Filme de Hebe aborda censura e política, mas desconstrói pouco a personagem

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Andréa Beltrão tem carisma suficiente para segurar filme nas costas. (Divulgação).

Quando Andréa Beltrão surge em cena como Hebe Camargo na cinebiografia Hebe – A Estrela do Brasil, de Maurício Farias, lançada nesta quinta-feira (26), sua atuação e presença magnética na tela quase são suficientes para garantir a qualidade do longa. Talvez seja uma característica das adaptações atuais do cinema nacional a pouca habilidade de escapar do formato televisivo e se afirmar como um produto de cinema longe dos maneirismos das produções de teledramaturgia – ao exemplo das também recentes Minha Fama de Mal (sobre Erasmo Carlos) e Chacrinha: O Velho Guerreiro.

Ou talvez seja a distância entre as escolhas e experiências de vida de alguns desses personagens e as pautas protagonistas dos dias de hoje, que já não cabem mais serem retratados sem um contraponto crítico – violência doméstica e posicionamento político no topo.

Focado em um período específico da carreira da apresentadora – mais precisamente sua transição da Bandeirantes para o SBT nos anos de 1980 – o filme também retrata aspectos da sua vida pessoal, como o casamento abusivo de mais de 25 anos com o empresário Lélio Ravagnani, permeado de brigas constantes agravadas pelo ciúme e abuso de álcool e a relação amorosa com o filho, Marcelo.

É esse recorte que mais consegue aprofundar o imagético que o público guarda de Hebe, cuja carreira como apresentadora de televisão sempre esteve atrelada à uma presença alegre, exuberante, vaidosa e de grande apelo popular. Com o trabalho podemos nos aproximar de uma Hebe mais humana – e dessa forma, falha, vulnerável e de posicionamentos discutíveis. Ainda assim, há que se concordar que para cada amizade declarada e defesa pública a um Paulo Maluf, havia um programa dedicado a discutir os avanços da então desconhecida aids, em que pese a maior relevância do debate desta última.

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Filme não desvenda Hebe do mito, mas a conecta com a conjuntura política (Foto: Montagem sob Reprodução).

Teria sido interessante se debruçar mais na longeva amizade da protagonista com duas de suas grandes amigas, as atrizes Lolita Rodrigues e Nair Belo, que formavam com Hebe uma das parcerias mais populares do meio artístico.

Ou ter dedicado um pouco mais de atenção ao episódio da participação de Hebe no Roda Viva de 1997, em que, a despeito de bradar “Não ser de esquerda nem de direita: ser direta”, ela abriu ao vivo para a audiência do país os percalços que passou com a censura ainda vigente no país por ter criticado a atuação de alguns dos constituintes.

No fim, Hebe – A Estrela do Brasil é um bom trabalho de caracterização longe da caricatura simples.