Entrevista: Wry

05

VOLTA AO LAR – COM BARULHO
Por Paulo Floro

Depois de sete anos longe de casa – morando na Inglaterra, onde construíram carreira no segmento shoegazer – o Wry volta ao Brasil para lançar nada menos que três novos discos. A banda, natural de Sorocaba (SP) planeja tocar em todo Brasil, semelhante ao que fizeram em 2005, quando voltaram para divulgar o álbum Flames In The Head.

O primeiro lançamento, previsto para Abril é o disco She Science, que assim como The Long-term Memory Of An Experience, está sendo mixado na Inglaterra. Completa a trinca o passional National Indie Hits, onde a banda revisita canções perdidas da efervescente cena alternativa brasileira na década de 1990. Antes, neste mês, o Wry participa de uma coletânea-tributo ao Jesus and Mary Chain.

Um 2009 bastante movimentado – e barulhento, promete o Wry. O Grito! conversou com Mário Bross, guitarrista e vocalista. De Londres, o músico conversou com O Grito! e comentou o cotidiano de uma banda imigrante na Inglaterra, planos para fazer no Brasil e do que sentem saudade.

DESDE QUE EU OUÇO FALAR DO WRY, SEI QUE VOCÊS MORAM NA INGLATERRA. O QUE ESSA ESTADIA FORA DO PAÍS TROUXE DE BOM PARA A BANDA?
O que vem a cabeça agora é a facilidade maior que temos em compor músicas mais bem estruturadas. A assimilação mais clara do que realmente é a música que nos influenciou no passado, tendo um parâmetro com o que sabíamos do Brasil em termos de bandas e o que essas bandas representam, acabou influenciando no jeito da gente escrever, o que foi muito bom. Na Inglaterra é engraçado, até um moleque de 10 anos conhece as estruturas básicas de uma canção pop escrita, isso é bem interessante. Tenho uma sensação de conquista, trabalho feito também quando lembro do que pensávamos fazer aqui e de que o sonho de morar na Inglaterra vinha já antes de formar o Wry.

E COMO SE DEU A RELAÇÃO COM OS FÃS BRASILEIROS EM TODOS ESSES ANOS?
Muitos emails, turnês e novos álbuns. Nunca paramos de trocar mensagens com o público brasileiro. Acho que depois do Flames in the Head, cresceu bastante o numero de fãs brasileiros.

VOCÊS ACOMPANHAVAM O QUE ESTAVA ACONTECENDO NA CENA INDEPENDENTE NO BRASIL? CERTAMENTE CONHECERAM O SUCESSO DO BONDE DO ROLÊ E CSS POR ESSAS BANDAS.
Sim, acompanhei bastante e não vejo a hora de ver algumas que nunca vi ao vivo quando estiver por aí. Quanto ao sucesso dessas bandas que você citou, eu percebi mais a do CSS, e ainda no primeiro disco por aqui. O segundo não ouvi muita coisa não, a não ser quando lançou o álbum. O Bonde do Role durou mais enquanto o dinheiro da campanha dos álbuns e singles daqui existia, quando acabou não se falava mais. Pelo menos o meu ciclo é outro, outra história – bem longe dessa onda passageira da qual essas bandas fizeram parte. Nas noites que freqüentei ouvi bastante Djs tocando CSS por pelo menos um ano sem parar, era com orgulho que eu ouvia; do Bonde eu só ouvi uma vez.

PORQUE A DECISÃO DE VOLTAR AO BRASIL?
Não foi algo assim de repente, tínhamos a ideia de ficar aqui 5 anos, mas devido ao lançamento de Whales and Sharks, pela Club AC30 em 2007, acabamos esticando mais a estadia por aqui, o que foi bom sem dúvida.

COMO ESTÃO AS ARTICULAÇÕES POR AQUI? PLANOS PARA UMA TURNÊ, PARTICIPAÇÃO EM FESTIVAIS?
Muita coisa, temos tantas ideias pra botar em prática que na verdade não vejo a hora de estar aí. Tocar com certeza, no Brasil todo e fazer os festivais que nos convidarem. Estamos com um show maior, usamos projeções no palco, luzes e Jon Hassuike que é o engenheiro de som do Wry, estará conosco no Brasil. Então agora os fãs podem esperar uma qualidade do som da banda superior aos shows anteriores que fizemos por aí.

ESSE TEMPO PASSADO FOI MUITO IMPORTANTE PARA A BANDA, ACREDITO. MAS VOCÊS PODEM DIZER QUE CONSTRUÍRAM UMA CARREIRA SÓLIDA AÍ?
O que posso dizer é que continuaremos lançando nossas músicas pelo selo ClubAC30 daqui e possivelmente estaremos voltando para shows na Europa. Vamos ver o que vai rolar e o quanto ocupados estaremos. Para o som que fazemos é difícil construir uma carreira sólida, não fazemos música para um gênero com apelo comercial e de fácil acesso, shoegaze é um estilo mais particular e artístico eu diria. Prefiro dizer que fazemos rock alternativo, mas shoegaze pode descrever nosso som muito bem agora.

