Família Savage

Divulgação

INDIE MOVIE
Falando sobre relacionamento entre irmãos, filme não cai na mesmice e não reproduz cacoetes tão peculiares ao gênero da comédia dramática
Por Raphaella Spencer

No dia-a-dia sempre encontramos pessoas que exalam um ar de invencibilidade, como se nada fosse capaz de abalar sua postura ou convicções. Claro, tal impressão quase nunca resiste. Resiste menos ainda com o passar dos anos, junto com a velhice vem a aparente fragilidade. É um pouco sobre o passar dos anos e outro pouco sobre a humanidade de seus personagens que trata Família Savage, de Tamara Jenkins.

O filme começa com um time de cheerleaders da terceira idade dançando um balé quase dadaísta diante de uma comunidade para aposentados chamada Sun City, lugar que realmente existe no Arizona. Essa abertura tão onírica nos dá pistas da leveza que vai acompanhar todo o filme, mesmo quando assistimos os embates mais calorosos entre seus personagens. Tais discussões são frutos do reencontro de Lenny, Philip Bosco – um dos aposentados de Sun City, que começa a dar os primeiros sinais de demência – com seus dois filhos, Wendy e Jon. Diante desse quadro, os personagens não poderam mais protelar esse reencontro e serão obrigados a conviver em função da internação do pai.

Laura Linney, indicada ao Oscar de mehor atriz por esse papel, vive Wendy Savage. Formada em artes dramáticas, ela sonha com a montagem da peça na qual conta a história de sua infância conturbada, mas vive de desestimulantes trabalhos temporários, que servem apenas para bancar um pequeno apartamento em Nova Iorque onde cria um gato e mantém um caso com o vizinho Larry, Peter Friedman.

Jon Savage, o sempre bom Philip Seymour Hoffman (ator de Capote, Embreagados de Amor e Magnólia), é um professor de artes dramáticas, que escreve livros sobre aspectos obscuros da biografia de personalidades como Bertolt Brecht e vive só numa casa entulhada de livros.

Sim, as mesmas diferenças que permeiam a descrição de suas rotinas estão presente nos traços das personalidades contruídas para seus personagens. De um lado temos uma Wendy chorona, atormentada por seus sonhos frustrados e se sentindo culpada pela situação na qual se encontra seu pai. Do outro temos seu irmão Jon, tão academicísta com as questões familiares quanto na sala de aula, sempre forçando uma suposta praticidade intelectualizada e se esquivando de conversas que versem sobre suas emoções.

Ambos vivem, agora, com a mágoa de uma infância negligenciada por um pai ausente, figura forte e autônoma, mas que irá expor toda sua fragilidade invertendo essa relação de dependência e criando a situação que, em meio ao “caos”, será a ideal para exorcisar todas as diferenças que sempre afastaram essa família.

Família Savage fica entre a verborragia eficiente de filmes como os de Wood Allen, que com seus roteiros conseguem até disfarçar atuações nem tão boas assim e o típico filme indie americano, que se nega a ser só mais um dramalhão. Mas acaba criando personagens caricatas, seja por sua sobriedade, no caso de Jon, ou por sua neurose, representada por Wendy.

No caso de Família Savage as duas atuações conseguem superar os esteriótipos que representam e se equilibrar nessa tênue linha que mescla um pouco do que é bom dessas duas formas de filmes, transformando essa história numa crônica da vida real cheia de episódios, que passam por temas como o envelhecer, as diferenças entre irmãos e as frustrações da vida adulta. Tudo isso sem sentimentalismo e com um toque de humor que torna aquelas situações possíveis e nos aproximam da relação entre aquelas três pessoas.

a familia savage the savages1Roteirizado e Dirigido por Tâmara Jenkins, que antes já assumiu as duas funções no autobiográfico, O Outro Lado de Beverly Hills (1998), a história de uma família de judeus pobres tentando vencer na periferia de Beverly Hills durante os exuberantes anos 70. Coincidência ou não, Tâmara é casada com Jim Taylor, co-roteirista junto com Alexander Payne, do vencedor do Oscar, Sideways-Entre umas e outras (2004), filme que cria uma relação entre a arte de degustar vinhos e as relações humanas. E nessa busca do olhar fílmico nas relações humanas guarda algumas semelhanças com as opções da diretora em Família Savage.

FAMÍLIA SAVAGE
Tamara Jenkins
[The Savages, EUA, 2007]

NOTA: 7,0

Família Savage – Trailer