

A noite teve ainda homenagem a Prince feita pela The Time, banda que acompanhava o músico e shows de Ed Sheeran e Alicia Keys com Maren Morris. Chance The Rapper, além de tornar-se o primeiro artista a ganhar um Grammy por um disco lançado apenas por streaming (Coloring Book venceu como melhor álbum de rap) ele ainda fez uma performance emocionada em que misturou hip hop ao gospel.

Separamos os melhores momentos do Grammy:

A performance de Beyoncé, grávida de gêmeos, se equilibrando na cadeira e sendo santa.

Lady Gaga com Mettalica em meio a falha de microfones. Ainda assim uma das melhores performances da noite.

A homenagem de Adele a George Michael.

https://www.youtube.com/watch?v=CYUuAoZLas0

Katy Perry e Skip Marley cantando o novo hino, “Chained To The Rhythm”