A CENA INDIE DAQUI ESTÁ MAIS FORTE, COM MAIS VISIBILIDADE, MAS AINDA NÃO SE COMPARA À LONDRES. NA OPINIÃO DE VOCÊS, O QUANTO VALE A PENA UMA BANDA BRASILEIRA TENTAR CARREIRA FORA DO PAÍS?
Lembro-me de dar uma entrevista nos dias que rolou o Circadelica (festival organizado pela gente) dizendo que daqui 5 anos (era 2001) o rock alternativo brasileiro estaria bem mais forte e estabilizado. E eu não estava errado. Para lhe falar verdade, eu só aconselharia uma banda a se arriscar em Londres, se os membros dessa banda fossem bem amigos e certos de si. Não é fácil ser uma banda imigrante, a não ser que venha já com tudo resolvido, ai é outra história. Vi muita banda vir do Brasil durante esses sete anos e te digo que 99% não sobreviveu ao impacto cultural e todas as coisas loucas que acontecem morando aqui.

O RETORNO FINANCEIRO É MAIOR? COMO ERA O COTIDIANO DE UMA BANDA INDEPENDENTE NO EXTERIOR?
Não, a não ser que seja uma banda pop na mídia, que não é o nosso caso. Estamos ligados no mundo artístico por aqui, seja ele de shows ao vivo ou design gráfico. Nosso cotidiano era basicamente parecido com o do Brasil, divididos entre tocar, ensaiar e gravar. Mantivemos um noite semanal por aqui também, chamado Goonite Club por quatro anos que cresceu bastante. Agora são três bares semanais e o clube não pode parar, Márcio Custodio (Dj e promoter de São Paulo que reside aqui) é quem vai cuidar da noite assim que formos embora.

PORQUE A DECISÃO DE REVISITAR OS ANOS 90 COM O DISCO NATIONAL INDIE HITS? TALVEZ UMA FORMA DE IDENTIFICAÇÃO COM O PASSADO E OS ANTIGOS FÃS?
Sim, pode ser. Tenho muitas ideias na cabeça e às vezes vem umas pérolas como essa, modestamente falando. Estava um dia ouvindo uns CDs enviados pela minha mãe, do Brasil, e me inspirei quando ouvi “Prescious Love” da “finada” Low Dream de Brasília. Me deu um estalo e todo o conceito do álbum ecoou dentro da minha cabeça. Nem todas as bandas que queríamos gravar conseguimos, pois o tempo era curto entre as gravações dos outros trabalhos que estávamos fazendo desde 2005.

OS DISCOS DE INÉDITAS – SHE SCIENCE E THE LONG-TERM MEMORY OF NA EXPERIENCE – CARREGAM QUE REFERÊNCIAS? SÃO MUITO DIFERENTES ENTRE SI? E PORQUE LANÇAR DOIS DISCOS NUM ESPAÇO DE TEMPO TÃO CURTO?
As referências são a nostalgia, memórias, Ciências, o relacionamento entre amigos, Espaço, a conquista e os sonhos que surgem e se transformam em ideias e planos. São um pouco diferentes entre si, porém foram gravados juntos. Na queríamos lançar um álbum duplo e nem lançar dois ao mesmo tempo, então como estaremos tocando bastante no Brasil este ano decidimos lançá-los separadamente, mas em datas próximas.

by stuart nicholls

COMO SERÃO ESSES LANÇAMENTOS AQUI? MUITAS BANDAS ANDAM APOSTANDO NUMA DIVULGAÇÃO ATRAVÉS DA WEB GRANDE, SEJA ATRAVÉS DO LANÇAMENTO DE FAIXAS OU MESMO O DOWNLOAD GRATUITO. PENSAM EM FAZER ALGO À RESPEITO?
Gostamos de lançar álbuns mais conceitais, mas nada impede que alguma música seja lançada diferente, seja em vinil single ou MP3. A internet é livre as músicas viajam separadamente de qualquer forma. Não tem nenhum esquema de mercado ou estratégia comercial envolvida não.

JÁ SABEMOS QUE A BANDA ADORA O JESUS AND MARY CHAIN – VOCÊ SE DECLAROU INCLUSIVE UM OBCECADO. COMO FOI PARTICIPAR DA COLETÂNEA-TRIBUTO?
Na verdade você deve estar confundindo a banda que sou obcecado, eu ouvi muito JMC muito tempo atrás. Adoro a banda, sem dúvidas, mas não sou obcecado por eles. Gravar Some Candy Talking foi na verdade um pedido do Robin Allport, um dos donos da ClubAC30, que quando convidou sugeriu JMC e eu achei fantástico, afinal foi deles a primeira cover que tocamos ao vivo no inicio e JMC continuou sendo grande referência do Wry. Participar da coletânea é bem legal pois nos expõe a pessoas que gostam do estilo que fazemos fora do Brasil.

ANTES DE TERMINAR, QUAL BANDA LÁ FORA QUE VOCÊS ACHAM QUE SEUS FÃS BRASILEIROS DEVERIAM CONHECER? E QUAL A QUE VOCÊS ESTÃO CURIOSOS PARA CONHECER AQUI DO BRASIL?
As bandas inglesas Master & Servant que misturam vários estilos musicais distintos, a barulheira do The Real Sound of the Infrasound e do Amusement Parks on Fire e a beleza sonora da Helena (banda). Adoro a banda Aspen de São Paulo, não vejo a hora de conhecê-los ao vivo.

A PRIMEIRA COISA QUE FARÃO QUANDO CHEGAREM DE VEZ AO BRASIL?
Divulgar o novo álbum, She Science.

Encontrou um erro? Fale com a gente

Editor